Sem auxílio, Brasil terá explosão da pobreza no próximo ano, avalia economista
Em entrevista à CNN, o economista e especialista em contas públicas, Pedro Nery, alertou que manter o Bolsa Família como está até 2022 poderá ser um problema
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desistiu nesta terça-feira (15) do projeto do Renda Brasil, dizendo que durante seu mandato o assunto não voltará a ser discutido.
Em entrevista à CNN, o economista e especialista em contas públicas, Pedro Nery, alertou que sem uma mudança no Bolsa Família ou um novo programa social, o Brasil pode ver a pobreza aumentar no próximo ano.
“Quando o presidente diz que vai manter o Bolsa Família até 2022, ele vai manter os critérios atuais, que são duros em contrapartida aos do auxílio emergencial, que é um programa generoso”, disse Nery.
“Na ausência do auxílio [que termina ao final de 2020], teremos explosão da taxa de pobreza no próximo ano, algo que não observamos há décadas. O presidente vai ter que encontrar uma saída e ter que brigar com algum grupo para atender essa grande parcela da população, já que 67 milhões de brasileiros receberam o auxílio.”
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Nery diz que a ideia de congelar as aposentadorias já era um tema que vinha sendo discutido no Ministério da Economia, apesar de considerar a proposta ruim. Ele questiona a capacidade de diálogo da pasta. “Observamos a dificuldade de comunicação do ministério sobre suas intenções.”
Reforma administrativa
Outra pauta da entrevista foi a reforma administrativa, enviada pelo governo para o Congresso há algumas semanas, mas que, na avaliação de Nery, não ajuda o governo na abertura de espaço no teto de gastos para a criação de novo programa social.
“A reforma administrativa não impacta os atuais servidores. Esse devia ser o principal foco se o governo quisesse fazer um programa de transferência de renda mais robusto que o Bolsa Família,” avalia.
“Seria ideal que tivéssemos uma liderança no país que comande a discussão sobre programas sociais e funcionalismo público.”
Mesmo com perspectiva negativa, Nery acredita que “momentos de comoção nacional” podem gerar mudanças estruturais para o país.
“Temos a faca e o queijo na mão para avançar na discussão das contas públicas, revertendo privilégios.”
(Edição: Sinara Peixoto)