Esqueçam os elevadores: Thyssenkrupp quer ser protagonista no hidrogênio verde
A marca alemã conhecida por seus elevadores vendeu o negócio por bilhões e agora está de olho em um mercado com potencial de US$ 2,5 trilhões até 2050
O que você faz quando entra em um elevador? Muitos se olham no espelho, outros ficam impacientes esperando a porta abrir e, quando ele está cheio, muitos sequer esboçam qualquer reação. Mas se um curioso começasse a observar quem produzia os elevadores, muito provavelmente se depararia com a marca da alemã Thyssenkrupp, que era uma das líderes globais do setor e também no Brasil.
No entanto, se antes a empresa era um sinônimo de produto, agora quer ser conhecida por um segmento ainda desconhecido no Brasil, mas que é visto como um grande potencial em todo o mundo: o hidrogênio verde.
Na verdade, a Thyssenkrupp abandonou de vez o setor de elevadores. Em fevereiro do ano passado, a operação de elevadores foi vendida por quase US$ 19 bilhões para um consórcio formado pelo fundo Advent, pela Cinven e também pela Fundação Ragg. Logo, os elevadores, de fato, ficaram no passado. Mas por que hidrogênio verde?
Segundo o presidente da companhia na América do Sul, Paulo Alvarenga, esse pode ser o combustível do futuro. Ele é obtido pela eletrólise da água. De maneira bem sucinta, é uma corrente elétrica que serve para separar o hidrogênio do oxigênio na água. E como o hidrogênio possui três vezes mais energia do que a gasolina, se torna um combustível poderoso. Detalhe: como ele libera somente água na forma de vapor após a eletrólise, trata-se de uma energia limpa.
Além de substituir a gasolina, o hidrogênio verde pode ajudar outros setores, como a siderurgia e a agropecuária. Na Alemanha, por exemplo, já se usa o hidrogênio verde como substituto do carvão para a redução de ferros na indústria siderúrgica. Além disso, combinado com o gás carbônico que é resultado do processo de fermentação do etanol, por exemplo, é possível produzir ureia, que é um fertilizante de alto valor agregado.
Parece algo incrível para o futuro e realmente é – o próprio empresário Bill Gates já elogiou esse combustível recentemente. Mas existem alguns poréns em todo o processo. Até agora, a produção ainda é muito cara e também demanda muita energia para que ocorra.
Por isso, Alvarenga sabe que o protagonismo do hidrogênio verde será somente visto no futuro. Porém, as expectativas são enormes. De acordo com estimativas da consultoria Hydrogen Council, o hidrogênio verde poderá ter um mercado de US$ 2,5 trilhões em 2050 e será responsável por 20% de toda a demanda de energia do mundo.
E como a Thyssenkrupp se encaixa nisso? A empresa está a procura de um “novo elevador”, ou seja, um novo segmento para chamar de seu. Mas, para isso, ele sabe que o hidrogênio verde precisa de mais escala. Ele admite que, por ora, ainda se trata de um combustível pouco competitivo e pede ajuda de governos para que se torne viável o mais rápido possível.
Precisamos de incentivos nos primeiros anos para que haja essa economia de escala. O governo alemão, por exemplo, criou um plano nacional
Paulo Alvarenga, CEO da Thyssenkrupp
Até agora, a companhia já possui mais de 600 projetos na área que chegam a uma potência total instalada de 10 GW. O maior deles tem data para estreia. Em 2025, a companhia irá inaugurar uma planta na Arábia Saudita com a estatal local ACWA Power, com investimentos de cerca de US$ 7 bilhões.
Segundo Alvarenga, é possível que o Brasil consiga ter investimentos desse porte. O Brasil, por ser um país abundante em água, está no centro das atenções da Thyssenkrupp.
O Brasil tem um potencial de ser um grande celeiro mundial de energia e a grande avalanche será fazer de maneira competitiva
Paulo Alvarenga, CEO da Thyssenkrupp
Mas e o presente?
Após deixar de lado um dos setores mais importantes para o seu faturamento, a Thyssenkrupp também se voltou para ganhar espaço em outros setores em que atua há bastante tempo. Um deles é o de defesa naval. No Brasil, a empresa é a responsável por quatro fragatas Classe Tamandaré para a Marinha do Brasil.
Por isso, em 2020, a companhia comprou o estaleiro Oceana, em Itajaí (SC). Quer dizer, desde o início deste ano, o local foi batizado de Brasil Sul.
Além disso, a companhia tenta se recuperar no setor automotivo. Quer dizer, juntamente como o setor. Com a pandemia, as vendas de carro despencaram. Hoje, segundo a empresa, nove em cada dez veículos fabricados aqui têm equipamentos da Thyssenkrupp, desde componentes para motor e suspensão até direção elétrica.
Por outro lado, a companhia conseguiu compensar a queda com o bom momento da mineração por aqui no Brasil. Cerca de 80% do minério de ferro extraído por aqui passa por equipamentos da empresa, diz Alvarenga.
É desta maneira que a Thyssenkrupp quer colocar o Brasil em um lugar mais protagonista dentro do conglomerado. A operação da América do Sul, em que o Brasil tem grande participação, faturou R$ 3 bilhões no ano passado. No total, representa cerca de 2% das receitas do grupo como um todo. Em um passado não tão distante, essa fatia era de 5%.
Obviamente, a valorização do euro e do dólar frente ao real ajudou nessa perda de protagonismo. Mas é isso o que Alvarenga pretende mudar.
“Existem oportunidades em todos os lugares do mundo, mas o Brasil sem dúvida é aquele que tem um potencial gigantesco”, diz ele. A conferir.