Waack: Juros do Brasil se descolam dos juros americanos
As curvas de juros no Brasil estão subindo, e os agentes econômicos preveem que a Selic estará ainda mais alta; nos Estados Unidos, a expectativa é inversa
A taxa Selic foi mantida nesta quarta-feira (31) no mesmo patamar pelo Comitê de Política Monetária (Copom), ou seja, em um nível elevado. Considerando a inflação mais comportada, isso assegura que o Brasil continuará no topo do ranking mundial de juros reais mais altos. Embora isso seja ruim, não é uma novidade.
Isso, infelizmente, não é reconfortante. A julgar pelos índices das últimas horas, os juros brasileiros estão se desvinculando dos juros nos Estados Unidos — que sempre têm impacto sobre os nossos. Isso é preocupante.
As curvas de juros no Brasil estão subindo, e os agentes econômicos preveem que a Selic estará ainda mais alta em setembro, outubro e novembro. Nos Estados Unidos, a expectativa é inversa, com a taxa de juros do Federal Reserve (Fed) sendo reduzida até o final do ano, provavelmente com dois cortes.
Normalmente, juros norte-americanos mais baixos facilitam a redução dos juros aqui. No entanto, o lado fiscal brasileiro preocupa, ou seja, a forma como o governo brasileiro gerencia as contas públicas e a trajetória do nosso endividamento.
Economia é psicologia. E o lado psicológico — as expectativas e a percepção subjetiva dos fatos — é decididamente cauteloso. Nesse caso, os agentes não estão levando em conta declarações do presidente ou a disputa dele com o Banco Central (BC). Estão observando um dado puro e simples: despesas públicas estão crescendo mais rapidamente do que a receita para financiá-las, e não há sinais de que essa situação vá mudar fundamentalmente.