Dólar vai a R$ 5,40 e Ibovespa renova mínima do ano com cenário doméstico abafando otimismo global
Câmbio bate o maior patamar desde janeiro de 2023 com temor pelas contas públicas
Os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro fecharam em queda acentuada e renovaram as mínimas do ano nesta quarta-feira (12), com o temor com as contas públicas domésticas abafando a repercussão positiva externa após dados da inflação dos Estados Unidos e decisão dos juros pelo Federal Reserve (Fed).
O Ibovespa encerrou a sessão com recuo de 1,4%, aos 119.936 pontos, o pior patamar desde o início de novembro do ano passado, pressionado por recuos acentuados das companhias com maior peso no mercado. Vale (VALE3) perdeu 1,38%, enquanto Petrobras (PETR4) encerrou com baixa de 2,41%.
O clima negativo no cenário doméstico deu novo fôlego ao dólar, que fechou a sessão com salto de 0,82%, negociado a R$ 5,403 na venda, cotação não vista desde janeiro de 2023.
O desempenho destoa do quadro global, com dólar recuando ante a cesta das divisas das maiores economias do globo.
Fed mantém taxas
O Federal Reserve (Fed) disse na quarta-feira (12) que está mantendo suas taxas de juros de referência nos níveis atuais pela sétima vez consecutiva, ao mesmo tempo em que sinaliza menos cortes nas taxas do que o estimado anteriormente.
As autoridades previram apenas um corte nas taxas este ano, de acordo com as suas últimas projeções econômicas, em comparação com os três que previram em março.
Em coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que as novas previsões do banco central dos Estados Unidos apontam para uma taxa básica mais alta no longo prazo, indicando uma mudança de visão entre os formuladores de política monetária.
“Estamos fazendo política monetária com a economia que temos”, disse.
O Fed votou nesta quarta-feira pela manutenção de suas taxas de juros de referência nos níveis atuais pela sétima vez consecutiva, ao mesmo tempo em que sinaliza menos cortes nas taxas do que o estimado anteriormente. Elas foram mantidas entre 5,25% e 5,50%, o maior patamar em 23 anos.
Desde março de 2022, o BC dos EUA vem travando uma uma agressiva campanha de subida das taxas para conter a inflação em sua meta de 2%.
Apesar dos números estarem esfriando, – como indicaram os preços ao consumidor que diminuíram a alta em maio – as autoridades seguem em alerta enquanto a resiliência da economia, vista principalmente no mercado de trabalho, se mantém.
Ruído fiscal
Temores dos investidores com a trajetória fiscal ganharam força diante de declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fórum de investidores e com a repercussão da derrota do governo, e particularmente do ministro Fernando Haddad, em seus esforços para compensar a desoneração da folha de pagamento.
Mais cedo, o presidente disse que o Brasil está melhorando as contas públicas e vai atingir o equilíbrio fiscal com aumento da arrecadação de impostos e com o corte da taxa de juros.
“O presidente Lula deu um discurso em um fórum que acabou repercutindo mal entre investidores e aumentou a percepção de riscos fiscais no Brasil e provoca forte desvalorização da moeda”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
O mercado também repercutia decisão anunciada na tarde de terça-feira pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de devolver ao governo trechos da Medida Provisória do PIS/Cofins que restringiram a compensação de créditos do tributo.
A decisão impôs uma dura derrota a Haddad, que buscava, com a MP editada há uma semana, cobrir a perda de arrecadação com a manutenção da desoneração da folha de pagamento, gerando um aumento de R$ 29 bilhões na arrecadação deste ano.
Haddad disse a jornalistas que sua pasta não tem um plano B para a MP, mas avaliou que o Senado assumiu parte da responsabilidade de encontrar uma solução para a compensação das perdas tributárias.
*Com Reuters