Pandemia fez empresas se reinventarem, mas foi preciso aliar racionalidade e ousadia
Desafios trazidos pela crise sanitária se transformaram em experiência e oportunidades
Nem o mais experiente dos executivos podia imaginar qual seria o seu maior desafio de gestão. Uma pandemia sem precedentes, causada por um vírus transmitido por vias respiratórias, abalou as convicções e ideias pré-concebidas. O mundo foi obrigado a se distanciar. E, com isso, negócios precisaram ser repensados para se adequar ao novo momento.
Durante o Fórum de Economia CNN – ‘Os desafios de um Brasil essencial’, Flávio Augusto, da Wiser Educação, Roberto Fulcherberguer, da Via, Cleber Morais, da Amazon Web Services (AWS), e Leonardo Macedo, da Nanica Brasil, conversaram com a analista de economia da CNN Thais Herédia sobre como foi o processo de reinvenção para eles nesse momento de incertezas.
“O essencial para se reinventar é ter coragem, ousadia, é sair da zona de conforto”, disse Leonardo. A Nanica Brasil, que vende tortas doces, foi aberta um pouco antes de a pandemia chegar ao Brasil. Leonardo contou que teve que repensar, com a crise sanitária, como levar a experiência de loja para a casa dos clientes.
Assim ele criou os doces para que fossem fotografados e as imagens compartilhadas nas redes sociais, o que se mostrou um grande trampolim para o sucesso da recém-criada empresa. A princípio, as chamadas ‘ghost kitchen’, cozinhas criadas apenas para o delivery, passaram a vender mais que a loja física. “Tivemos que adaptar o nosso produto para ser um produto de delivery”.
Essa reinvenção para o mundo virtual também teve que ser feita pela gigante Via, grupo dono da Casas Bahia e Ponto Frio. “Em março de 2020, criamos em uma semana o serviço de vendas por whastapp”, revelou Roberto Fulcherberguer.
“Nunca pensamos em ter vendedores em home office. Ainda mais em um momento em que as vendas online representavam 17% na Via, e apenas 8% dos consumidores faziam compras online”. Roberto acredita que, para se reinventar, além de ousadia, foi preciso ter agilidade. “É importante ter a capacidade de tomar decisões aceleradas para continuar os negócios”, acredita.
Flávio Augusto, da Wiser, calcula que cada empresa que se manteve ativa após a pandemia precisou passar por reinvenções. Mas ele destacou que foi preciso, além de ousadia e agilidade, ter calma, racionalidade. “A pandemia pegou todo mundo de surpresa. Então tem que manter o equilíbrio. Há um timing para tomar decisões e você só tem uma chance.
Mas todas que se reinventaram precisaram do suporte da tecnologia. Esse foi o papel da AWS. “A AWS foi o grande habilitador dessa transformação digital”, diz Cleber, sobre os serviços em nuvem prestados pela subsidiária da Amazon.
Legado
Os participantes foram uníssonos ao destacar o valor da experiência que o período da crise sanitária provocou. A capacidade adaptativa está entre elas. “A degustação da vida digital foi acelerada uns sete a 10 anos nesse período. Entraram novos meios de pagamentos, as empresas aprenderam a lidar com o online, os consumidores perderam o medo do e-commerce”, avaliou Flávio.
O executivo conta que, na Wiser, o grande legado foi a forte expansão da rede de escolas, que tem alunos em mais de quatro mil cidades do país, ante 180 no período pré-pandemia. Assim como a ampliação do escopo da rede, que saiu do ensino de idiomas para cursos voltados à empregabilidade, como o de ‘Comunicação e Oratória’, oferecido de forma gratuita e que atraiu mais de 900 mil inscritos.
Para Leonardo, foi a chance de entender que seu produto poderia ser feito para o delivery, mas que, ainda assim, a Nanica conseguiu abrir lojas físicas.
O relacionamento com o cliente foi o ponto principal na Via. “Criamos 23 mil vendedores por aplicativo e essa experiência, de humanizar o comércio online, continua e deve crescer. O relacionamento é a base do nosso negócio”, contou.
Roberto relatou que o período representou na Via a maior concessão de crédito massificado para pessoas sem comprovação de renda da história da empresa. “Transformamos 60 anos de história de concessão de créditos e digitalizamos isso. A mesma experiência do carnê, foi agora para o online.”
Cleber Morais destaca o papel dos serviços em nuvem, do pequeno ao grande negócio, que permeia todas as transações. “A jornada da empresa e do consumidor começa e termina na nuvem. Toda a inovação que está acontecendo foi baseada em nuvem. As empresas chegaram aonde chegaram pela tecnologia”.
Empreendedorismo
Quando se fala em reinvenção, a pandemia equilibrou esse desafio para as pequenas ou grandes empresas, mas, o espírito empreendedor se destacou em ambas ao se reinventarem. “Para mim, os fins são os mesmos. Os meios que mudam. O fim de qualquer negócio é trazer uma solução para uma necessidade”, acredita Flávio. “As cartas foram embaralhadas e, neste momento, o clichê da crise como oportunidade nunca foi tão real”, conclui.
“A dimensão do grande e do pequeno ficou meio difusa”, disse Roberto, da Via. E, pergunta ele, “como uma empresa do tão grande como a Via se reinventa nesse ambiente? Estando 100% focada na necessidade do cliente.”
Segundo Roberto, atender a essas necessidades dos consumidores significa também incluir os pequenos varejistas. “Não vemos os empreendedores como adversários. Pelo contrário. Queremos que se somem a nós, queremos que sejam parceiros”.
Leonardo destaca “Acredito muito no nosso país e nas pessoas daqui. Acho que cada um, no seu tamanho, vai fazer a diferença de alguma forma”, disse Leonardo.
Futuro
Para os executivos, o futuro ainda vai carregar muitos dos aprendizados com a pandemia. Na Nanica, por exemplo, a ideia é continuar conciliando os diferentes canais. “Após entendermos que nosso produto poderia ser para o delivery, de investirmos forte em ‘ghost kitchen’, por ironia, estamos abrindo mais lojas. Abrimos sete no período da pandemia”, afirmou.
Leonardo orienta que, para quem quer empreender, é importante entender que há os períodos de baixa também. “Ninguém começa acertando em tudo. As pessoas precisam entender o período de ‘vale’”.
Cleber Morais aponta que a barreira mais imediata do mundo dos negócios pós-pandemia será a capacitação de mão-de-obra, principalmente no aspecto cultural de agilidade e velocidade que o novo tempo exige. “O Brasil vale a pena. E, para isso valer, que existem 400 mil vagas hoje no mercado de tecnologia.”