Visão de investidores brasileiros para o varejo continua relativamente negativa, diz Goldman Sachs
Preocupações vão desde a dinâmica de alavancagem e do fluxo de caixa até à demanda ainda fraca por parte das famílias excessivamente endividadas e ao risco regulatório para benefícios fiscais
Analistas do Goldman Sachs reuniram-se com investidores no Brasil na semana passada e observaram que a visão para o varejo continua relativamente negativa, com preocupações que vão desde a dinâmica de alavancagem e do fluxo de caixa até à demanda ainda fraca por parte das famílias excessivamente endividadas e ao risco regulatório para benefícios fiscais.
“O sentimento em relação ao setor permanece, de modo geral, relativamente negativo, com apenas alguns investidores dispostos a olhar além da atual fraqueza de curto prazo na demanda dos consumidores para se concentrarem nos benefícios potenciais dos cortes cumulativos dos juros e da desalavancagem gradual das famílias — e dos balanços das empresas”, afirmaram Irma Sgarz e equipe em relatório enviado a clientes.
Eles acrescentaram que o fluxo recente de notícias sobre potenciais alterações em incentivos fiscais está pesando ainda mais, com os investidores demonstrando uma convicção relativamente limitada sobre quais os benefícios que podem ser protegidos e quais os que podem ser descontinuados.
No caso do varejo discricionário, a equipe do banco norte-americano apurou que os investidores concentraram-se sobretudo nos varejistas de vestuário, embora com um posicionamento leve, enquanto o interesse no segmento de bens duráveis, de empresas como Magazine Luiza e Casas Bahia ou de artigos para animais de estimação — Petz — era limitado.
“Investidores pareceram mais construtivos em relação à varejista de joias Vivara e à operadora de academias Smartfit (o Goldman Sachs não cobre essas empresas) e também permanecem globalmente positivos em relação à Arezzo&Co, de quem investidores valorizam o perfil de crescimento consistente e o maior foco da administração nas margens”, afirmaram.
Eles afirmaram que Lojas Renner dividiu opiniões, com alguns expressando preocupações sobre a visibilidade ainda relativamente limitada dos lucros no curto prazo e algumas desvantagens adicionais nas estimativas de consenso.
“Alguns investidores também estavam interessados em discutir qual deveria ser um múltiplo justo para a ação da Lojas Renner, com alguns defendendo um ‘de-rating’ mais estrutural, enquanto outros foram mais construtivos devido à inflexão dos lucros passar para a linha de visão”, observaram, citando que a preocupação em torno da concorrência externa ainda prevalece.
Para o Grupo Soma, destacaram que o sentimento permanece cauteloso, principalmente devido à exposição da empresa a benefícios fiscais e à incerteza contínua sobre quanto destes benefícios podem ser preservados ou compensados por outras iniciativas de planejamento fiscal.
No caso do varejo alimentar, a visão é, no geral, extremamente cautelosa, com investidores temendo que o crescimento das vendas mesmas lojas estimado para o terceiro trimestre possa mais uma vez ser negativo para o segmento de atacarejo, dado o ambiente de queda dos preços dos alimentos.
Em relação a Assaí, segundo os analistas, há receios com a alavancagem da empresa, a geração de caixa no curto prazo e o cronograma de desembolso de investimentos. Quanto ao Carrefour Brasil, há preocupações semelhantes às que cercam o Assai, além de visibilidade limitada sobre o potencial de recuperação do portfólio das lojas BIG.
As opiniões sobre Natura&Co não foram unânimes, mas no geral positivas, embora parte disso a partir de uma perspectiva orientada por eventos, notadamente a perspectiva de venda da unidade The Body Shop.
Eles também notaram que investidores acreditam, de modo geral, que a administração da fabricante de cosméticos está direcionando a recuperação na direção certa e gerindo adequadamente as expectativas de curto prazo. “No entanto, veem uma visibilidade limitada nos lucros nos próximos trimestres, à medida que a empresa avança mais profundamente na implementação da Onda 2”, afirmou a equipe do Goldman Sachs.
RD, afirmaram os analistas, continua a ser um consenso claro no lado positivo, com os investidores não avaliando que a ação está “esticada” dado o crescimento confiável e visibilidade de lucros.
Sgarz e equipe também observaram que investidores locais permaneceram “esmagadoramente” positivos em relação Mercado Livre.
“No geral, investidores locais estão talvez um pouco mais preocupados com a exposição da empresa à Argentina — com o receio de uma recessão a superar agora o temor de uma desvalorização –, embora a maioria também reconheça que o México era agora um contribuidor cada vez mais importante para os resultados globais”, escreveram no relatório.
Por outro lado, os analistas afirmaram que ouviram relativamente menos preocupação em torno da dinâmica de concorrência global, destacando que investidores continuam a monitorar a questão, mas acreditam que mais ajustes poderão ocorrer à medida que o programa Remessa Conforme caminha e potenciais alterações em tributos federais de importação possam ocorrer em 2024.