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    Morte da rainha Elizabeth II pode desvalorizar libra, dizem especialistas

    Avaliação é de que a monarca representava estabilidade política e econômica para o Reino Unido

    Na quarta-feira (7), a libra britânica caiu para o valor mais baixo em 37 anos em relação ao dólar
    Na quarta-feira (7), a libra britânica caiu para o valor mais baixo em 37 anos em relação ao dólar Toby Melville/Reuters

    Pedro Zanattado CNN Brasil Business

    em São Paulo

    A morte da rainha Elizabeth II pode ser mais um fator para a desvalorização da libra esterlina, a moeda britânica, avaliam especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business.  

    A monarca, que morreu nesta quinta-feira (8), aos 96 anos, representava, na avaliação deles, grande estabilidade política e econômica para o reino.

    O professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) Vinícius Rodrigues Vieira explica que, com a crise inflacionária, energética e as crises políticas envolvendo, por exemplo, a Escócia e Irlanda do Norte – ambas com possibilidades de movimentos de independência no longo prazo após a morte de Elizabeth -, a libra esterlina pode sofrer com uma desvalorização e os custos de vida podem aumentar ainda mais. 

     

    “No caso da Escócia, eles queriam se tornar independentes, mas mantê-la [Elizabeth] como monarca, portanto, é um sinal de que a população britânica não é necessariamente monarquista, ela é “elizabethista”. Ela está reinando a 70 anos, então a ideia de monarca é ela. Alguém com menos prestígio terá uma grande dificuldade para conquistar a população”, afirma Vieira.

    Na quarta-feira (7), a libra caiu para o valor mais baixo em 37 anos em relação ao dólar. A moeda caiu 0,5%, para uma baixa de US$ 1,14, em um patamar inferior ao de março de 2020, quando a pandemia de Covid-19 começou.

    O possível impacto na moeda britânica soma-se ao contexto complexo de crise energética e aumento do custo de vida.

    Em julho, a inflação no Reino Unido atingiu um novo recorde de 40 anos em julho, superando a marca de 10% pela primeira vez desde 1982. O resultado fez com que especialistas revisassem as previsões inflacionárias para o país.

    Segundo um economista do banco norte-americano Citi, o índice de preços ao consumidor britânico deve atingir um pico de 18% –nove vezes a meta do Banco da Inglaterra– no início de 2023.

    O reino também sofre com a pressão sobre os custos de energia por ser altamente dependente do gás natural em sua matriz energética. O custo da commodity aumentou vertiginosamente por conta da guerra na Ucrânia e da diminuição das exportações russas para a Europa.

    Em agosto, o órgão regulador informou que as contas de energia no Reino Unido saltarão 80% para uma média de US$ 4.188 por ano a partir de outubro.

    Já nesta quinta-feira, a primeira-ministra do Liz Truss anunciou que o governo limitará os preços domésticos de energia para residências e empresas, com objetivo de fornecer alívio a uma crise de custo de vida antes do inverno europeu.

    Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP, diz que o Reino Unido já vem de uma situação econômica complicada e que pode piorar, na avaliação dele, nos próximos meses por conta da chegada do inverno e, a morte da rainha Elizabeth, pode ser mais um fator de insegurança para a economia local. 

    Para Lehmann, a monarca representava estabilidade e continuidade, dois fatores importantes para uma economia. “Então, a transição que vai ocorrer agora em relação ao Chefe de Estado me parece mais um elemento de incerteza”, disse.

    O professor menciona que os dias de luto oficial – quando comércios e serviços não funcionam ou funcionam minimamente – podem afetar minimamente os resultados do PIB inglês, mas que, segundo ele, não deve ser um impacto “catastrófico”.

    Vinícius Vieira lembra ainda que o novo rei, Charles III, tem uma personalidade menos discreta do que Elizabeth, logo, ele pode tentar interferir em pautas como a questão ambiental.

    “Charles é super fã de questões sobre o aquecimento global. Então ele pode interferir em uma política ambiental mais ambiciosa, algo que, claramente, Liz Truss não quer fazer, até por conta dos altos custos de energia”, explica. 

    Contudo, ambos concordam que Charles deve exercer o papel de unificador e pacificador, uma vez que o país já se encontra mergulhado em uma crise econômica.

    “Focar neste aspecto seria bom para a economia, é melhor não se envolver em questões politicas, mas estar lá para representar a continuidade e a estabilidade do estado”, diz Kai Enno Lehmann.