Vans agitam mercado de elétricos nos Estados Unidos
Novas fabricantes como a Rivian e a Stellantis, amparadas pela Amazon, ameaçam hegemonia de montadoras tradicionais conforme a demanda aumenta
As principais montadoras estão lançando carros elétricos e SUVs que podem, um dia, ameaçar o domínio da Tesla nesse campo. Mas há uma grande briga se formando em outro mercado de veículos elétricos, onde a Tesla nem atua: vans de trabalho elétricas.
Nos Estados Unidos, vans elétricas representam uma grande oportunidade por causa de duas tendências simultâneas. À medida que os americanos se acostumaram a ter coisas entregues em casa e que empresas, incluindo varejistas on-line e montadoras, trabalham para reduzir suas emissões de carbono, a demanda por esse tipo de modalidade veicular vem aumentando – e muito.
Em termos de competição de startups, as montadoras estabelecidas não estão enfrentando a Tesla, mas a Rivian, a fabricante de caminhões elétricos e SUVs, com US$ 50 bilhões de valor de mercado. Ela já tem uma gigante empresarial como cliente: a Amazon, que, como uma de suas primeiras investidoras, mantém uma participação de aproximadamente 20% da Rivian.
A empresa de Jeff Bezos deu ao então incipiente titã de EVs um grande impulso desde o início, ao fazer um pedido de 100.000 vans de carga elétrica. Recentemente, também fez um acordo com a Stellantis para compras as vans Ram, a serem lançadas em 2023.
Ambas as fabricantes também fizeram outros acordos em áreas como software e armazenamento de dados, fornecidos pela Amazon.
A General Motors é outra que vem se movimentando no setor. Recentemente, fez acordos para que a FedEx e o Walmart comprem vans da recém-formada subsidiária de vans de carga elétrica da empresa, a BrightDrop.
A Ford anunciou, na última terça-feira (8), que começou a enviar vans elétricas E-Transit de uma fábrica no Missouri. Ela havia anunciado anteriormente acordos, inclusive com o Walmart e vários governos municipais para mais de 10.000 das novas vans elétricas, e também é investidora da Rivian.
Mas, ao contrário da Amazon, a Ford não tem assentos no conselho da Rivian. E Ford e Rivian abandonaram um plano para trabalhar juntos em veículos.
Por sua vez, Rivian insiste que mais montadoras entrando no jogo de vans elétricas resulta em um bem maior.
“O crescimento de veículos elétricos na indústria de frotas é uma coisa boa. A eletrificação em escala sempre fez parte de nossa missão e é fundamental para a descarbonização e tornar o planeta um lugar melhor”, disse o porta-voz da Rivian, Kenya Friend-Daniel, por e-mail.
Ninguém está entrando neste negócio para a emoção.
Vans de carga, elétricas ou não, são tão chatas quanto os veículos motorizados, o equivalente automotivo de torradas de pão branco e seco. Você pode fazer coisas incríveis com elas, mas, frescas da fábrica, são quadradas e sem sabor. Mesma coisa para caminhões de trabalho, que não têm a “arrogância de caubói” das picapes.
O coronavírus trouxe uma atenção renovada para essas caixas de metal simples. As compras online, que aumentaram durante a pandemia, trouxeram verdadeiras frotas de vans de carga para as ruas dos Estados Unidos. As compras de fim de ano online, por exemplo, aumentaram 43,5% entre 2019 e 2021, de acordo com o Adobe Analytics.
Hoje, a grande maioria das vans de trabalho são movidas a gasolina, mas as vans movidas a bateria podem ser ideais para esse tipo de uso, dando às empresas mais incentivo para comprá-las.
As vans de trabalho e entrega raramente fazem longas viagens interestaduais que exigem recarga ao longo do caminho, geralmente percorrendo rotas relativamente curtas e retornando aos estacionamentos ou garagens da empresa à noite, onde podem recarregar para a condução do dia seguinte.
“Quando você olha para os casos de uso reais e já existentes para vans, pode ver que a eletricidade agrega valor de várias maneiras diferentes”, disse Kathryn Schifferle, CEO da Work Truck Solutions, uma empresa que acompanha de perto caminhões e vans compradas por empresas.
A participação de mercado de vans de trabalho, em geral, caiu nos últimos dois anos, de acordo com a J.D. Power. Mas, segundo o vice-presidente de análise de dados da empresa, Tyson Jominy, isso se deve principalmente à redução de estoques.
A demanda, no entanto, aumentou muito, de acordo com a Work Truck Solutions: o número de pedidos de vans para revendedores dobrou nos últimos dois anos.
Ao mesmo tempo, muitas empresas que operam grandes frotas assumiram compromissos ambientais públicos que exigem essencialmente vans elétricas.
“Muitas dessas empresas se comprometeram com a neutralidade de carbono”, disse Jominy. “Este é um grande passo para chegar lá.” De acordo com ele, as montadoras também se comprometeram a vender um grande número de veículos elétricos, então essas compras também as ajudam.
As montadoras muitas vezes precisam investir no desenvolvimento de veículos elétricos e na reforma de fábricas para construí-los sem uma ideia clara do tamanho do mercado. Como os veículos elétricos compartilham muitos componentes comuns, um cliente comprometido com um tipo de veículo elétrico pode ajudar a custear o desenvolvimento de veículos elétricos como um todo.
“Muitos desses contratos são feitos com antecedência para muitas centenas de milhares de veículos”, disse Jominy. “Isso absorverá os custos de fabricação e fixos.”
A combinação de alta demanda e baixo estoque apresenta uma oportunidade para montadoras de alta velocidade, sejam empresas estabelecidas ou startups, para roubar negócios dos concorrentes, disse Schifferle.
Pode não ser tão fácil, no entanto, disse Jominy, da J.D. Power. As vans elétricas podem ser novas, mas esses grandes clientes empresariais conhecem a Ford, GM e Stellantis e podem ter trabalhado com eles por anos.
“Adicionar um veículo elétrico à frota de um representante de vendas comercial da montadora com quem você tem um ótimo e duradouro relacionamento seria uma adição fácil e de risco relativamente baixo”, disse ele em um e-mail.
A Rivian terá mais dificuldade em construir relacionamentos com os clientes e convencer os compradores de frotas comerciais a adquirir um novo tipo de produto de uma empresa totalmente nova.
“De qualquer forma, será uma corrida emocionante de assistir”, disse Jominy.
Parija Bhatnagar, da CNN, contribuiu para esta reportagem.