Spotify irá reduzir pagamentos para sons de chuva, ruídos brancos e faixas não-musicais
Plataforma identificou fraudes na reprodução de faixas, que tinham a mesma rentabilidade de músicas tradicionais
Os chamados “ruídos funcionais” no Spotify terão menor rentabilidade do que os arquivos de música tradicionais a partir do ano que vem.
O gênero inclui sons da natureza, ruído branco, efeitos sonoros e gravações em silêncio.
A plataforma anunciou a mudança na última terça-feira (21) como uma tentativa de reprimir “maus atores”, que utilizam do gênero para gerar receita de forma fraudulenta.
Agora, a duração mínima das faixas de ruídos funcionais aumentou para dois minutos. Além disso, os sons receberão uma fração do valor das músicas tradicionais.
Até o momento, um som com 30 segundos de ruído recebia o mesmo que uma música original de um artista, criando uma “oportunidade de receita para uploaders de ruído muito além de sua contribuição para os ouvintes”, de acordo com o Spotify, além de criar frustração em toda a indústria da musical.
Isso abriu uma brecha para que os criadores de sons funcionais conseguissem manipular o sistema de streaming do Spotify para maximizar a receita com esforço mínimo.
Como os royalties de streaming são pagos parcialmente com base na quantidade de vezes que uma faixa é reproduzida, e sons desse tipo costumam ser ouvidos por horas, o Spotify afirmou que os criadores encurtam os sons para apenas 30 segundos (a atual duração mínima de uma gravação na plataforma) e criam listas de reprodução em looping, para que o mesmo clipe seja ouvido repetidamente.
Dessa forma, o número de reproduções aumenta, assim como a receita.
Embora o Spotify não tenha declarado o montante de desvalorização, a Billboard afirmou que as faixas funcionais agora valeriam um quinto de suas contrapartes musicais.
“Não pode ser que uma transmissão de Ed Sheeran valha exatamente o mesmo que uma chuva caindo no telhado”, disse Robert Kync, CEO do Warner Music Group em maio — um sentimento que é corroborado por outros executivos do setor.
“Obviamente, o ruído branco é muito diferente de ‘Bohemian Rhapsody’, mas, atualmente sob este modelo, é pago da mesma forma”, disse Marina Guz, diretora comercial da Endel, à CNN.
Guz explicou que gravadoras e artistas sofrem uma pressão crescente para mudar como o Spotify faz distinções entre ruído funcional e música.
“Houve uma conversa durante todo o ano sobre o valor da música e como algo como alguém apenas colocar ruído branco é diferente de pagar por um artista que passou um ano no estúdio fazendo o álbum com todos os tipos de instrumentos e pessoas envolvidas”, afirmou.
Em outra tentativa de reprimir o comportamento malicioso, a plataforma anunciou que irá adotar medidas para cobrar gravadoras e distribuidores por faixa quando houver suspeita de streaming artificial, que ocorre quando a contagem de reprodução aumenta de forma fraudulenta, por meio de bots, por exemplo.
A empresa também adotou mudanças em seu sistema de royalties, passando a compensar apenas faixas que são tocadas mais de mil vezes.
O Spotify investiga ainda podcasts de ruído branco. Segundo a Bloomberg, os conteúdos que continham apenas sons ambientes representavam 3 milhões de horas de consumo diário, que eram aumentadas pelo próprio algoritmo da plataforma. Isso teria resultado em uma perda de US$ 38 milhões (cerca de R$ 186 milhões) em lucros anuais potenciais.
Os criadores de tais podcasts poderiam arrecadar até US$ 18 mil (R$ 88 mil) por mês em anúncios, descobriu a Bloomberg em 2022.