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    ONU: empresas se preocupam com diversidade, mas não promovem inclusão efetiva

    Pesquisa inédita mostra que 87% das empresas querem ser reconhecidas por valorizar diversidade, mas proporção cai quando se trata de preparar ambiente

    Mylena Guedesda CNN , Rio de Janeiro

    Uma pesquisa inédita realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma das agências das Nações Unidas (ONU), mostra que a maior parte das empresas no Brasil pensa em ampliar a diversidade entre os funcionários, no entanto, ainda não promovem a real inclusão de refugiados, negros, deficientes, pessoas LGBTQIA+, ex-presidiários e da população acima dos 50 anos.

    O levantamento, lançado nesta quarta-feira (10), revela que 87% dos entrevistados dizem que as empresas têm o desejo de serem reconhecidas por valorizar a diversidade. No entanto, a proporção cai quando se trata de preparar o ambiente: 60% dos ouvidos dizem que as instituições desenvolvem programas de inclusão.

    Segundo os dados da OIT, mais da metade dos entrevistados (55,71%) afirmam que as empresas onde trabalham estão muito preocupadas com a inclusão de grupos marginalizados no ambiente corporativo. Já cerca de 34% das pessoas afirmam que a companhia está preocupada em parte, e outras 10% garantem que não há essa preocupação no local de trabalho.

    À CNN, Maite Schneider, coordenadora do Somos Diversidade e cofundadora do TransEmpregos, projeto de empregabilidade de pessoas transgêneras, afirma que muitas instituições sabem o quanto a diversidade é positiva, mas ainda precisam quebrar mitos e tabus.

    “Esses grupos que mapeamos não chegam nem na porta de entrada, quem diria entrar e se manter dentro da empresa. É muito raro isso acontecer, e está acontecendo há pouquíssimo tempo. As instituições sabem que é importante a diversidade, que é bom para o negócio, mas pouco se faz ainda”, diz Schneider.

    “Muita gente acha caro, não sabe como começar ou fazem de maneira obrigada, porque a matriz é fora do país e já havia uma política de inclusão estabelecida. Inclusive, várias políticas exercidas no Brasil são uma cópia do que é feito lá fora, sem levar em conta a diversidade interna que já existe no mercado brasileiro”.

    Cerca de 78% dos entrevistados afirmaram que suas empresas divulgam vagas encorajando a candidatura desses grupos, ainda que não anunciem de forma constante.

    Schneider destaca, no entanto, que as instituições ainda estão abaixo do nível esperado tanto no recrutamento dessas pessoas, quando na entrada e permanência delas na firma.

    “Os processos seletivos dificultam a entrada dessas pessoas de todas as maneiras. Infelizmente, as empresas não estão preparadas para atrair talentos. Para se ter uma ideia, na Transempregos, 40% dos currículos têm graduação, mestrado e doutorado. E várias empresas não estão preocupadas em atrair esses talentos. E mesmo que sejam recrutados, as pessoas não dão benefícios, como políticas inclusivas ou ações afirmativas internas. Além disso, as vezes os ambientes hostis ainda fazem que as instituições percam esses talentos, porque é um ambiente sem segurança psicológica e de desvalorização”, ressalta Maite.

    Ainda segundo o levantamento, 99% dos trabalhadores afirmam que o grupo menos representado dentro das empresas são as pessoas que saíram do sistema penitenciário. Em seguida, aparecem os migrantes (96,36%) e transsexuais (93,33%).

    De acordo com a Técnica em princípios e direitos fundamentais no trabalho para América Latina e Caribe, Thais Faria, é fundamental que a empresa enxergue e enfrente os preconceitos em relação a esses grupos específicos, que são ainda mais excluídos. Ela afirma que somente por meio de políticas afirmativas direcionadas para esse público é possível alcançar o equilíbrio dentro do trabalho.

    “Esses dados não são importantes somente para nós, das Nações Unidas, mas também para governos locais e outras iniciativas. Assim, é possível fomentar políticas públicas e internas das empresas. A pesquisa mostra que até no processo de inclusão, tem pessoas que não são incluídas. Por exemplo, não adianta trabalhar com a população LGBTQIA+ e só empregar homens gays brancos. A gente precisa trabalhar com toda diversidade”, afirmou Thais Faria.

    Perspectivas para o futuro

    As perspectivas futuras são melhores. Aproximadamente 80% dos participantes acreditam que o número de pessoas que fazem parte dos grupos marginalizados tende a aumentar nos próximos dois anos.

    “Quando você tem um ambiente diverso, você não precisa falar em inclusão. A inclusão só existe quando tem a exclusão. Então o grande objetivo é que você tenha um ambiente diverso para todas as pessoas e não um processo ainda de inserção, como temos que fazer agora”, destacou Faria.

    A pesquisa intitulada “Diversidade Aprendiz” entrevistou 362 funcionários no setor de serviços, indústria e comércio do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Ao todo, cerca de 69% trabalhadores são de empresas de médio ou grande porte, com mais de 500 empregados.

    “Apesar do número ser muito inferior à representatividade real, uma preocupação fundamental da pesquisa foi ter uma variedade das pessoas entrevistadas e dos ramos de atuação das empresas. Essa talvez seja uma das primeiras pesquisas que a gente tem nessa área, que mostra um pouco a realidade do mercado de trabalho, tanto do lado dos funcionários quanto das empresas”, afirmou a técnica da Organização Internacional do Trabalho.

    *Sob supervisão de Helena Vieira

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