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    Sem chance de vitória elástica nos EUA, mercado projeta próximos passos

    Dias antes da eleição presidencial americana, boa parte do mercado financeiro antecipava uma "blue wave", o que não ocorreu na prática

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Dias antes da eleição presidencial americana, boa parte do mercado financeiro antecipava uma “blue wave”. Nas projeções, uma delas do banco Goldman Sachs, o Partido Democrata ganhava a presidência e a maioria das duas casas legislativas num resultado acachapante.

    Neste cenário, sob o comando de Joe Biden, os democratas teriam liberdade para aprovar basicamente qualquer medida da sua agenda. Com isso, esperava-se um aumento nos gastos públicos e na carga tributária, além de mudanças mais profundas nos setores de saúde, combustíveis fósseis e tecnologia.

    Acompanhe em tempo real a contagem dos votos

    O que se vê na contagem dos votos, no entanto, é um cenário sensivelmente diferente. O cenário que se desenha caminha para uma vitória apertada de Joe Biden e a manutenção dos democratas no comando da Câmara de Representantes (apesar de ter perdido algumas cadeiras). Mas o Senado, que poderia passar para o lado azul, deve se manter republicano.

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    E esse formato agrada o mercado financeiro. “É o melhor dos dois mundos, com os partidos precisando conviver”, diz Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos. “Vimos movimento exacerbado de altas nos últimos dias e antes tivemos dias de preparação para o pior. Isso tudo vai passar e os problemas antigos vão voltar a aparecer.”

    (Antes disso, o que ainda preocupa os investidores é a possível judicialização das eleições. “Vai depender de quanto tempo ela vai durar, mas deve limitar o ganho das bolsas enquanto isso permanecer. Este é o cenário base no caso de judicialização”, avalia Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Corretora.)

    Mas, superados estes imbróglios legais, o mercado deverá trabalhar no ajuste de expectativas para setores e empresas, baseado nas diferenças entre o governo Trump e a nova gestão, possivelmente de Biden. Confira abaixo o que pode mudar:

    Setor financeiro

    Quando Cantreva cita o reaparecimento de antigas mazelas, a maior e mais urgente delas continua sendo a pandemia do novo coronavírus. O governo americano negocia um novo pacote de estímulos há meses e o mercado espera ansiosamente, e já precificou bastante, a sua chegada.

    No momento em que se antecipava uma vitória completa dos democratas, mais intervencionistas, a expectativa era a aprovação de um valor astronômico, na casa dos US$ 3,5 trilhões. “Seria bom para os bancos, porque com o governo gastando tanto, a curva de juros poderia empinar para cima”, diz Cantreva.

    Já o cenário mais provável, com o Senado republicano, deve trazer valores intermediários e menos temores fiscais. Isso deve se mostrar ruim para as instituições financeiras. “Se não tiver gastança e a curva de juros continuar reta, os bancos americanos devem continuar sofrendo”, completa.

    Saúde

    Sem um sistema universalizado de saúde no país, os Estados Unidos têm batalhas nessa seara há décadas. Os democratas defendem uma ajuda maior do Estado no setor, enquanto os republicanos tendem a dar preferência para a manutenção do mercado de operadoras privadas.

    Caso se confirmasse uma vitória decisiva dos democratas nas eleições, o governo teria ferramentas para implementar mais políticas públicas no segmento. O que vai se desenhando, no entanto, é uma via intermediária que aumenta os investimentos na área, mas beneficia o mercado.

    “O setor de healthcare já está performando bem na bolsa, pensando numa expansão do ObamaCare”, diz William Alves, estrategista-chefe da corretora Avenue. “Republicanos são avessos a regular o setor, mas os democratas devem conseguir aumentar o investimento. Isso é bom para as empresas que operam planos de saúde.”

    Tecnologia

    Os papéis das empresas de tecnologia também dispararam em meio à contagem de votos. Isso ocorre porque, mesmo que o democrata Joe Biden ocupe a Casa Branca nos próximos quatro anos, não deverá passar facilmente medidas de aumento de impostos ou de regulação das big techs com a nova composição do Congresso americano.

    No entanto, é bom deixar claro que esse movimento de alta faz parte de um momento de especulação no mercado. “Essa especulação de curtíssimo prazo vai continuar até a confirmação do novo presidente”, Para Rafael Panonko, analista-chefe da corretora Toro Investimentos.

    Cantreva reforça o sentimento, mas estima que os papéis de tecnologia continuariam subindo de qualquer forma, a não ser que, com maior liberdade, Biden conseguisse aumentar a carga tributária do setor. 

    Também é preciso lembrar que há uma bandeira unindo democratas e republicanos: o desejo de diminuir o controle de algumas Big Techs sobre o mercado que atuam. Google e Facebook, por exemplo, são alvos de processos antitruste movidos pelo governo americano.

    Meio Ambiente

    O meio ambiente é outra das grandes bandeiras de Biden que pode ter menos mudanças que o esperado. Enquanto o democrata busca uma menor exploração de combustíveis fósseis e maior aplicação das energias renováveis, os republicanos tendem a proteger estas indústrias tradicionais.

    É verdade que a Sunrun, a maior empresa de energia solar em telhados dos Estados Unidos, viu suas ações crescerem mais de 300% este ano e o ETF Invesco Solar mais do que dobrou em 2020. Mas a realidade daqui para frente promete um equilíbrio entre o velho e o novo.

    “Sem o controle das duas casas legislativas, é possível que os democratas não consigam tirar os incentivos da indústria de petróleo. Com isso, as empresas voltadas para energias limpas tendem a não crescer tanto”, pondera Alves, da Avenue.

    Apostas e drogas legalizadas

    Além da eleição de representantes, vários estados referendaram pautas de costumes, como a legalização de drogas (principalmente a maconha, mas o estado do Oregon também liberou o uso de cogumelos para tratamentos médicos) e de sites de apostas esportivas. Com isso, empresas de ambos setores demonstraram tendência de alta.

    Especificamente para o setor canábico, a coisa poderia ter ficado ainda melhor. “Sem a ‘blue wave’, vai ser difícil para o setor conseguir legalizar a maconha no país como um todo, o que era o grande objetivo”, explica Alves. “Isso porque, além de aumentar o mercado consideravelmente, a lei americana poderia servir de exemplo para outros países.”

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