Socorro a bancos, IA e Apple: o que Buffett disse em reunião anual com acionistas
Berkshire Hathaway, empresa do megainvestidor, reportou salto nos lucros nos resultados do primeiro trimestre, divulgados pouco antes do encontro
Batizada de “Woodstock dos capitalistas”, a reunião anual com acionistas da Berkshire Hathaway, realizada neste sábado (6), contou com a presença do CEO do conglomerado de investimentos, Warren Buffett, hoje com 92 anos, e do vice-presidente, Charlie Munger, 99, que subiram ao palco para responder a perguntas dos investidores e discutir sobre os negócios e a economia em geral.
Os investidores esperavam ouvir os comentários do “oráculo de Omaha”, apelido de Buffett no mercado, a respeito das recentes falências de bancos nos Estados Unidos e o abalo na indústria, e, sem surpresas, o tema esteve entre os tópicos que ele abordou.
“Teria sido catastrófico”, disse Buffett, se os reguladores não tivessem apoiado os correntistas do Silicon Valley Bank.
Buffett também observou que o medo no setor bancário sempre foi contagioso, mas a criação do FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), agência federal que tem a função de garantir os depósitos dos bancos, foi “extremamente sensata”, de acordo com o megainvestidor, garantindo que o governo dos EUA não tem interesse em deixar os bancos quebrarem.
Em relação ao First Republic Bank, banco que quebrou há pouco mais de um mês, Buffett disse: “O CEO e o diretor devem sofrer. Os acionistas, no futuro, não; eles não fizeram nada.”
Os nonagenários foram céticos em relação ao falatório exagerado em torno da inteligência artificial, mas disseram que ela deve ser transformadora.
“Vamos ver muito mais robótica no mundo”, disse Munger. “Pessoalmente, sou cético em relação a parte do ‘hype’ em torno da inteligência artificial; acho que a inteligência à moda antiga funciona muito bem.”
Buffett também fez comentários sobre o mercado imobiliário corporativo norte-americano. Há uma abundância de espaços vazios em prédios de escritórios, e as taxas de juros mais altas também fizeram com que os desenvolvedores atrasassem novos projetos de construção.
“Estamos começando a ver as consequências de pessoas que conseguiam tomar empréstimos a 2,5% e descobrir que isso não funciona com as taxas atuais”, disse Buffett.
Na quarta-feira (3), o banco central norte-americano fez mais um aumento na taxa de juros do país, que chegou a 5%.
Buffett também revelou o melhor negócio no amplo portfólio da Berkshire: “A Apple é diferente das outras empresas que possuímos”, disse. “Simplesmente é um negócio melhor”. A Berkshire tinha, recentemente, uma participação de 5,6% na Apple, de acordo com a agência de notícia Reuters.
Salto nos lucros
Divulgados pouco antes do encontro, os resultados da Berkshire Hathaway mostraram um salto nos ganhos no primeiro trimestre de 2023.
Os ganhos operacionais aumentaram cerca de 12% em relação ao ano anterior, para US$ 8,065 bilhões no primeiro trimestre, disse o comunicado de resultados no sábado.
O lucro operacional é o lucro que resta depois que os custos das operações principais de uma empresa são retirados.
O conglomerado registrou lucro de US$ 35,5 bilhões no primeiro trimestre. O saltoé atribuído, em parte, ao retorno do império de seguros da Berkshire.
O negócio de subscrição de seguros da empresa teve um aumento claro, de ganhos de US$ 167 milhões no primeiro trimestre de 2022 para US$ 911 milhões agora.
A receita com investimentos em seguros aumentou de US$ 1,17 bilhão para US$ 1,97 bilhão.
A companhia de seguros Geico, controlada pela Berkshire, teve um prejuízo com as subscrições de US$ 1,9 bilhão no final do ano passado, depois de perder participação de mercado para a concorrente Progressive.
Até aqui neste ano, porém, está se saindo melhor, registrando um lucro de US$ 703 milhões no primeiro trimestre, graças a mensalidades médias mais altas e custos de publicidade mais baixos, mesmo com um número menor de sinistros.
Por outro lado, a empresa de energia e ferrovia de carga da Berkshire, BNSF, teve uma queda nos lucros em comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
A Berkshire também recomprou aproximadamente US$ 4,4 bilhões em ações, e seu caixa aumentou para US$ 130,6 bilhões, de US$ 128 bilhões no quarto trimestre de 2022.