Costa brasileira tem vantagens para geração de energia eólica e de hidrogênio verde, diz CEO da Vestas
Vestas é considerada a maior fabricante de equipamentos para geração de energia eólica fora da China
A costa brasileira tem as maiores vantagens comparativas para a geração de energia eólica e de hidrogênio verde, e é para cá que os grandes cargueiros devem convergir para abastecer. Essa fonte de energia sustentável e barata deve abastecer a indústria já a partir da próxima década.
A aposta é de Henrik Andersen, CEO da Vestas, a maior fabricante de equipamentos para geração de energia eólica fora da China. O grupo também tem uma unidade de negócios dedicada ao hidrogênio.
Andersen esteve no Brasil nos últimos dias, visitando a fábrica da Vestas em Aquiraz, no Ceará, e também o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, no Rio de Janeiro. E conversou com a CNN no escritório da Vestas em São Paulo.
“Tive uma conversa com Jean Paul Prates sobre como a política em relação à energia eólica e hidrogênio será formatada no Brasil”, disse Andersen.
“Conversamos sobre como o mercado pode ser desenvolvido no Brasil. Eu tenho uma experiência global e posso fornecer input sobre onde funciona bem. Espero poder inspirá-lo sobre onde buscar inspiração em outros países que estão embarcando em um caminho semelhante.”
O executivo diz, no entanto, que o Brasil já tem uma regulação mais atraente do que, por exemplo, a Europa, onde a burocracia trava a implantação de novos parques eólicos. Por isso, segundo ele, o continente não está substituindo no ritmo esperado o gás russo, alvo de sanções, por energia eólica.
A eletricidade gerada pelo vento passará a ser usada não só para abastecer as residências e indústrias, mas também para gerar energia do hidrogênio. A eletrólise, que separa o hidrogênio do oxigênio, requer eletricidade.
Se essa energia for renovável, o hidrogênio é considerado verde. É aí que entram os parques eólicos do Norte e Nordeste do Brasil, para abastecer os navios que gerarão a energia do hidrogênio do oceano.
“O hidrogênio é uma das tecnologias que recebem mais investimento no setor da transição energética hoje”, observa Andersen.
“A eletrólise está ganhando escala e vai acontecer nesta década. Em 2030, indústrias como siderúrgicas, transporte e navegação terão feito não uma transformação completa, mas os primeiros passos na direção dela.”
“Estou muito animado com o Brasil”, afirma o executivo. “O Norte eo Nordeste vão potencialmente se tornar um hub de energia de hidrogênio, que será transportado em dutos para instalações industriais em outras partes do Brasil, ou dará lugar a novas indústrias nos lugares onde a energia de hidrogênio estiver disponível. Quanto mais perto os consumidores estiverem de onde a energia é produzida, maior a eficiência.”
Ele diz que a América Latina é uma das regiões de custo mais baixo de geração de energia eólica e de hidrogênio. “Tem vantagens comparativas para oferecer ao resto do mundo, porque, se você observa as rotas dos grandes cargueiros, eles terão de parar, tipicamente na costa leste da América Latina, para se abastecer com energia verde.”
A Coreia do Sul está aumentando sua oferta de energia eólica off shore, e lá ela custa de 4 a 5 vezes mais do que aqui, analisa o CEO da Vestas.
“Então lá eles têm dependido muito de energia nuclear e carvão, que é altamente poluente.” Por isso, diz ele, os cargueiros darão preferência para abastecer na América Latina.
O setor cresce dois dígitos (10% ou mais) por ano na América Latina e na Ásia, de acordo com Andersen. Apenas 1% da matriz energética mundial é eólica.
A fatia dominante ainda é a energia fóssil. “Não vai mudar para 50% em dez anos. Mas estamos ainda no início, ainda há muito por vir.”
A Vestas foi responsável pela instalação da primeira turbina de energia eólica no Brasil, em 2000, diz Andersen. Em 2016, a empresa montou a fábrica em Aquiraz, no Ceará, que também funciona como hub para a América Latina.
A Vestas gera 2 mil empregos diretos e cerca de 8 mil indiretos na região, metade no Brasil. “O fornecimento de energia gera empregos permanentes”, orgulha-se o executivo.
“Em 2019, quando me tornei CEO, conheci 70 brasileiros que estavam sendo treinados na Dinamarca para trabalhar em vendas na Vestas na mesma semana em que havíamos anunciado a redução de funcionários na Dinamarca.”
Ele justifica as contratações no Brasil dizendo que é preciso ter filiais perto de onde estão os clientes. “Não pretendemos exportar componentes da Dinamarca ou da Europa. Por isso temos fábrica no Brasil.”
Há aqui uma comparação velada com a China, que fornece para o mundo todo equipamentos de energia solar fabricados em território chinês.
“Estive na sexta-feira em Fortaleza e ver todos aqueles colegas trabalhando lá é a realização de um sonho”, conta Andersen.
“Meu pai foi operário de fábrica a vida toda. Para mim, ver empregos permanentes numa indústria que está aqui para fazer o próximo século é um testemunho de como trabalhamos na Vestas mas também uma alegria para essas famílias.