Novos hábitos abrem janela para empreender, diz diretor do Google
O estudo, obtido com exclusividade pelo CNN Brasil Business, revela aumento expressivo de interesse em março e abril em três categorias de produtos e serviços
Diz o clichê empresarial que, na crise, enquanto uns choram, outros vendem lenços. Se isso for verdade, é fundamental saber identificar as oportunidades que surgem em momentos como o atual. Foi com essa ideia em mente que o Google for Startups preparou um estudo que pudesse identificar mudanças nas preferências e no comportamento das pessoas em meio à pandemia do novo coronavírus.
O estudo, obtido com exclusividade pelo CNN Brasil Business, revela um aumento expressivo de interesse em março e abril em três categorias de produtos e serviços – e em empresas que atuam nesses segmentos: (1) serviços considerados essenciais, como delivery de alimentos; (2) os que prestam serviços financeiros; e (3) os que ajudam na nova rotina em que as pessoas passam mais tempo dentro de casa.
As informações foram coletadas a partir das buscas compiladas pelo Google Trends nos dois meses acima citados em comparação com a média dos 12 meses anteriores.
Veja a seguir alguns dos principais resultados:
“O estudo revela a combinação de dois elementos. Um são tendências que a gente já sabia que poderiam se destacar, como o delivery. E o outro é a combinação dessa busca com a relevância demonstrada por algumas startups, algo que surpreendeu porque demonstra que elas ganharam a percepção do público de que são serviços quase que essenciais”, diz André Barrence, diretor do Google for Startups Brasil.
Ao tratar das startups, Barrence faz referência a empresas que tiveram um salto nas buscas dos consumidores. Veja abaixo as que mais se destacaram em suas respectivas áreas de atuação.
Algumas startups com forte aumento nas pesquisas já se destacavam e estavam bem posicionadas para o momento. É o caso da Mobly, uma das maiores empresas de e-commerce de móveis do país. O avanço de 52% nas buscas foi acompanhado de um aumento de 20% na taxa de conversão dessa pesquisa em vendas. “Demos visibilidade no site para itens mais procurados, como cadeiras e mesas de escritório, e passamos a comprar esses produtos de outras empresas para garantir que teríamos estoque, uma vez que eles são em geral importados e demoram para chegar ao país”, diz Victor Noda, cofundador da Mobly.
Na fintech Olivia, que faz uso de inteligência artificial para oferecer orientação financeira para as pessoas, os sócios perceberam que muitos dos usuários passaram a procurar uma nova função para a ferramenta “fale com um humano”. Em vez de problemas usuais como falhas no aplicativo, os novos clientes – as buscas pelo nome da empresa saltaram 87%, com uma taxa de conversão de 15% a 20% mais alta – pediam ajuda com perguntas como “o que faço para investir?” ou “como pagar o cartão de crédito?”.
Daí veio a decisão de oferecer respostas a essas perguntas, justamente o conteúdo que muitos usuários procuram porque faz mais sentido a eles neste momento de crise e incertezas.
“Muitas pessoas perderam o emprego e a renda. Outras mantiveram, mas estão mais preocupadas em cuidar melhor do que possuem, cortando gastos não essenciais e poupando para emergências. Ampliamos o leque de público e ganhamos escala”, afirma Lucas Moraes, cofundador da Olivia. O crescimento acelerado fez a startup atingir a marca de 200 mil usuários no fim de abril, três meses antes do planejado.
“Quem já estava se preparando para o momento de aumento da demanda soube aproveitar a crise para acelerar investimentos ou desenvolvimento de produtos e fazer frente a essa oportunidade”, resume Barrence. Mas ele adverte que é um trabalho que vai além da conquista. “Essas startups precisam continuar entregando uma experiência que gere confiança ao usuário, um nível de serviço que possa fidelizá-lo.”
A ascensão das EdTechs
O estudo também revelou a busca por novos hábitos digitais, como o estudo e o acesso a conteúdo à distância. “Tanto as famílias como os estudantes, as organizações, as escolas e as universidades tiveram que se adequar muito rapidamente a essa nova realidade. E aí as EdTechs (como são chamadas as startups de ensino), como plataformas de conteúdo digital para desenvolver habilidade, encontraram um espaço para que pudessem disparar nas buscas”, afirma o diretor do Google.
Barrence diz acreditar que serviços de educação à distância devem sustentar um patamar de penetração superior ao pré-crise. “Várias pessoas perceberam que é possível contar com um modelo de ensino digital ou híbrido, em que o digital terá relevância na entrega de valor”, afirma.
Mercado a ser ocupado
Várias startups apresentaram aumento nas buscas na ordem de 20% e 25%, mas não entraram no estudo porque foi colocado uma espécie de nota de corte de 30% de incremento nas pesquisas. São empresas igualmente bem posicionadas para aproveitar a oportunidade da crise.
Barrence pondera que, apesar do interesse revelado pelas buscas, algumas categorias não possuem players ou startups digitais que ocupem esse espaço. “Isso mostra que há oportunidades para empresas ou startups inovadoras desenvolverem soluções que possam fazer frente a esse interesse crescente das pessoas.”
Ele cita como exemplo o aprendizado de idiomas.
“A dica principal para os empreendedores é que fiquem atentos ao comportamento dos usuários e às tendências que começam a se consolidar”, afirma o diretor do Google for Startups, que, em seguida, justifica: “Os novos hábitos do novo normal ainda estão em processo de formação e ainda não dá para ter 100% de certeza de quais vieram para ficar e quais ainda vão passar por adaptações.”
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