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    Juros futuros disparam pelo 5º dia seguido após mudança em Lei das Estatais

    Avanço da PEC do Estouro, nomeação de ministros e mudança na lei das estatais impactam cenário econômico

    Diego Mendesdo CNN Brasil Business São Paulo

    Principal termômetro da expectativa do mercado para a evolução da Selic, taxa básica da economia, os juros futuros de DI (Depósito Interfinanceiro) vêm registrando altas diárias seguidas em meio a temores sobre os planos do governo eleito.

    Nesta quarta-feira (14), os contratos de juros com vencimento em 2029 avançam pelo quinto dia consecutivo. No pano de fundo mais recente, está a aprovação de uma mudança na Lei das Estatais, que aconteceu no fim da noite de ontem na Câmara dos Deputados, o que vem elevando as preocupações entre investidores, segundo economistas consultados pela CNN.

    Na visão de Thomaz Sarquis, economista Eleven Consultoria, essas altas estão ligadas à perspectiva de deterioração fiscal no Brasil. “Essa percepção se manifesta a partir de diferentes canais, como o avanço da PEC do Estouro, a nomeação de nomes pouco alinhados ao mercado para cargos de relevância e a mudança na Lei das Estatais”.

    Para Alexandre Espirito Santo, economista-Chefe Órama, o mercado entrou em modo pânico depois de Aloizio Mercadante ser anunciado para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de nomes anunciados por Fernando Haddad, novo ministro da Fazenda, para sua equipe.

    “Eles podem representar um retrocesso na política econômica, sobretudo sob a ótica fiscal. Para completar, um ponto-chave da lei das estatais foi modificada, para acomodar o Mercadante no BNDES, e isso implica que outras estatais, como Petrobras, por exemplo, podem ver mudanças em suas atuações”.

    O texto que ainda precisa passar pelo Senado reduz de 36 meses para 30 dias a quarentena exigida para quem tem atuado numa campanha eleitoral ou participado de decisões partidárias, o caso de Mercadante.

    O projeto também facilitou as indicações para conselho diretor ou diretoria colegiada das agências reguladoras.

    O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, destaca outros dois pontos: o mercado ainda não sabe o que vai ser colocado no lugar do teto de gastos e; a tramitação da PEC do Estouro está garantindo que o déficit de 2023 — se não houver nenhuma compensação — vai somar de mais de R$ 200 bilhões, o que significa mais de 2% do PIB.

    Vale ressaltar que as taxas também já sofriam influência da queda dos rendimentos dos títulos do tesouro norte-americano (Treasuries) e dos dados de inflação abaixo da expectativa dos analistas nos Estados Unidos.

    Trajetória de juros DI futuro

    A taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 subiu de 13,41% do ajuste na segunda-feira (12) para 13,66% na terça-feira (13), e encerrou em 13,64% nesta quarta-feira (14).

    A do DI para janeiro de 2027 está subindo desde o dia 12 de dezembro, passando de 12,78% neste dia para 13,45% nesta quarta.

    A DI para janeiro de 2029 avança há cinco dias. Em 7 de dezembro estava em 12,74% e foi para 12,84% no dia seguinte. No dia 09 deste mês estava em 12,89%, e na segunda-feira (12) subiu para 13,12%, seguida de altas para 13,35% (13/12) e 13,49% (14/12).

     

     

    Reação do mercado

    Segundo Sarquiz, todos esses fatores que vem se desenrolando na transição do governo são interpretados pelo mercado como maior propensão a gastos. Ele diz que sem existir contrapartida, ocorreria um aumento expressivo na dívida, que se traduz em maior percepção de risco. Ou seja, quanto mais risco, mais juros.

    “Colocaria a postura mais dura do Copom na ata como um fator relevante também. A deterioração fiscal dificulta o trabalho do Banco Central em colocar a inflação na meta, tanto pelo fator da demanda (injeção de recursos em uma economia já aquecida) quanto pelo fator risco (depreciação do câmbio)”, comenta Sarquiz.

    Alexandre Espirito Santo explica que juros em alta prejudicam os investimentos produtivos. “Espero que seja só uma situação transitória, mas o estresse é compreensível. A política fiscal é o grande desafio do novo governo. Precisamos, como o futuro ministro Haddad comentou, conciliar o fiscal com o social; não são excludentes. Para tal, uma nova regra, para substituir o teto dos gastos, precisa ser desenhada. Porém, precisa ser crível e não algo que o mercado perceba que é só um paliativo”.

    “A bolsa está sentindo bastante, é bem ruim, especialmente no curto prazo. Em poucos dias apagamos todos os ganhos de 2022. O problema é que a renda fixa vai sofrer também, por conta da abertura das taxas”, aponta Caruso.

    O Ibovespa encerrou em leve alta nesta quarta-feira, de 0,2%, aos 103.745,77 pontos, em sessão marcada pela volatilidade, recuperando algum terreno no final após duas sessões negativas. E as ações da Petrobras e do Banco do Brasil renovavam as mínimas.

     

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