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    Milei ameaça estrutura do Mercosul, mas reforma do bloco é mais provável que saída da Argentina

    Candidato vencedor de prévias critica duramente o bloco de forma pública

    Danilo Moliternoda CNN , São Paulo

    Especialistas consultados pela CNN afirmam que a possibilidade de Javier Milei ser eleito presidente da Argentina é um risco real à estrutura do Mercosul. Mas indicam que uma “reforma” do bloco é mais provável que a saída do vizinho.

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem afirmando que Milei — vencedor das prévias no país vizinho — ameaça o bloco. O candidato argentino critica duramente o Mercosul de forma pública.

    Professor de relações internacionais da ESPM e economista, Roberto Georg Uebel confirma que Milei é risco não só ao Mercosul, mas a todas as instituições e fóruns internacionais dos quais a Argentina participa.

    “Não é um risco que se imagina ‘porque ele é um candidato de extrema-direita’. O Milei já deixou claro que vai cortar relações com a China, fechar o Banco Central e rever a participação da Argentina em fóruns internacionais, inclusive o Mercosul”, aponta.

    Alexandre Pires, professor de relações internacionais e economia no Ibmec-SP, pontua que, segundo o tratado do Mercosul, Milei precisaria de maioria absoluta no Congresso argentino para deixar o bloco.

    “Mesmo que Javier Milei seja eleito, ele não teria o condão de unilateralmente romper com o tratado. Mas seria mais uma presidência dentro do bloco sendo contrária à forma como o Mercosul está organizado”, diz.

    “Isso já aconteceu com o Jair Bolsonaro, tem acontecido no Uruguai [com Lacalle Pou]. Então, poderia enfraquecer o bloco. Não quer dizer que com isso caminhe para o fim. Mas talvez leve a uma reforma do bloco”, completa.

    Por outro lado, Paulo Vicente, professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e especialista em estratégia e gestão pública, diz acreditar que apesar do risco existir, é baixo, e que a “Argentina tem muito a ganhar sendo parte do Mercosul”, opina.

    “Pode ser parte de uma estratégia de campanha para se diferenciar e criar um ‘culpado externo’ pelos problemas da Argentina”, destaca.

    “Uma vez sentado no poder, ele vai ter tanto problema para resolver e tanta briga interna, que isso vai ficar pra um horizonte a perder de vista”.

    Pires reitera a condição. O especialista avalia como “difícil” a possibilidade de Milei articular maioria no congresso para aprovar a saída da Argentina. Acredita ser mais provável que o discurso se traduza em uma reforma da Tarifa Externa Comum (TEC).

    Mercosul-UE como “antídoto”

    Haddad afirma ainda que o acordo com a União Europeia pode tornar o Mercosul mais atraente e servir como “antídoto” ao bloco na possibilidade da eleição de Milei.

    Haddad diz temer impacto de possível eleição de Milei ao Mercosul / 31/8/2023 REUTERS/Adriano Machado

    Pires, do Ibmec, destaca que a expectativa é de que o acordo abra o mercado europeu para a entrada de commodities sul-americanas. Mas indica que a Argentina já é conectada com estes mercados hoje em dia.

    “A Argentina tem uma pauta exportadora interessante. Mas já é um país conectado com esses mercados. E talvez os ganhos não sejam tão interessantes como tem se projetado. Mas, sim, um grande acordo como este torna o Mercosul um pouco mais atraente, depois de anos sem nenhum novo tratado”, diz.

    Vicente, da FDC, destaca que, caso o acordo se concretize, “a negociação em bloco tornaria a Argentina mais forte, principalmente pelo fato da economia do país, isoladamente, estar em crise”.

    Para Uebel, independentemente do acordo, a hipotética saída da Argentina fragilizaria ainda mais a economia do país.

    “Afasta o país de mercados preferenciais e afasta de fóruns internacionais, como o G20, como o G77, como o Brics. Afasta a Argentina do mundo, caso se concretize a vitória de Milei”, diz.

    “Eu acho que o Mercosul tem problemas, mas minimamente favorece a integração internacional entre os vizinhos, permite a livre circulação de pessoas, revalidação de diplomas, favorece uma série de integrações no campo comercial, educacional, energético, científico, político. Ruim com o Mercosul, mas muito pior sem ele”, completa o especialista.

     

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