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    Nota de R$ 200: o que daria para comprar com esse valor no início do Plano Real

    Em 1994, cesta básica custava R$ 64 e ônibus R$ 0,50; mas salário mínimo era R$ 64 e metade dos trabalhadores ganhava menos que R$ 300

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    As notas de R$ 100 devem perder em breve o posto de cédula de maior valor do país que ostentam desde julho de 1994, quando começou o Plano Real. Em agosto, deve entrar em circulação o mais novo membro da família, anunciado nesta semana pelo Banco Central: as notas de R$ 200, ilustradas pelo lobo-guará.  

    Entre as razões citadas pelo Banco Central para a nova cédula, está a necessidade de estimular as pessoas a deixarem de guardar dinheiro em casa e usá-lo. É um efeito que caiu drasticamente com a pandemia e que pode atrapalhar a economia do país, já que reduz também o total de moeda circulando em compras e vendas.  

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    A inflação – razão histórica para a criação de notas mais altas no passado hiperinflacionário brasileiro – não entrou para o topo da lista de justificativas do BC. É fato, entretanto, que, apesar de os preços estarem bem comportados agora, eles já subiram bastante nesses 26 anos de vida da moeda.  

    O IPCA, índice oficial de inflação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta uma alta geral dos preços de 521% desde o primeiro dia do Plano Real. 

    Isso significa que ter uma das novas notas de R$ 200 no bolso em 1994, caso elas já existissem, seria uma sensação parecida à de carregar, hoje, R$ 1.242 (o valor de R$ 200 da época corrigidos pela inflação). Da mesma maneira, o que hoje custa R$ 200 saía por R$ 32, na média.

    A tarifa do ônibus na cidade de São Paulo, por exemplo, que é de R$ 4,40 em 2020, custava R$ 0,50 em julho de 1994. A cesta básica, hoje calculada em mais de R$ 400, custava R$ 64.  

    Por outro lado, se o país era bem mais barato, era também bem mais pobre, e ter R$ 200 era um luxo a que quase a metade da população não tinha acesso. O primeiro salário mínimo do Plano Real foi de R$ 64,79, e cerca de 40% dos trabalhadores viviam com menos do que R$ 200 por mês. 

    Veja, a seguir, o que dava para fazer com esse valor nos primórdios do Plano Real e quanto isso significava em relação à renda do brasileiro, de acordo com dados levantados pelo CNN Brasil Business

    Dava para comprar 3 cestas básicas 

    Completar uma cesta básica em julho de 1994 custava em média R$ 64, de acordo com levantamento feito desde então pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A nota de R$ 200 seria o suficiente para comprar três delas e ainda sobrar um troco.  

    Em junho de 2020, o valor para comprar a mesma cesta estava em R$ 473, de acordo com o Dieese. Os R$ 200 não compram mais nem metade dela.  

    Um levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas (Fipe) à pedido do CNN Brasil Business mostrou que, com R$ 200, era possível montar uma cesta básica com 166 peças de pão, leite, carne, frango, arroz e feijão. Aos preços de hoje, dá para levar 16 das mesmas coisas.

     

    Metrô R$ 0,60 e gasolina R$ 0,50 

    O transporte também era uma pechincha para as nossas referências de hoje. Na cidade de São Paulo, as viagens de ônibus custavam R$ 0,50 e, as de metrô, R$ 0,60.  

    Os R$ 200 comprariam 400 bilhetes do primeiro e 333 do segundo. No caso do ônibus, é viagem suficiente para ir e voltar do trabalho por mais de 9 meses, considerada a média de 21 dias úteis por mês. 

    Hoje tanto o ônibus quanto o metrô custam R$ 4,40 – embora com a vantagem de que, desde 2004, há integrações gratuitas ou com desconto entre os modais na capital paulista.  

    Já para o carro, os R$ 200 rendiam algo como 400 litros de gasolina no tanque, considerado um preço próximo de R$ 0,50 por litro que consta em notícias da época.  

    Hoje, o preço médio da gasolina no país está em R$ 4,13 por litro, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP). É 726% mais que em 1994. Com os R$ 200, dá para abastecer 48 litros – 88% menos.     

    Salário mínimo de R$ 64 

    O problema: o número de brasileiros que não ganhavam nem R$ 200 para o mês inteiro era enorme.  

    O salário mínimo começou o Plano Real valendo R$ 64,79, ou seja, essas pessoas precisariam de mais de três meses para conseguir inteirar uma nota de R$ 200 no bolso.  

    E elas eram muitas: de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, 14,9 milhões de adultos, ou 20% da força de trabalho do país, recebiam menos de um salário mínimo em 1995 (o IBGE não realizou a Pnad em 1994). 

    E, se R$ 200 compravam mais de três cestas básicas, o salário mínimo acabava inteiro com uma – o valor dele e o da cesta de alimentos, de R$ 64 na conta do Dieese, era o mesmo. 

    Hoje o mínimo é de R$ 1.045, ou aumento de 1.512% (quer dizer, 16 vezes maior). É bem mais que os 521% da inflação.  

    O salário mínimo atual dá ao trabalhador o direito de receber quatro novas notas de R$ 200 por mês. Além de conseguir comprar duas cestas básicas inteiras, pelos valores do Dieese. 

    40% ganhava menos de R$ 200 

    Ainda de acordo com Pnad de 1995, 40% de todos os trabalhadores do país tinham uma renda mensal de até dois salários mínimos. Em 1995, o salário mínimo chegou a R$ 100, o que significa que esse batalhão de gente – 30 milhões de pessoas – vivia com até R$ 200 por mês. 

    Considerados os que recebiam até R$ 300 (três salários mínimos), chegava-se a metade da força de trabalho.

    Já a renda média de todos os trabalhadores, também de acordo com os dados de 1995 do IBGE, era de pouco mais do que isso: R$ 368.  

    Em 2019, esta renda havia subido para R$ 2.308. As metodologias do IBGE mudaram no meio do caminho e os valores não são comparáveis, mas seria uma alta de 527% – empate técnico com a inflação (521%). 

    Em 2019, 10% dos trabalhadores tinham renda inferior a R$ 374. Metade do total ganhava até R$ 1.260. 

    R$ 200 de 1994 são R$ 1.242 hoje 

    O real passou a ser a moeda oficial do país em 1º de julho de 1994. De lá até o fim de junho de 2020, dado mais recente do IPCA, a inflação acumulada no país é de 521,2%. 

    A inflação, na prática, é o aumento médio nos preços de mais de 300 itens verificados todos os meses pelo IBGE em todo o país, do pãozinho e o café até corte de cabelo e pernoite de motel.  

    Esse aumento significa que, no geral, para comprar todas as mesmas coisas que R$ 200 compravam em julho de 1994, seriam necessários R$ 1.242 em junho de 2020. 

    A conta inversa também é verdadeira: o que hoje precisa de R$ 200 para ser comprado, custava ao todo R$ 32,20 em 1994. 

    Ou seja, a nova nota de R$ 200 era o equivalente a três de R$ 10 e duas de R$ 1 – as de R$ 2 e de R$ 20 ainda não existiam. Foram criadas em 2001 e 2002. As de R$ 1 acabaram em 2005.  

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