Worldcoin: usuários fazem fila para escanear olhos em projeto de criptomoeda do criador do ChatGPT
Fundado por Sam Altman, presidente-executivo da OpenAI, o projeto afirma que seu objetivo é criar uma nova "rede financeira e de identidade"
Pessoas de todo o mundo estão tendo seus globos oculares escaneados em troca de uma identificação digital e da promessa de criptomoeda gratuita, ignorando preocupações dos defensores da privacidade e dos órgãos reguladores de dados.
Fundado por Sam Altman, presidente-executivo da OpenAI, o projeto Worldcoin afirma que seu objetivo é criar uma nova “rede financeira e de identidade” e que seu sistema de identificação digital permitirá aos usuários, entre outras coisas, provar online que são humanos e não um robô movido por recursos de inteligência artificial, como a usada pelo ChatGPT, da própria empresa de Altman.
O lançamento, nesta segunda-feira (24), contou com exames de globos oculares realizados em países como Reino Unido, Japão e Índia.
Em uma conferência do setor de criptomoedas em Tóquio, nesta terça-feira, pessoas fizeram fila em frente a um globo prateado reluzente, ladeado por cartazes que diziam: “Os orbes estão aqui.”
Os candidatos esperavam para terem suas íris escaneadas pelo dispositivo do projeto de Altman em troca por 25 tokens Worldcoin gratuitos para cada.
O projeto afirma ter emitido identidades para mais de 2 milhões de pessoas em 120 países, principalmente durante um período de teste nos últimos dois anos.
“Há um risco de ter os dados de seus próprios olhos coletados por uma empresa, mas eu gosto de acompanhar os projetos de criptografia mais atualizados”, disse Saeki Sasaki, de 33 anos, depois de se sujeitar ao orbe.
“Eu estava um pouco assustado, mas agora já fiz isso e não posso voltar atrás.”
A coleta de dados da Worldcoin é um “potencial pesadelo de privacidade”, disse o Electronic Privacy Information Center, um grupo dos Estados Unidos defensor do direito à privacidade.
A Worldcoin não respondeu às perguntas da Reuters sobre suas políticas de privacidade. O site da empresa diz que o projeto é “totalmente privado” e que os dados biométricos são excluídos ou os usuários podem optar por armazená-los de forma criptografada.
No saguão de um espaço de trabalho conjunto no leste de Londres, na segunda-feira, dois representantes da Worldcoin mostraram a um pequeno grupo de pessoas como fazer o download do aplicativo e fazer o escaneamento de suas íris, distribuindo camisetas e adesivos gratuitos com os dizeres “humano verificado”.
Christian, um artista gráfico de 34 anos, disse que participou porque estava “intrigado”.
Ele acompanha os desenvolvimentos em inteligência artificial (IA) e criptografia, comprando criptomoedas “apenas por diversão”.
“Acho que daqui para frente será difícil distinguir a IA do ser humano e acho que isso potencialmente resolve esse problema, o que é bastante surpreendente”, disse ele, recusando-se a dar seu nome completo por motivos de privacidade, apesar de ter aceitado se submeter ao escaneamento de sua íris pelo orbe da Worldcoin.
Os tokens da Worldcoin eram negociados a cerca de US$ 2,30 (R$ 10,90) na Binance, nesta terça-feira (25).
Para muitos usuários, a promessa de ganhos financeiros com as moedas digitais da empresa foi suficiente para fazê-los entregar seus dados pessoais.
Ali, um estudante de engenharia química de 22 anos que investiu parte de seu empréstimo estudantil em criptomoedas, disse que calculou que os 25 tokens gratuitos poderão ser vendidos por 70 a 80 dólares sob os preços atuais.
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“Falei com meu irmão sobre isso hoje de manhã. Eu disse a ele ‘é dinheiro grátis, você quer vir comigo para pegar’?”
Tanto Christian quanto Ali disseram que não tinham lido a política de privacidade da Worldcoin, que diz que os dados podem ser passados para subcontratados e podem ser acessados por governos e autoridades.
“É bastante preocupante, mas acho que muitas empresas têm nossos dados neste momento”, disse Ali.
O grupo de defesa da privacidade do Reino Unido, Big Brother Watch, disse haver um risco de que os dados biométricos possam ser hackeados ou explorados.
“Os sistemas de identificação digital aumentam o controle do Estado e das empresas sobre a vida das pessoas e raramente correspondem aos benefícios extraordinários que os tecnocratas tendem a atribuir a eles”, disse Madeleine Stone, diretora sênior do grupo.
O projeto também chamou a atenção das agências públicas, com o órgão regulador de dados do Reino Unido informando à Reuters que está questionando o lançamento da Worldcoin no país.