Entenda como estão as negociações com servidores que ameaçam fazer greve
Promessa de Bolsonaro de reajuste a policiais gerou protestos de outras categorias, que não serão beneficiadas ou que tiveram até um corte de orçamento, como no caso da Receita
A briga dos servidores federais por aumentos salariais está virando uma queda de braço. De um lado, a equipe econômica quer vetar qualquer reajuste por falta de recursos e, de outro, está o presidente Jair Bolsonaro, que anunciou que iria conceder reajuste aos policiais federais.
O Congresso Nacional chegou, inclusive, a aprovar, com o aval do presidente, uma verba específica no Orçamento deste ano para contemplar esses aumentos salariais para a área de segurança pública federal.
A promessa acabou gerando protesto de outras categorias, que não serão beneficiadas ou que tiveram até um corte de orçamento, como no caso da Receita Federal.
Os servidores da receita federal puxaram o bonde, sendo os primeiros a se mobilizar até o momento.
Na quarta-feira, 1.288 servidores da Receita entregaram seus cargos de chefia em protesto. O número é mais da metade de todos os cargos de chefia do setor, que chegam a 2.000. Esses funcionários continuam sendo servidores, recebendo salários, mas abriram mão da comissão destinada aos cargos de chefia.
Agora, outras categorias também começaram a se mobilizar. Segundo o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que representa os funcionários públicos federais, cerca de 19 categorias devem aderir à paralisação prevista para o dia 18.
Para tentar por panos quentes na situação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniu na tarde de quinta-feira (14) com representantes de auditores fiscais. No entanto, os servidores deixaram o encontro frustrados com a falta de solução sobre o pagamento do bônus de eficiência reivindicado pela categoria, e falaram em acirramento do movimento de protesto.
Ainda não é claro como o presidente Bolsonaro irá se posicionar nos próximos dias. No fim de semana, ele chegou a dizer que não tinha nenhum ajuste garantido, nem mesmo a policiais, mas essa situação tem virado um pouco ao longo dessa semana, o presidente está sofrendo pressão da bancada da bala pelo reajuste.
Se ele ceder, sofrerá pressão para dar a todos os outros. Isso passa um sinal muito ruim ao mercado, e é por isso que Guedes resiste a conceder esses aumentos.
Para economistas ouvidos pela analista de economia da CNN Priscila Yazbek, o principal problema é que não há espaço no teto de gastos, uma discussão que foi levada durante todo o ano passado, em meio à tramitação da PEC dos precatórios no Congresso, que abre espaço ao Auxílio Brasil no orçamento.
Os servidores federais já ganham bem mais que os empregados da iniciativa privada, como já mostraram diversos estudos, e existe desigualdade salarial dentro do próprio funcionalismo publico federal.
Especialista do assunto da Fundação Dom Cabral, Bruno Carazza, explica que esses funcionários públicos estão mirando como salário o teto do funcionalismo público. Por exemplo, o reajuste que a PF quer para seus servidores prevê que um delegado ganhe cerca de R$ 40 mil, mesmo salário que ganha um ministro do STF.
Mas, ainda assim, o especialista ouvido pela analista da CNN diz que ainda tem dúvidas se o reajuste será aprovado, porque quase todas as decisões de Bolsonaro recentes têm sido tomadas no sentido de fragilização da responsabilidade fiscal.
Outro fator é que são categorias que conseguem fazer pressão muito grande, travar a máquina pública, o que torna ainda mais incerto o futuro dessa questão.
*Publicado por Ligia Tuon, com informações de Estadão Conteúdo