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    Mesmo com ações em baixa desde IPO, Boa Vista mantém aposta em aquisições

    Setor de análise de dados também deverá ganhar cada vez mais protagonismo e investimento na empresa

    Foto: Divulgação

    Matheus Prado, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A Boa Vista Serviços, um dos poucos birôs de crédito em atuação no país, já almejava abrir seu capital no início de 2019, antevendo a tal janela de IPOs que se aproximava no Brasil, mas não o fez porque o sindicato de bancos envolvido na operação aconselhou que a empresa aguardasse o início do ano seguinte para concretizar a entrada na B3. 

    No início de 2020, por motivos óbvios, não se abriu janela nenhuma. Com isso, o processo só foi retomado em junho, num momento em que havia forte expectativa em relação ao Cadastro Positivo e, principalmente, em relação ao crescimento do endividamento da população brasileira por conta do isolamento social.

    Dessa forma, o trâmite foi finalmente concluído em setembro com precificação de R$ 12,20 por ação, no centro da faixa. Assim, a empresa levantou R$ 2,17 bi (R$ 1,3 bi em oferta primária e mais R$ 870 mi em oferta secundária) e finalmente estreou na bolsa de valores nacional com o ticker BOAS3.

    O problema é que, desde então, os papéis da companhia fizeram o caminho contrário do Ibovespa. Enquanto o principal índice do mercado nacional subia 34,2% desde 30 de setembro (dia da estreia da Boa Vista) até o dia 7 de julho, as ações da empresa acumulavam queda de 23,87% no período.

    “Não sabemos dizer se a abertura de capital veio no momento certo, mas houve outras ofertas no período como a Petz. A grande questão, pelo menos para o nosso negócio, é que o auxílio emergencial trouxe uma retenção da inadimplência, o que fez com que a nossa performance fosse um pouco prejudicada”, diz Dirceu Gardel, CEO da Boa Vista, em entrevista ao CNN Brasil Business.

    “E, em 2021, tivemos notícias sobre vazamentos de dados que também atrapalharam. Não houve nada específico com a empresa, mas somos a única do setor com capital aberto no Brasil. Posto isso, e apesar do ano continuar desafiador, estamos trabalhando para entregar bons resultados.”

    No primeiro trimestre de 2021, a empresa reportou receita líquida de R$ 165,24 milhões, alta marginal de 0,6% na comparação com o primeiro trimestre de 2020 e queda de 4,1% em relação ao trimestre anterior. Já o lucro ajustado foi de R$ 26,01 milhões, o que representa uma alta de 35,2% na comparação com o resultado de 12 meses atrás e queda de 26,3% em relação ao quarto trimestre de 2020. 

    Entre as duas grandes verticais da empresa, “serviços para decisão” representou R$ 143,68 milhões da receita, com alta de 2,8% em um ano e queda de 0,4% em três meses; e, em “serviços de recuperação”, a receita gerada foi de R$ 21,56 milhões, com recuos de 12,1% e 23,0%, respectivamente.

    Para Gardel, o setor de recuperação se recupera primeiro. “O mercado está com um represamento muito grande em termos de pessoas endividadas, então essa parte deve vir primeiro. Mas, logo em seguida, com volume maior de vacinação, haverá a abertura completa da economia e voltam também os outros serviços.”

    Analytics

    Nascida em 2010 para administrar o SCPC, ou Serviço Central de Proteção ao Crédito, a Boa Vista tem como seus sócios a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), como controladora, a Associação Comercial do Paraná, o Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre, além da TMG Capital, como acionista gestor. 

    Mas, há muito tempo, deixou de ter somente uma faceta. E, para ampliar suas avenidas de crescimento, a empresa tem investido de duas formas. A primeira delas, fortemente orgânica, passa por uma maior estruturação da sua divisão de analytics, ou seja, produtos de tratamento e análise de dados que ampliam a vocação inicial da empresa.

    E um exemplo disso é a criação do Centro de Excelência em Analytics (CEA), apelidado de fábrica de algoritmos. A ideia é que os algoritmos ali criados elevem o patamar dos produtos e serviços que a empresa oferece em termos de análise de dados, dando mais precisão, agilidade e praticidade nas entregas.

    “Nosso forte é produzir conhecimento e criar modelos juntamente com os nossos clientes, porque hoje não adianta ter soluções genéricas. Por isso estamos investindo não só em capacitação, mas também para ter um parque tecnológico à altura. Nunca vamos deixar de cuidar da nossa base de dados, mas há outras áreas para explorar”, diz.

    Uma das soluções lançadas, por exemplo, é o Score de Propensão ao Financiamento de Motos Populares (PF). Com base em informações do histórico SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) e do Cadastro Positivo, a ferramenta busca identificar os consumidores propensos e os não propensos a aceitar um financiamento para a aquisição de uma moto popular.

    Aquisições

    A outra grande aposta da empresa para alavancar seus números, essa inorgânica, é através da aquisição de outras empresas. Até agora, a empresa comprou a fornecedora de soluções antifraude Konduto, por cerca de R$ 172 milhões, e a plataforma online de renegociação de dívidas, Acordo Certo, por um valor inicial de R$ 37 milhões.

    O executivo afirma que a Boa Vista tem outras 20 empresas no seu pipeline, e que deve concluir pelo menos mais uma aquisição nos próximos 12 meses. “Nos interessam plataformas que ajudem na aproximação com o consumidor, a exemplo do Acordo Certo, que ajuda em renegociações de dívidas”, diz.

    “Isso porque temos boas ofertas de produtos do lado do credor, e agora podemos ter um espaço mais amigável para o devedor também. Trata-se de uma possível nova faceta da empresa, atuando como um consultor financeiro do consumidor ao mesmo tempo que os aproximamos das marcas.”

    Cadastro Positivo

    Em abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei Complementar 166/2019, fazendo com que a adesão ao Cadastro Positivo se tornasse automática. Ou seja, toda população passou a ter seus compromissos financeiros coletados pelos birôs de crédito (a menos que pedissem para não fazer parte do processo), que por sua vez calculam o score, uma espécie de índice de bom pagador, de cada consumidor.

    À época, o movimento foi visto como revolucionário pelos Gestores de Bancos de Dados (GBD), Boa Vista inclusive, que esperavam melhorar e baratear a oferta de crédito no país, além de injetar até R$ 1,3 trilhão no mercado. “O cadastro começou a valer em 2013, mas não agregava tanto valor. A gente tinha 8 milhões de registros entre pessoas físicas e jurídicas”, diz Gardel.

    “Hoje já ultrapassamos a marca de 140 milhões de registros.” Nessa linha, oito anos depois da primeira versão da lei e dois anos depois de sua mudança estrutural, um relatório do Banco Central de abril de 2021 mostra que houve uma redução na média da taxa de juros paga pelo consumidor brasileiro. Os valores caíram, de agosto a dezembro de 2020, 10,4% para a população com cadastro e 15,9% para os 25% com a maior variação da nota de crédito.

    Mas, como partimos de bases elevadas de juros e o serviço segue sem contemplar dados provenientes de empresas prestadoras de serviços de água, esgoto, luz e gás, há a sensação de que a oferta ainda é fragmentada.

    O executivo argumenta que falta compromisso de algumas empresas para realizar o envio dos dados, mas vê com otimismo o crescimento do serviço, inclusive trabalhando de forma complementar com o Open Banking. “Tão logo a economia volte, vamos injetar dinheiro na economia e oferecer produtos cada vez melhores aos consumidores.”