Trump x Biden: Diferentes nos impostos, parecidos no protecionismo à indústria
Até mesmo a guerra comercial entre Estados Unidos e China deve continuar, independentemente do candidato que vencer as eleições no dia 3 de novembro
Mais gastos sociais, acompanhados de mais impostos para sustentá-los e pitadas de sustentabilidade e meio ambiente como motores da retomada econômica. Estas são as principais diferenças que os americanos sentirão no país caso o democrata Joe Biden vença a disputa à presidência dos Estados Unidos.
Biden é o adversário do atual presidente, o republicano Donald Trump, nas eleições que serão decididas na próxima terça-feira, 3 de novembro.
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O primeiro mandato de Trump teve como uma das principais bandeiras de crescimento econômico o corte de imposto de indivíduos e empresas. Já Biden promete uma agenda com mais proteção social financiada pela criação de novos impostos, o que, de acordo com seu programa, deve recair principalmente sobre os mais ricos e grandes empresas.
Mas em um aspecto os candidatos convergem: na escalada de medidas protecionistas e de incentivo à volta de indústrias que saíram dos Estados Unidos para produzir na Ásia e em outras regiões.
Até mesmo a guerra comercial entre Estados Unidos e China – a troca de tarifas e retaliações esquentada entre Trump e o líder chinês Xi Jinping que abalou os mercados globais nos últimos anos – estará longe do fim.
“Existe uma disputa estrutural por hegemonia entre Estados Unidos e China, esta é a briga do século 21; ela já vinha desde [a gestão de Barack] Obama e vai continuar sob qualquer governo”, disse o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados.
“Biden pode apenas ser mais ortodoxo, no sentido de não aparecer com medidas imprevistas. Trump anunciava numa sexta que ia bloquear 300 produtos chineses e a decisão já tinha validade no dia seguinte.”
Nesse sentido, Trump voltou a prometer, durante a sua segunda campanha, novas linhas de créditos às empresas americanas que retornarem para casa.
Biden tem planos parecidos, reforçando a necessidade de fortalecer a produção de suprimentos essenciais dentro do país e de criar no âmbito doméstico “milhões de trabalhos bem remunerados” e “empregos de qualidade para a classe média”.
Investir em infraestrutura, aumentar o salário mínimo e ampliar o alcance do Obamacare (programa de saúde criado durante o governo Obama) são algumas das propostas apresentadas pelo democrata – e que exigirão a dose extra de impostos que também já vem junto com o plano.
“Os dois entendem que o grande problema é a classe média norte-americana, e voltam suas promessas para ela”, diz a professora de relações internacionais Neusa Maria Bojikian, pesquisadora do Instituto de Estudos Políticos sobre os EUA (INCT-Ineu).
“É um grupo que vem sofrendo desde a crise de 2008, conforme a desigualdade foi aumentando. Muitos empregos foram criados, mas não com a mesma renda.”
Brasil e a agenda ambiental
E o Brasil? Para analistas, países emergentes como um todo podem ganhar com um direcionamento mais aberto a diálogos internacionais, com a volta de um alinhamento às práticas e acordos de organismos como Organização Mundial de Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Isto, somada à maneira menos intempestiva de fazer política, pode se traduzir em bolsas e moedas com menos sobe e desce nesses países.
“Uma vitória de Biden reduziria as incertezas e a volatilidade, além de possivelmente trazer de volta mais apoio a instituições como FMI e o Banco Mundial, o que é uma boa notícia para emergentes que precisam de dinheiro deles”, disse o economista-chefe para América Latina do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho.
Carvalho destaca, porém, que a vitória de Biden com sua agenda ambiental poderia trazer alguns pontos de atrito com o governo brasileiro.
“Certamente uma administração democrata aumentaria os questionamentos ambientais ao governo e poderia dificultar o andamento de acordos comerciais, a exemplo do que já ficou claro no acordo Mercosul-União Europeia”, disse ele. “Novos acordos certamente passariam por uma peneira mais fina e mesmo acordos antigos poderiam acabar sendo revistos.”
É que estão entre as propostas de Biden a construção de uma matriz energética totalmente limpa, estimular outros países a se comprometer com o combate às mudanças climáticas e criar programas de “investimentos verdes” como pilares da retomada econômica.
O novo programa de governo de Trump – que anunciou a saída do Acordo de Paris, de mudanças climáticas, nos primeiros meses de seu primeiro mandato, em 2017 – não menciona diretamente o tema entre as propostas e realizações apresentadas.
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