Todos os presidentes argentinos deixaram o cargo com inflação maior que na posse nos últimos 20 anos
História mostra que a alta dos preços é um problema antigo dos hermanos
O dragão da inflação se reinstalou na Argentina nas últimas duas décadas e o mundo político definitivamente não conseguiu domar o problema.
Quatro presidentes ocuparam a Casa Rosada em 20 anos e todos deixaram a mesma marca: entregaram o cargo com uma inflação maior que a registrada na posse.
Problema antigo
A história mostra que a alta dos preços é um problema antigo dos hermanos. Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, o país convive com ondas de inflação na economia.
No pós-guerra, o governo do presidente que deu nome ao peronismo – de Juan Domingo Perón – já convivia com esse problema tão atual. Na época, o aumento dos preços beirava os 40% por ano.
Na década seguinte, nos anos 1950, os preços chegaram a subir 100% em um ano, mas nada se compara à hiperinflação vista no fim da década de 1980. Na época, o país ficou sem dólares nas reservas – mesmo problema visto atualmente – e a inflação atingiu a estratosférica marca de 3.079% em 1989.
Nova era do dragão
Os problemas voltaram a aparecer nas últimas duas décadas. Pode-se dizer que Nestor Kirchner foi o presidente que inaugurou essa nova era do dragão da inflação argentina.
O presidente tomou posse em 2003 com uma inflação anual de 3,7%. Quando deixou a Casa Rosada, em 2007, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) já havia subido alguns degraus, e atingiu 8,5%.
A alta dos preços na era Nestor Kirchner teve a origem comum no mundo, inclusive no Brasil: o governo gastava muito mais que a arrecadação.
Problema cresceu
O presidente saiu, mas o sobrenome Kirchner continuou na presidência com a chegada de Cristina Fernández de Kirchner. Também ficaram os gastos públicos. E, assim, o problema da inflação não diminuiu. Ao contrário, só cresceu.
Cristina Kirchner, que assumiu com uma alta anual dos preços de 8,5% logo viu a inflação atingir os dois dígitos em 2010. Nessa época, a credibilidade do Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC), o IBGE argentino, foi questionada duramente.
Economistas acusavam o órgão de maquiar os números da inflação a favor do governo.
Com ou sem maquiagem, Cristina Kirchner deixou o governo com inflação anual já na casa dos 26,9%, segundo os dados oficiais.
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Reformas não foram suficientes
Chega, então, o primeiro presidente de centro-direita desse período: Maurício Macri. O ex-prefeito de Buenos Aires chegou à Casa Rosada com uma agenda reformista e ideias liberais para ajustar a economia argentina.
Propôs mudanças estruturais, mas as reformas não foram suficientes. A velocidade do ajuste também deixou a desejar, e, assim, deixou o cargo com alta dos preços anual de 53,8%.
Sem alteração no curso
Em 2019, a esquerda volta à presidência da República com Alberto Fernández. A volta do governo peronista, porém, não alterou o curso do problema econômico. O déficit fiscal continuava, e a inflação acelerou. Assim, o IPC mais que dobrou e atualmente acumulam alta de 142,7% nos 12 meses encerrados em outubro.
Nessa reta final do governo Fernández, o ministro da Economia é Sergio Massa, candidato que concorre no segundo turno e continua no cargo. Aos eleitores, ele diz que, se eleito, fará tudo diferente na presidência.