Viagem da presidente da Câmara dos EUA a Taiwan derruba moeda chinesa
Investidores temem maior deterioração nas relações entre a China e os Estados Unidos
O iuan, da China, se saiu melhor do que muitas outras moedas importantes este ano. Ele caiu 6,5% em relação ao dólar americano, mantendo-se firme, já que o dólar passou por uma alta vertiginosa.
O euro, a libra esterlina e o won da Coreia do Sul caíram mais de 10%, enquanto o iene do Japão caiu quase 16%.
Mas a controversa viagem da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan está lembrando os investidores dos riscos que acompanham a retenção do iuan.
O que está acontecendo: a visita de destaque de Pelosi a Taipei, onde ela afirmou nesta quarta-feira (3) que Washington “não abandonaria” a ilha democraticamente governada, alimentou temores de uma maior deterioração nas relações entre a China e os Estados Unidos, as duas maiores economias do mundo.
Pequim disse rapidamente que lançaria exercícios militares de munição real em torno de Taiwan e suspendeu as importações de areia natural e algumas frutas e peixes. A China é o maior parceiro comercial de Taiwan.
O aumento das tensões alimentou preocupações entre os investidores de que a situação poderia escalar a partir daqui, intencional ou inadvertidamente. O Partido Comunista da China reivindica Taiwan como sua, apesar de nunca tê-la controlado.
O iuan offshore da China recuou ligeiramente esta semana.
“É algo que os investidores conhecem há algum tempo como um potencial ponto de inflamação”, disse-me Manik Narain, chefe de estratégia de ativos cruzados para mercados emergentes do UBS. “Tem sido muito difícil negociá-lo. Não sabemos se será um ponto de inflamação amanhã ou daqui a cinco anos.”
Uma grande incógnita: se a China lançasse um confronto militar, os países ocidentais imporiam duras sanções econômicas, como fizeram quando a Rússia invadiu a Ucrânia? O que isso significaria para os investidores estrangeiros se o fizessem?
“Eles podem ver o que aconteceu com os mercados russos”, disse Narain. “Os investidores não querem cometer o mesmo erro duas vezes.”
Extirpar a China da economia global seria uma tarefa quase impossível dada sua integração com as cadeias de suprimentos, a importância do mercado para as grandes corporações ocidentais e o poder de fabricação do país. Mas a ameaça de um colapso geopolítico tão significativo se aproxima.
Não é o único fator que pesa sobre a moeda chinesa. Os mercados emergentes estão lutando para atrair investimentos à medida que as taxas de juros dos EUA aumentam, fazendo a ideia de deixar o dinheiro em locais de alto risco menos atraente.
Também há dúvidas sobre o crescimento econômico da China. A atividade fabril contraiu em julho, segundo dados divulgados no último final de semana. Uma recessão global prejudicaria a robusta máquina exportadora do país.
E a demanda doméstica permanece instável, já que o país lida com as réplicas dos recentes bloqueios do Covid-19 nas principais cidades e um setor imobiliário vulnerável.
“Em um momento em que as exportações provavelmente perderão força em breve com a demanda global mais fraca, é improvável que a recuperação da demanda doméstica da China se materialize em breve, em nossa opinião, dadas as contínuas restrições da Covid e os choques recentes no mercado imobiliário”, disseram Helen Qiao e Miao Ouyang, economistas do Bank of America, em uma nota de pesquisa esta semana.
Além disso, à medida que a economia vacila, o Banco Popular da China está a caminho de afrouxar a política, enquanto a maioria dos outros bancos centrais a está apertando. Isso pode aumentar a pressão de queda sobre o iuan.
“O ritmo em que os EUA aumentam as taxas de juros pode ser crucial”, disse Narain, observando o potencial de uma “divergência” acentuada.