Mudanças climáticas podem afetar produção de café no Brasil, diz estudo
Café arábica deve ser "drasticamente" menos adequado para o cultivo nas atuais regiões produtoras de café até 2050
Más notícias para os amantes de café: as mudanças climáticas tornarão muito mais difícil o cultivo do café arábica nos próximos anos, de acordo com um estudo publicado na quarta-feira (26) na revista científica Plos One.
O estudo examinou como as condições de cultivo do café mudarão até 2050, de acordo com projeções de vários modelos climáticos globais.
Os resultados mostram que as plantas de café serão “drasticamente” menos adequadas para o cultivo nas atuais regiões produtoras de café até 2050, devido aos impactos das mudanças climáticas.
O café arábica, utilizado pela Starbucks e outros grandes vendedores de café, já requer uma colheita minuciosa que precisa de condições específicas para prosperar.
Atualmente, as áreas mais adequadas para o cultivo de café estão na América Central e do Sul, particularmente no Brasil, assim como na África Central e Ocidental e partes do Sul e Sudeste Asiático, de acordo com o estudo de Roman Grüter e outros na Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, na Suíça.
Nos próximos 28 anos, os impactos projetados das mudanças climáticas nessas áreas irão torná-las muito menos favoráveis à cafeicultura, de acordo com o relatório.
“Os principais países produtores de café investigados (Brasil, Vietnã, Indonésia, Colômbia) são todos gravemente afetados pelas mudanças climáticas com uma forte diminuição das áreas adequadas (…) e um aumento das áreas inadequadas até 2050″, de acordo com o relatório, que observa que temperaturas mais altas tornam mais difícil o cultivo de café.
O estudo também analisou como a mudança climática afetará as condições de crescimento da castanha de caju e do abacate. Para esses itens, o aumento da temperatura poderia criar novos ambientes de crescimento viável em algumas áreas, de acordo com o relatório.
O café, entretanto, “provou ser o mais vulnerável, com impactos climáticos negativos dominando em todas as principais regiões em crescimento”, o estudo descobriu.
Os autores concluíram que para as três culturas, “a adaptação à mudança climática será necessária na maioria das principais regiões de cultivo”. Isso poderia incluir variedades de cultivo mais bem adaptadas às novas condições.
E, no caso do café, isso também pode significar a mudança para os grãos Robusta, que são mais resistentes, mas produzem grãos que são geralmente considerados de qualidade inferior aos grãos Arábica.
“Na pior das hipóteses, isso também poderia significar que os agricultores teriam que mudar para uma cultura diferente”, disse Grüter à CNN Business, acrescentando que é “difícil dizer quando e onde isso vai acontecer”.
Algumas empresas já estão se preparando para mudar as condições. A Starbucks, por exemplo, está distribuindo variedades de café resistentes ao clima para agricultores e trabalhando para proteger florestas de risco em áreas importantes de cultivo de café, entre outras iniciativas.
Os preços do café disparam
Os preços do café já subiram devido ao mau tempo.
A seca severa e as geadas incomuns no Brasil, o maior fornecedor mundial de grãos de café, fizeram com que os preços futuros do café subissem muito.
Os preços do café a varejo nos EUA subiram 6,3% no ano passado, abaixo da inflação geral. As principais empresas de café, incluindo a Starbucks, compram o café com bastante antecedência a preços fixos. Mas, eventualmente, os aumentos de preços afetarão os consumidores. Uma oferta menor só irá exacerbar a situação.
O café é apenas uma categoria de alimentos afetados por condições climáticas extremas. Secas, tempestades e geadas, uma vez raras ou desconhecidas em algumas áreas, estão se tornando a norma em regiões agrícolas ao redor do mundo, dificultando o planejamento antecipado dos agricultores, causando estragos no abastecimento de alimentos e aumentando os preços.