Iuri Pitta: o desafio de fechar contas e governar com base em dados
Se o governo quer mesmo ter como praxe a revisão sistemática de políticas públicas com base em evidências, é preciso deixar no passado velhos vícios, como transparência até a página quatro ou medidas no apagar das luzes
O ministro Fernando Haddad é óbvia peça-chave da política econômica do governo, mas foi surpresa positiva como articulador em momentos decisivos do ano que se encerra nesta semana.
Como ato final de 2023, Haddad apresentou o que chamou de propostas de Estado, e não de governo, para que a máquina pública funcione melhor e retome a capacidade de planejamento orçamentário.
Falou em avaliar políticas públicas e corrigi-las, após evidências de que não funcionaram como se esperava. Portanto, revê-las seria uma questão de justiça tributária.
A mensagem não foi entendida assim. Ao anunciar uma medida provisória para reonerar a folha de pagamento dos 17 setores desonerados, contrariando a derrubada de um veto pelo Congresso Nacional, Haddad contratou grita tanto de senadores e deputados, quanto de entidades empresariais.
O mesmo se viu e ouviu do setor de eventos e sobre os limites para compensações tributárias de grandes empresas, ambos previstos na MP pré-virada de ano.
Contribuiu para amplificar o ruído após a última coletiva de Haddad na Esplanada dos Ministérios o fato de que o texto da medida provisório propriamente dito ainda não deixou o Palácio do Planalto para o devido escrutínio público.
Se o governo quer mesmo fazer o que preconiza a literatura e ter como praxe a revisão sistemática de políticas públicas com base em evidências, o que seria uma elogiável resolução de ano novo, é preciso deixar no passado velhos vícios, como transparência até a página quatro ou medidas inesperadas no apagar das luzes.