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    ‘Não vou interferir no mercado’, diz Bolsonaro sobre preço do arroz

    Presidente assegurou que não irá tabelar alimentos e citou importação

    Anna Satie, da CNN em São Paulo

    O presidente Jair Bolsonaro negou nesta quinta-feira (10) a possibilidade de interferir no preço dos alimentos, após uma forte alta sobre o custo de itens básicos para o consumidor. 

    “Eu não vou interferir no mercado, o que tem que valer é lei da oferta e da procura”, disse. “Ninguém quer interferir em nada, tabelar nada, isso não existe. A gente sabe que, uma vez interferindo, desaparece da prateleira e a mercadoria aparece no câmbio negro muito mais caro”. 

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    Presidente Jair Bolsonaro em transmissão nas redes sociais
    Presidente Jair Bolsonaro em transmissão nas redes sociais
    Foto: Reprodução/Facebook (10.set.2020)

    Ele afirmou que conversou com o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, para autorizar que os serviços de Defesa do Consumidor possam questionar os supermercados sobre o aumento.

    O presidente também disse ter conversado com os ministros Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura) e que o país irá importar 400 mil de toneladas do grão sem imposto de importação. 

    Bolsonaro atribuiu a alta ao auxílio emergencial e aumento na demanda. “O pessoal começou a consumir um pouquinho mais, mas um pouquinho por milhões de pessoas ajudou a sumir o produto das prateleiras”, afirmou. 

    Ele também citou a alta do dólar e diz ter conversado com equipe econômica para ver o que poderia ser feito para abaixar o valor da moeda. ‘”Legalmente, obedecendo as regras do mercado”, garantiu. 

    Por que os preços subiram?

    Existem quatro grandes motivos para que essas altas tenham acontecido. O primeiro foi a mudança de comportamento do consumidor, que deixou de comer fora para cozinhar em casa, o que fez a demanda por produtos da cesta básica crescer.

    A demanda internacional por alimentos também causou alta dos preços. A China, principalmente, decidiu aumentar o nível de estoque de alimentos. Isso fez com que o valor de diversos produtos aumentasse – e bastante. 

    Além disso, o aumento de renda do brasileiro, muito puxado pela distribuição do auxílio emergencial, ajudou a população a ter mais acesso a alimentos – o que aumentou a procura sem, necessariamente, haver demanda suficiente para isso. 

    Por último, o dólar valorizado frente ao real fez com que os produtos brasileiros ficassem mais baratos para exportação. Inclusive, ajudou a abrir novos mercados para os produtores brasileiros – até mesmo os de arroz. 

    “Essa mudança de patamar de preço vai se manter e mesmo assim não enxergo o arroz como um produto caro”, diz Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul. “Uma família de quatro pessoas gasta R$ 20 para se alimentar a semana inteira, enquanto um refrigerante custa R$ 7.”

    Por causa da alta dos preços, a Associação Brasileira de Procons pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o monitoramento das exportações. E disse estar de olho para evitar que haja reajustes muito altos nesse período de pandemia. 

    Por meio de uma carta, a associação afirma que faz o “acompanhamento e o monitoramento dos mercados, com adoção de medidas adequadas que garantam a defesa do consumidor, através do reequilíbrio entre as exportações e abastecimento do mercado interno”.

    Produtores sorrindo 

    Muito concentrada no Rio Grande do Sul, a produção de arroz no Brasil sempre foi vista como menos competitiva às de países como Uruguai, Argentina e Paraguai.

    Porém, com a alta da demanda pelo produto, os produtores até passaram a aumentar as áreas de plantio para o arroz, que estava perdendo espaço para outros produtos mais rentáveis, como soja e milho. De 2015 a 2018, a redução do espaço para plantio do arroz foi de 9%. Para este ano, é esperada uma expansão de até 5%.

    “Podemos expandir para novos mercados, dependendo de como o dólar se comportar”, diz Velho, da Federarroz. 

    Segundo dados do Ministério da Economia, as exportações de arroz sem casca, processado pela indústria de transformação, subiram 58,1% este ano até agosto na comparação com o mesmo período de 2019, totalizando US$ 276,9 milhões.

    As exportações para a África do Sul entraram no mapa, tendo chegado a US$ 9,6 milhões, ante nenhuma venda em igual período do ano passado. As vendas para os Estados Unidos também subiram 233,2%, a US$ 18 milhões. 

    Os principais destinos das vendas do produto brasileiro, contudo, foram Peru (US$ 42,6 milhões) e Venezuela (US$ 35,6 milhões). Para o Peru, as exportações subiram 28,9% e para a Venezuela, 165,5%. As importações de arroz processado, por outro lado, caíram 11,4% nos oito primeiros meses do ano, a US$ 135,6 milhões.

    Para dar conta da demanda interna, o governo vai zerar a tarifa de importação para 400 mil toneladas de arroz.

    “Com isso, o mercado vai se equilibrar e a gente afasta o risco de um possível desabastecimento”, disse Tereza Cristina, ministra da Agricultura, em entrevista à CNN.

    Diante de números tão positivos, os produtores de arroz estão muito longe de reclamar dessa decisão que beneficia os seus competidores. 

    (Com Reuters)