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    O que Kamala Harris significaria para o Vale do Silício como vice-presidente

    Senadora pela Califórnia, cujo eleitorado inclui o Vale do Silício, Harris tem experiência em questões de tecnologia

    A senadora Kamala Harris, escolhida para ser candidata a vice na chapa de Joe Biden
    A senadora Kamala Harris, escolhida para ser candidata a vice na chapa de Joe Biden Foto: Mike Blake/Reuters (19.mai.2019)

    Brian Fung,

    do CNN Business

    Com a senadora Kamala Harris escolhida como candidata a vice-presidente dos EUA pelo Partido Democrata, o Vale do Silício pode respirar um pouco mais aliviado, pelo menos por enquanto.

    Durante quase quatro anos, os principais democratas e republicanos atacaram o setor de tecnologia com alegações de violações antitruste, preconceito político e críticas de como grandes plataformas online lidavam com privacidade e desinformação.

    O próprio candidato a presidente Joe Biden está entre os críticos mais ferozes da Big Tech – alfinetando o Facebook sobre desinformação e propaganda política, e pedindo a revogação de um escudo legal fundamental para o setor.

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    Mas a escolha de Kamala Harris para vice-presidente já está dando motivos para otimismo a alguns que operam no setor de tecnologia e agregados. Senadora pela Califórnia, cujo eleitorado inclui o Vale do Silício, Harris tem experiência em questões de tecnologia.

    Suas conexões com executivos da área incluem doadores poderosos como o conselheiro-geral da Amazon, David Zapolsky e o cofundador do LinkedIn, Reid Hoffman. Na terça-feira (11), a COO (diretora de operações) do Facebook, Sheryl Sandberg escreveu que a provável indicação de Harris “é um grande momento para mulheres e meninas negras em todo o mundo – e para todas nós”.

    “Ela é uma ótima escolha para o setor de tecnologia”, disse Matt Tanielian, cofundador do Franklin Square Group, uma empresa de lobby com sede em Washington que representa a Apple, Dropbox, eBay e outras. “Não porque eu acho que ela vai de repente transformar a tecnologia de volta no setor querido que ela foi no passado, mas porque ela conhece seus problemas muito bem. Ela não se deixa influenciar nos temas difíceis”.

    Naquela que talvez seja a questão mais urgente para a indústria de tecnologia, Harris também contrasta fortemente com a senadora Elizabeth Warren, sua antiga rival na disputa presidencial democrata e outro nome na lista de Biden de candidatas a vice. Enquanto Warren defendia a separação de gigantes da tecnologia como Amazon e Google, levando outros candidatos presidenciais a fazer o mesmo, Harris nunca endossou a ideia.

    “Acredito que as empresas de tecnologia precisam ser regulamentadas de uma forma que possamos garantir e o consumidor norte-americano possa se assegurar que sua privacidade não está sendo comprometida”, respondeu Harris quando o New York Times perguntou de forma direta se ela achava que a Amazon, o Facebook ou o Google deveriam ser separados em empresas menores.

    Nesta questão específica, pelo menos, pode não importar quem é o vice escolhido, dado o número de investigações antitruste de tecnologia em andamento. “A exposição regulatória já está muito avançada” para os gigantes da tecnologia, disse Jason Kint, CEO da Digital Content Next, uma associação de editoras que critica fortemente o Google e o Facebook. “E eu acho que, independentemente de quem seja o candidato a vice-presidente, o regulatório vai se mover em um ritmo rápido.”

    Os vice-presidentes nem sempre têm impacto direto nas políticas. Mas outros candidatos que foram preteridos, incluindo a senadora Warren, ainda poderiam ter mais impacto se fossem escolhidos para assumir também um cargo de gabinete. Ainda assim, cada escolha de vice envia uma mensagem pública sobre como um governo em potencial pode definir prioridades ou abordar certas questões. Abaixo, listamos algumas áreas-chave nas quais os especialistas em tecnologia dizem que Harris pode desempenhar um papel significativo.

    Privacidade e proteção de dados

    Kamala Harris pode não ter se manifestado sobre desmantelar os gigantes da tecnologia em empresas menores, mas ela é considerada uma das principais líderes no mundo político em questões de privacidade do consumidor.

    Sua experiência em questões de privacidade ressurgiu durante uma tensa conversa com o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, quando ele depôs no Senado, em 2018. Harris pressionou Zuckerberg para dizer se o Facebook havia decidido deliberadamente não contar aos usuários sobre a violação de dados feito pela Cambridge Analytica quando a gigante da mídia social soube do ocorrido.

    Em 2012, como procuradora-geral da Califórnia, Harris elaborou um acordo com a Apple, Google e outras plataformas de tecnologia exigindo que elas permitam que os consumidores acessem as políticas de privacidade dos aplicativos antes de baixá-los. Mais tarde naquele ano, ela enviou cartas para dezenas de desenvolvedores de aplicativos alertando que eles não estavam em conformidade com as regulamentações de privacidade da Califórnia e que enfrentavam multas de até US$ 2.500 por violação.

    Desde então, a Califórnia aprovou uma das leis de privacidade de dados mais rígidas do país, mas ainda não há um padrão federal de privacidade. Para Susan Hintze, uma advogada especializada em privacidade e sócia da Hintze Law, a senadora pode servir como um elo crucial entre a Casa Branca e o Capitólio em temas de privacidade, dada sua experiência com o tema como legisladora.

    “Muitas pessoas não percebem que ela construiu sua carreira política defendendo as questões de privacidade, com o pano de fundo do mundo da tecnologia”, afirmou. “Suspeito que, como vice-presidente, ela pode continuar essa luta e podemos ver mais iniciativas de privacidade em nível federal”.

    Criptografia e aplicação da lei

    Como ex-procuradora-geral e promotora, Harris está intimamente ligada à aplicação da lei, e seu histórico sobre questões de polícia e justiça foi examinado profundamente durante as primárias democratas.

    Para o Vale do Silício, esse aspecto do histórico de Harris pode representar a maior fonte de incerteza. Como senadora, ela apoiou um pacote de projetos de lei contra o tráfico sexual conhecido como SESTA/FOSTA, ao qual muitos na indústria de tecnologia se opuseram porque ele diluiu as proteções de responsabilidade para plataformas online. Joe Biden já havia pedido uma revogação completa dessas mesmas proteções, que foram incluídas na Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações. A questão de como Harris como vice-presidente pode influenciar essa agenda está em aberto, considerando seu voto anterior.

    Enquanto isso, uma das principais prioridades do FBI e do Departamento de Justiça tem sido o acesso às comunicações criptografadas de suspeitos de crimes, um problema que causou uma cisão entre Washington e o Vale do Silício. Tecnólogos argumentam que dar à polícia acesso especial para ler mensagens criptografadas enfraqueceria a privacidade e a segurança de todos.

    Até agora, a senadora ficou em cima do muro nesse tópico. Ela evitou escolher um lado no impasse de 2016 entre a Apple e o FBI sobre o desbloqueio do iPhone criptografado do atirador de San Bernardino (cujo ataque matou 16 pessoas em dezembro de 2015). Mas, como uma potencial tomadora de decisões em um governo Biden, ela pode não ter mais esse luxo.

    Kamala Harris pode enfrentar dilemas semelhantes sobre outras questões de tecnologia relacionadas ao policiamento. Reconhecimento facial, inteligência artificial, vigilância por drones – todos esses temas provavelmente se tornarão questões importantes que Harris pode precisar discutir durante a administração de Biden.

    Trabalho remoto, imigração e bom governo

    Alguns especialistas dizem que Harris não deve ficar sobrecarregada com questões políticas específicas; em lugar disso, ela deve desempenhar um papel mais importante em tópicos gerais como imigração, propriedade intelectual e acesso à banda larga, que também são importantes para a indústria de tecnologia.

    Esses tipos de questões estão mais intimamente relacionados à tarefa geral enfrentada por um potencial governo Biden, que será continuar administrando as consequências econômicas da pandemia.

    “Como criamos uma economia vibrante e como fazemos justiça social em um mundo de tudo remoto?”, perguntou Blair Levin, ex-chefe de gabinete da Federal Communications Commission. “Isso provavelmente será um problema fundamental de tecnologia no próximo governo”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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