Tendência é que custo das matérias-primas comece a cair, diz economista
Em entrevista à CNN, Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, explica o impacto dos preços das commodities no IGP-M, que registrou queda em setembro
O IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado) caiu 0,64% em setembro, contra alta de 0,66% em agosto, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (29) pela FGV (Fundação Getulio Vargas). No ano, o índice acumula alta de 16% e, em 12 meses, 24,86%. Em setembro de 2020, o índice havia subido 4,34% e acumulava alta de 17,94% em 12 meses.
Segundo a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria, a tendência é de que o custo das matérias-primas comece a cair após picos nos preços, o que impacta no IGP-M, que tem em sua composição a variação de preços ao produtor.
“O que [o índice de] setembro indica, é que essa alta das matérias-primas começa a arrefecer. Vemos um processo de recuperação econômica e da inflação global, que mexeu muito com as cadeias produtivas, e várias matérias-primas tiveram alta muito significativas, entre elas o minério de ferro.”
Sobre o impacto dessa trajetória de queda dos preços globais nos preços ao consumidor por aqui, a economista destaca que deve se refletir nos produtos consumidos sim, mas vai levar alguns meses.
“Como o IGP-M tem em sua composição o peso maior da inflação ao produtor, ele tem uma dinâmica diferente da inflação ao consumidor. Só agora vemos o aumento para o consumidor de custos que a indústria já viu lá atrás, do aço, da construção. Isso agora começa a refletir em alguns produtos que a gente consome. O IPCA ainda está em tendência de alta, a gente espera um pico agora em setembro ou outubro, ultrapassando até os 10%. Então para chegar no consumidor vai levar uns meses para ver a inflação caindo.”
Mas ver os custos da indústria menores, para Rafaela, é uma boa notícia. “Não foi só o minério de ferro que caiu em setembro, mas também a soja, o milho, e outros bens relacionados à alimentação, a gente pode ver também uma queda desses preços ao consumidor, não necessariamente uma queda dos preços, mas uma variação menor, ou seja, os preços pararem de subir.”
Minério de ferro
Rafaela Vitoria comentou sobre a trajetória dos preços do minério de ferro, que, ela explica, teve uma movimentação muito atípica, já que, antes da pandemia, tinha preços entre US$ 70 e US$ 80 a tonelada, mas chegou a ter picos de US$ 220 recentemente. “Vemos ainda essas oscilações atípicas e o IGP-M carrega isso.”
O movimento de queda, ela diz, é identificado em outros produtos industriais, por exemplo os custos da construção, como o cimento. “De maneira geral, vemos uma acomodação desses custos, não só o minério. A tendência é de acomodação na medida que a economia global começa a entrar em uma normalidade. Tende a ter uma aceleração do crescimento econômico, então teremos um aumento de preços mais próximo de um equilíbrio, e as commodities começam a ceder também.”
Crise hídrica
Sobre a possibilidade de racionamento e apagões, Rafaela Vitoria diz que o risco é baixo, e que há indicações de que as chuvas podem voltar ainda este ano. “Descartamos neste momento um racionamento, um apagão. Acreditamos que até o final do período seco, em novembro, temos capacidade térmica para suprir, e as indicações de chuva começam a apontar para um cenário mais positivo.”
Contudo, o reflexo da crise hídrica na inflação foi bastante alto, ela lembra, mas que o maior impacto já ocorreu. “Deve ter um resquício neste ano e teremos bandeira vermelha para 2022, então não vai ter um alívio em breve, mas não temos expectativa de novas altas para esse item. Do ponto de vista da atividade econômica, é um custo que sobe tanto para indústria como paro consumidor”.