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    Moeda da China tem desempenho melhor que o dólar mesmo com problemas econômicos

    Alta nas exportações e busca maior por títulos chineses justificam maior valorização do yuan dos últimos três anos

    Alta excessiva do yuan pode prejudicar exportações, e governo já tomou medidas para evitar isso
    Alta excessiva do yuan pode prejudicar exportações, e governo já tomou medidas para evitar isso Thomas White/Ilustração/Reuters

    Laura Hedo CNN Business*

    A China está lutando contra uma economia em desaceleração, mas sua moeda raramente foi mais forte. O yuan também está superando o dólar americano neste ano, mesmo com o banco central dos Estados Unidos se preparando para aumentar as taxas de juros. Então, qual a causa desse fenômeno?

    A moeda chinesa disparou mais de 8% em 2021, de acordo com um índice que acompanha o desempenho do yuan em relação a outras 24 moedas. Com base nesse indicador – o índice CFETS RMB – ela está apenas 0,26% abaixo de seu recorde anterior, estabelecido em novembro de 2015.

    O yuan também ganhou espaço em relação ao dólar. Ele subiu entre 2,4% e 2,8% este ano em relação ao dólar – dependendo se ele é comercializado na China ou no exterior.

    Ambas as versões estão agora em seus níveis mais altos em relação à moeda norte-americana em três anos ou mais. O câmbio offshore atualmente é comercializado a 6,34 yuans por dólar, um nível não visto desde maio de 2018.

    Em dezembro, o ganho do yuan este ano foi “o melhor do mundo”, disse Marc Chandler, diretor-gerente da Bannockburn Global Forex, uma firma de negociação de mercados de capitais com sede em Ohio, nos Estados Unidos.

    As exportações em alta e os investidores perseguindo retornos comparativamente atraentes nos títulos do governo chinês estão por trás do aumento “apesar do crescimento econômico mais fraco”, de acordo com Becky Liu, chefe de estratégia macro para a China no Standard Chartered Bank.

    O forte desempenho da moeda pode continuar em 2022, mesmo com a economia da China lutando contra a inflação nas fábricas, uma grande desaceleração no mercado imobiliário e uma repressão regulatória em curso visando seu setor privado.

    Liu espera que o yuan se valorize para 6,3 por dólar nos primeiros meses do próximo ano. Analistas do Goldman Sachs sugerem que o mesmo poderia acontecer no primeiro semestre de 2022, por motivos semelhantes.

    Em 2014, o yuan offshore atingiu quase 6,01 em relação ao dólar, seu nível mais alto desde que a China realizou uma reavaliação histórica de sua moeda em 2005.

    Existem vantagens nessa tendência. Quanto mais forte o yuan, maior a probabilidade dos bancos centrais manterem grande parte da moeda em reserva, promovendo seu uso global. Também poderia ajudar a baratear as importações e conter a alta inflação. A China compra muitas commodities que são cotadas em dólares.

    Mas há uma desvantagem muito grande se a moeda se valorizar muito rapidamente. Por mais fortes que sejam as exportações chinesas agora, uma moeda mais cara também poderia fazer com que essas exportações se tornassem menos competitivas no exterior.

    Dado o quão vital o comércio tem sido para a economia chinesa, isso poderia ameaçar uma recuperação já frágil.

    Exportações fortes

    A economia da China foi atingida nos últimos meses por interrupções no transporte marítimo e pelo agravamento da crise imobiliária. Uma forte crise de energia, que desde então diminuiu, também contribuiu para a expansão da economia em sua taxa mais fraca em um ano no último trimestre.

    Mesmo assim, as exportações chinesas se mantiveram bem. Os embarques da China chegaram a US$ 325,5 bilhões em novembro, um salto de 22% em relação ao ano anterior, de acordo com estatísticas do governo divulgadas na terça-feira (7). As exportações nos primeiros 11 meses do ano aumentaram 31%, para mais de US$ 3 trilhões – mais do que todo o ano de 2020.

    Analistas atribuíram esse desempenho principalmente ao fortalecimento da demanda por produtos chineses à medida que o mundo se recupera da pandemia do coronavírus.

    A China, que adotou uma abordagem de tolerância zero para a Covid-19, também evitou em grande parte a interrupção sofrida por exportadores rivais, como Vietnã e Indonésia, por causa de surtos de coronavírus.

    A principal razão para o aumento do yuan é a quantidade de dinheiro que está fluindo para a China, em grande parte graças ao aumento das exportações, disse Larry Hu, chefe de economia da China no Macquarie Group.

    Ele disse que é provável que as exportações continuem fortes mesmo que o mundo responda à variante Ômicron do coronavírus, “se a experiência com a variante Delta neste verão servir de guia”.

    Analistas do Standard Chartered também disseram na semana passada que as exportações da China poderiam aumentar com o aumento da capacidade de embarque dos Estados Unidos. Eles apontaram em uma nota de pesquisa que as restrições a essa capacidade devem diminuir à medida que mais portos dos EUA aumentarem as operações.

    Apostando alto em títulos chineses

    Outro motivo para a alta do yuan, segundo analistas, é o entusiasmo internacional pelos títulos chineses.

    O valor dos títulos denominados em yuans mantidos por investidores internacionais subiu pelo oitavo mês consecutivo em novembro, para 3,9 trilhões de yuans (US$ 620 bilhões), de acordo com o Banco Popular da China.

    Os investimentos globais em títulos chineses aceleraram depois que o FTSE Russell, o provedor do índice global, em outubro adicionou os títulos do governo chinês ao seu carro-chefe do World Government Bond Index. Esse é um dos benchmarks de títulos globais mais usados ​​do mundo.

    Analistas do ANZ esperam que a inclusão da China no índice gere cerca de US$ 130 bilhões em investimentos em títulos do governo chinês nos próximos três anos. Eles também estimaram que os investidores estrangeiros possuirão 4 trilhões de yuans (US$ 625 bilhões) em títulos onshore da China até o final deste ano.

    “As preocupações com os riscos de queda para as perspectivas de crescimento de curto prazo da China não impedirão os investidores estrangeiros de aumentar sua alocação em ativos chineses, em nossa opinião”, escreveram os analistas em um relatório de pesquisa no mês passado.

    Os investidores globais estão buscando retornos “atraentes” com os títulos do governo chinês, acrescentaram. A China agora oferece um rendimento de 10 anos de 2,9%, em comparação com o rendimento de 10 anos do Treasury dos Estados Unidos, de 1,44%.

    Os analistas do ANZ esperavam que esses títulos mantivessem seu apelo, ajudados pela baixa volatilidade do yuan, que ainda não é comercializado totalmente livre de intervenção governamental.

    Estabilizando a alta do yuan

    E Pequim ainda pode intervir para frear a rápida valorização do yuan.

    O Banco Popular da China anunciou na quinta-feira (9) que aumentaria a taxa de exigência de reserva de moeda estrangeira de 7% para 9% – o segundo aumento na taxa este ano.

    A medida forçará as instituições financeiras chinesas a manter mais dinheiro estrangeiro em reserva e tem sido amplamente interpretada como uma tentativa de moderar a alta do yuan.

    “Este é um dos sinais mais fortes” de que o banco central está desconfortável com o ritmo de valorização do yuan, escreveram Gaurav Garg e Philip Yin, analistas do Citi, em um relatório nesta sexta-feira (10).

    O banco central já havia alertado no mês passado que as instituições financeiras e empresas deveriam se abster de fazer apostas “especulativas” sobre o yuan. Analistas disseram que os reguladores temem que, se o yuan for muito forte, isso prejudicará a competitividade dos produtos chineses em todo o mundo.

    Os mercados financeiros também podem ser abalados por um rápido influxo de capital se a moeda se valorizar muito rapidamente.

    “É desejável que o [yuan] permaneça amplamente estável [para] as autoridades chinesas, em nossa opinião”, disse Liu, do Standard Chartered.

    Ainda assim, Liu espera que as chances de que a China implemente “intervenções diretas pesadas” permaneçam baixas, como a compra direta de dólares e a venda de yuans.

    Uma ou duas altas nas taxas de juros nos EUA também podem tirar um pouco do calor do yuan, já que a China segue na direção oposta na política monetária em uma tentativa de impulsionar o crescimento.

    “Ainda esperamos ganhos adicionais no yuan, mas em um ritmo muito mais gradual”, escreveram analistas do Goldman Sachs em um relatório de pesquisa no mês passado, observando que os “principais parceiros comerciais” da China começaram a endurecer as políticas.

    *(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original, em inglês)