Ministros de Brasil e Venezuela se encontram para debater compra de energia para Roraima
Encontro resultou na formação de um grupo de trabalho com MME, ONS e empresa responsável pelo setor elétrico da Venezuela, a fim de endereçar questões relativas à compra
O ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, se reuniu na segunda-feira (23) com o ministro da Energia Elétrica venezuelano, Nestor Luis Reverol Torres, para discutir a compra de energia da usina hidrelétrica de Guri para Roraima.
O encontro, que aconteceu em Caracas, resultou na formação de um grupo de trabalho com representantes do MME, do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da empresa responsável pelo setor elétrico da Venezuela.
A ideia do grupo é acelerar as tratativas entre os países, endereçar procedimentos, requisitos técnicos e acordos operativos. A expectativa é de que em novembro sejam iniciados os testes de carga e transmissão de energia para o Brasil.
“Vamos reduzir o impacto ao meio ambiente, diminuindo o uso das termelétricas a óleo diesel, que ainda são mais caras. Estamos prevendo uma economia R$ 10 milhões por mês para o consumidor brasileiro ao utilizar menos combustível fóssil”, afirmou Silveira.
O presidente Lula assinou decreto em agosto para que o Brasil voltasse a comprar energia da usina de Guri, na Venezuela. Nos primeiros meses de gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o fornecimento foi interrompido e não mais retomado.
Roraima se mantém como o único estado ainda desconectado do Sistema Interligado Nacional (SIN). Até o começo de 2019, a maior parte do atendimento aos consumidores locais era feita por meio da transferência de energia de Guri.
As obras de ligação de Roraima ao SIN foram autorizadas durante viagem do presidente Lula e do ministro Alexandre Silveira a Parintins, no Amazonas, em agosto, e já se iniciaram. A expectativa é de que o Estado seja interligado ao SIN até julho de 2025.
Energia em Roraima
Na avaliação de Silveira, houve “extremismo ideológico” do governo anterior e quem saiu perdendo foram os consumidores brasileiros. De acordo com o ministro, a energia da Venezuela custa cerca de R$ 100 por megawatt-hora (MWh) e tem um benefício ambiental, por ser totalmente renovável.
Com o corte do abastecimento, Roraima passou a contar basicamente com usinas térmicas movidas a óleo combustível e a gás natural. O preço da energia chega a R$ 1.100 por megawatt-hora e 46 caminhões-tanque de óleo são necessários por dia para abastecer somente uma dessas usinas, afirmou o ministro.
A usina de Guri, com 10.200 megawatts (MW) de potência instalada, está entre as dez maiores do mundo. Uma linha de transmissão, que liga Boa Vista ao complexo hidrelétrico, foi inaugurada pelo brasileiro Fernando Henrique Cardoso e pelo venezuelano Hugo Chávez em 2001. Ela pode escoar até 200 MW para Roraima.
Outro “linhão”, leiloado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) há pouco mais de uma década, conectaria Manaus a Boa Vista. As obras nunca começaram porque afetam a terra indígena do povo Waimiri-Atroari.
Integração no continente
O decreto assinado por Lula inclui amplia as possibilidades de intercâmbio de energia elétrica com países que fazem fronteira com o Brasil.
Entre as medidas, inclui como competência do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), definir orientações para o estabelecimento de políticas nacionais de integração do sistema elétrico e de integração eletroenergética com outros países.
Assim, visa harmonizar o campo de atuação do MME e do CNPE.
Atualmente, o Brasil realiza intercâmbios internacionais de energia elétrica com a Argentina e com o Uruguai, além do Paraguai, por meio da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu.