Sentimento em relação ao câmbio no Brasil piora no início do segundo trimestre, mostra pesquisa
Na noite de segunda-feira, o banco central anunciou um leilão extra de swap cambial após queda repentina no valor do real
O sentimento em relação à moeda brasileira piorou no início do segundo trimestre devido à incerteza sobre a direção futura da política monetária de bancos centrais globais e aos crescentes desequilíbrios fiscais internos, mostrou uma pesquisa da Reuters com estrategistas de mercado.
Até agora este ano o real manteve-se perto de 5 por dólar, o ponto médio do intervalo em que tem sido negociado desde 2020, favorecido por novos fluxos para as moedas latino-americanas no meio de um rali nos mercados globais.
Contudo, as respostas a uma pergunta adicional na pesquisa refletiram um pessimismo crescente pelo segundo mês consecutivo, após uma série de resultados positivos ou neutros de setembro a fevereiro.
Dos 15 estrategistas cambiais que responderam, sete consideraram riscos de uma tendência mais fraca do que o esperado para o real, quatro consideraram níveis potencialmente mais fortes e quatro assumiram uma postura neutra.
A mediana das previsões para o real entre os 29 estrategistas entrevistados entre 28 de março e 3 de abril colocou a moeda em 5,00 por dólar em um ano, implicando um ganho de 1,2% em relação aos cerca de 5,06 de terça-feira. Mas o tom de seus comentários sugeria cautela.
“A resiliência da economia americana e alguns eventos associados a choques de oferta, ainda que pequenos, elevaram o sentimento de cautela com relação ao início do ciclo de queda da taxa de juros nos EUA”, disse Helcio Takeda, sócio sênior da Pezco Economics.
“No Brasil, a crescente percepção de maior intervenção econômica pelo governo adiciona incerteza, elevando a aversão ao risco”, disse ele, conforme os déficts fiscais continuam a se deteriorar e a dívida continua a aumentar.
Na noite de segunda-feira, o banco central anunciou um leilão extra de swap cambial após queda repentina no valor do real, a primeira intervenção desse tipo desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo em janeiro de 2023.
Alguns analistas consideraram que isto fazia parte das operações normais de dívida e não estaria relacionado com movimentos do mercado.
Mas a maioria das moedas dos mercados emergentes enfrentou dificuldades devido às notícias no mesmo dia de dados industriais fortes dos Estados Unidos que moderaram as apostas num corte de juros pelo Federal Reserve em junho.
“Eu entendo que o mercado está passando por uma reação pessimista exagerada. O Fed e o BCE irão iniciar seu ciclo de corte de juros em junho, com mais chance de realizar mais cortes do que menos em relação ao precificado hoje. Isso estimulará a alocação em mercados emergentes, desvalorizando o dólar ante essas moedas. No entanto, o mês de abril ainda deve ser predominado pela sensação de adversidade”, disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.