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    Menos álcool, mais açúcar: a Copersucar mudou na pandemia, diz CEO

    A empresa se preparava para nova safra alcooleira após receita recorde de R$ 30,1 bi na temporada anterior

    Matheus Prado, do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    A brasileira Copersucar, gigante global do comércio de açúcar e etanol, se preparava para mais uma safra predominantemente alcooleira após obter faturamento recorde de R$ 30,1 bilhões na temporada anterior. Com a chegada da pandemia do novo coronavírus e um consequente choque na demanda pelo combustível, no entanto, precisaram focar sua produção no carboidrato.

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, João Teixeira, CEO da Copersucar, afirma que a mudança de foco foi executada em cerca de duas semanas. “Isso permitiu continuar gerando caixa com a produção de açúcar e, no etanol, estabelecer uma redução da oferta para contrabalancear a redução na demanda” diz.

    Neste momento de crise, a empresa voltou os esforços de suas 34 indústrias associadas para Ásia, Oriente Médio e África, mercados onde tem notado uma procura maior pelo açúcar, por se tratar de um carboidrato barato. “Já vimos isso em outras crises, uma migração para esse tipo de produto”, explica Teixeira. 

    Os resultados da última safra mostram a mudança repentina. Entre abril de 2019 e março de 2020, a empresa movimentou 3,7 milhões de toneladas de açúcar, ante 3,8 milhões de toneladas no ano-safra anterior, sendo que a exportação somou 1,9 milhão de toneladas, recuo de 9,5% na comparação anual. 

    A comercialização de etanol, por outro lado, totalizou 14,2 bilhões de litros no mercado global, um acréscimo de 2,9%. Deste total, 9,2 bilhões de litros foram movimentados pela subsidiária Eco-Energy na América do Norte (alta de 2,2%) e 5 bilhões de litros pela Copersucar (aumento de 11,1%), incluindo mercado interno e exportações.

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    “Foi uma safra do etanol. Depois de muitos anos sofrendo, conseguimos alcançar preços com patamares mais atraentes”, diz Teixeira. “A partir disso, o Brasil bateu recordes de consumo. Comercializamos 5 bilhões de litros, dos quais 4,7 bilhões foram para o mercado interno.”

    Ao todo, a empresa apresentou um lucro líquido consolidado de R$ 119 milhões na safra 2019/20 (abril a março), o que representa queda de 33% frente à temporada anterior. Já o lucro operacional, que exclui fatores contábeis não recorrentes, aumentou mais de 30%, para R$ 136 milhões.

    RenovaBio

    Apesar do início em marcha lenta, Teixeira acredita na viabilidade do programa RenovaBio, criado pelo governo federal para criar metas nacionais anuais de descarbonização para o setor de combustíveis. “Enxergamos com grande otimismo no médio prazo, mas nesse início o mercado precisa de tempo, investimento, tecnologia e engajamento dos parceiros”, defende.

    Com suas 34 usinas associadas certificadas pelo RenovaBio, a empresa poderá gerar até 6 milhões de Créditos de Descarbonização (CBIOs) por ano. Estes créditos serão emitidos por produtores e importadores de biocombustíveis, devidamente certificados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com base em suas notas fiscais de compra e venda. 

    Em contrapartida, os distribuidores de combustíveis fósseis possuirão metas anuais de descarbonização calculadas pela ANP, com base na proporção desses combustíveis que comercializam, e adquirir CBIOs é a única forma de atingir as metas. “Esse mercado tende a crescer muito, com a participação de empresas emissoras de carbono que estão comprometidas diante da sociedade a reduzir emissões”, diz.

    Foram emitidos 47,3 milhões de CBIOs até o dia 16 de julho. Mas, apesar das expectativas, apenas 22,2 mil unidades dos créditos haviam sido comercializadas na B3, gerando R$ 418 mil (os valores dos títulos também estão abaixo dos US$ 10 esperado pelas empresas). Isso ocorre, em parte, porque companhia e governo negociam novas metas por causa da pandemia. Em consulta pública, foi proposta uma redução de meta de 28,7 milhões para 14,5 milhões de CBIOs em 2020.

    “O RenovaBio está nos 45 minutos do segundo tempo para ser efetivamente implementado” diz o CEO do Copersucar. “Mas essa demanda não deve estar restrita às distribuidoras de combustíveis. Vamos disseminar o conhecimento deste mercado pelo mundo todo, para que empresas que queiram neutralizar efeitos de emissão de carbono possam usar os CBIOs como alternativa”, afirma. 

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