Situação econômica no fim de 2022 pode ser pior que agora, diz especialista
Apesar da 'era de muita incerteza', é possível fazer inflação e desemprego recuarem, avalia Marcelo Neri
O Brasil deve encarar tempos difíceis para controlar a inflação e o desemprego a médio prazo, avalia o diretor do Centro de Estudos da FGV Social, Marcelo Neri, em entrevista à CNN neste sábado (30). Mesmo com a queda no número de desempregados para 13,7% no trimestre até julho, o cenário não parece favorável.
“Na média, ainda devemos estar uns oito pontos percentuais abaixo da renda dos brasileiros em geral em relação ao começo da pandemia. Agora entre os mais pobres esse déficit é ainda maior. O desemprego, antes de melhorar definitivamente, talvez piore para conter a inflação. Estamos entre a cruz e a espada”, diz.
“Temos um problema sério de ‘estagflação’ que afeta mais os mais pobres. Para o final de 2022, esperaria uma situação pior que agora. Mas o que me preocupa mesmo é 2023, quando acaba o programa social e o desemprego não terá nenhum tipo de anestesia social mais forte. O que a gente precisa são programas sociais bem focalizados e bem financiados, que não gerem turbulência, que é ruim para os mercados e para as pessoas de baixa renda”, prevê Neri.
Ele acredita na recuperação, mesmo que leve um tempo. “A gente trouxe a inflação de 10% para 4% na recessão de 2015 a 2019. A inflação vai cair, o desemprego depois cai, mas temos alguns problemas estruturais que não estão respondidos e vão surgir mesmo depois das eleições. É uma era de muita incerteza, infelizmente não conseguimos traçar um cenário com clareza, mas essa situação de cobertor curto, de inflação alta com desemprego alto, limita bastante o que se pode fazer”.