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    Ibovespa engata 8 altas seguidas: o que explica o otimismo dos investidores? 

    Expectativa por corte de juros nos EUA e indicação de Galípolo à presidência do BC trazem segurança ao mercado doméstico

    João Nakamurada CNN São Paulo

    Em meio a uma trajetória turbulenta neste ano, o Ibovespa conseguiu fechar nesta quinta-feira (15) sua oitava alta seguida e renovar a máxima desde dezembro do ano passado pela segunda sessão consecutiva.

    O principal índice da bolsa paulista subiu 0,63% neste pregão, encerrando em 134.153 pontos. Este foi o terceiro melhor resultado de fechamento da história do Ibovespa.

    Desde a semana passada, o indicador valorizou cerca de 7%.

    A escalada de valorização ocorre em um cenário de otimismo global, com investidores analisando dados da economia dos Estados Unidos que afastam temores de recessão.

    Números de hoje mostraram que vendas no varejo dos EUA subiram mais do que o esperado em julho, enquanto menos norte-americanos que o previsto entraram com pedidos de auxílio-desemprego na semana encerrada em 10 de agosto.

    Os dados reforçam a perspectiva de “pouso suave” da economia em meio uma política monetária mais restritiva das últimas duas décadas, enquanto diminuem a possibilidade de corte de juros mais agressivo pelo Federal Reserve (Fed) em setembro.

    “No cenário internacional, a expectativa de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve tem atraído capital estrangeiro para mercados emergentes, incluindo o Brasil. Essa injeção de recursos é uma força motriz para a valorização das ações na B3”, analisa André Colares, CEO da Smart House Investments.

    No ambiente doméstico, investidores repercutem as falas de autoridades monetárias sobre possível aumento dos juros para reduzir as expectativas de volta à meta, tirando parte do peso dos juros futuros.

    Inestidores ficaram especialmente animados pelo reforço dado pelo diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, um dos principais nomes cotados para ocupar a cadeira de comando da autarquia monetária a partir do ano que vem.

    “Isso não é a realidade do diagnóstico do Copom. A alta está na mesa, sim, do Copom, e a gente quer ver como isso vai se desdobrar”, disse em evento no início desta semana.

    “A confirmação aparente de que o Galípolo vai ser a preferência do governo trouxe uma calma maior porque ele, em suas últimas ações, inclusive nas últimas reuniões do Copom, esteve muito mais alinhado com [o presidente do BC] Roberto Campos Neto. E nas últimas falas, ele também corroborou com uma sensação de que vai seguir compromissado e sem mudanças radicais”, aponta Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos.

    Controle dos ânimos

    A alta recente reverte parte do cenário negativo que pressionou o mercado doméstico nos últimos meses, sobretudo por fatores internos, como controle dos gastos públicos elevados e a tensão entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central (BC).

    No lado internacional, os ruídos negativos vinham da escalada da tensão no Oriente Médio e temor de que os juros elevados nos EUA iria colocar a maior economia do mundo em recessão.

    Esses temores, contudo, parecem se controlar, e começam a dar lugar para sinais mais otimistas aos investidores.

    “A máxima do mercado é que ele tende a precificar o que ainda deve acontecer e as novas expectativas. No contexto local, a trégua do presidente em relação aos ataques diretos ao Banco Central torna o ambiente mais amistoso e mais suscetível a investimentos”, aponta Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.

    Colares reforça o posicionamento, uma vez que “apesar do dólar nas alturas, do descontrole de gastos públicos e da inflação próxima ao teto da meta, o mercado financeiro parece encontrar resiliência, especialmente em ações de grandes empresas como Petrobras e bancos”.

    Na avaliação Marcatti, o temor de recessão nos EUA que marcou os mercados na virada de julho para agosto foi além do necessário.

    “A gente deve observar algum esfriamento da economia lá, mas ainda é cedo para falar que vai ser de fato uma recessão, algo mais persistente. Deve ter ali um trimestre de pouso mais suave. Afinal de contas, a atividade continua forte por lá, por exemplo, os dados de vendas positivos”, pontua.

    Corte de juros nos EUA

    Os recentes dados da economia nos EUA convergem para o aumento das apostas de que o Fed vá cortar os juros em setembro. Desde julho do ano passado, as taxas nos estão mantidas entre 5,25% e 5,5% — o maior patamar em mais de duas décadas.

    O mercado dá como certa a redução das taxas no próximo mês, com a maior parte enxergando espaço para recuo de 0,25 ponto, segundo a ferramenta CME FedWatch.

    Ao mesmo tempo, o mercado consolidou as previsões de que o BC manterá a Selic em 10,5% pelo menos até o início do ano que vem — com parte dos analistas ainda prevendo novos aumentos das taxas nos próximos meses.

    Neste sentido, a renda fixa brasileira se mostra mais atrativa aos investidores por estar pagando mais, enquanto juros em queda nos EUA diminuem o retorno. O cenário atrai mais dólares ao país, contribuindo para tirar parte da pressão sobre o câmbio.

    Marcatti reforça que o quadro não é só positivo para o mercado brasileiro, como deve ajudar a movimentar o norte-americano, o que por sua vez reflete positivamente nos mercados de todo o mundo.

    E o efeito desses movimentos já tem sido sentido. “O grande destaque da bolsa em julho foi a volta do fluxo estrangeiro, que teve compras líquidas de R$ 8,1 bilhões. Foi o primeiro mês do ano com fluxo estrangeiro positivo”, apontam analistas da EQI Research em nota de investimentos para o mês de agosto.

    Contexto ainda desafiador

    Mas Marcatti alerta que uma vez que a capitalização da bolsa brasileira é baixa, qualquer fluxo de capital estrangeiro leva a grandes euforias, como essa alta expressiva recente. Ele pontua que ainda há sinais de atenção e que é necessário tomar cuidado com movimentos precipitados.

    O CEO da Smart House Investiments também observa um “contexto desafiador”.

    “A alta do dólar pressiona a inflação, o que pode levar o Banco Central a adotar uma postura ainda mais rígida na política monetária, dificultando o acesso ao crédito e potencialmente freando o crescimento econômico”, diz Colares.

    “Esse cenário gera um ambiente de cautela para investidores, que devem estar atentos às movimentações políticas e econômicas tanto no Brasil quanto no exterior”.

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