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    Se pudesse ter uma “varinha mágica” e trabalhar com juros baixos, seria feito, diz Campos Neto

    Presidente do BC reforçou que o juro real brasileiro tem caído ao longo dos últimos anos

    Cícero Cotrim e Célia Froufe, do Estadão Conteúdo

    O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, repetiu nesta sexta-feira que os juros reais no Brasil são altos, mas especialmente porque o juro real neutro do país é elevado. Ele destacou que o “esforço monetário” empreendido pelo BC — a diferença entre o juro real efetivo e o neutro — está em linha com o de outros países.

    “Se pudesse ter uma varinha mágica e trabalhar com juros baixos, inflação baixa, crescimento pujante, desemprego baixo, obviamente que a gente faria”, afirmou, em um evento da Associação Brasileira de Franchising, em São Paulo.

    Campos Neto repetiu que o juro real brasileiro tem caído ao longo dos últimos anos, como resultado do amadurecimento institucional do BC, inclusive com a autonomia, e da aprovação de reformas econômicas. “Ao longo dos anos, a gente tem conseguido trabalhar com juros menores”, disse.

    O presidente do BC acrescentou que o País tem conseguido trabalhar com um desemprego mais baixo sem causar uma inflação grande na área de serviços, embora tenha reconhecido haver uma preocupação com esse tema.

    Barra para BCs e governos resgatarem economia é alta

    Campos Neto disse que a percepção no mundo é a de que a barra para Bancos Centrais e governos resgatarem a economia é alta. “Quando tem uma desaceleração na economia, a gente sabe que, em algum momento, o governo vem e resgata.

    Ou porque tem um programa fiscal, ou porque o Banco Central pode entrar comprando ativos”, comentou.

    Para ele, essa percepção se formou principalmente a partir de uma reunião feita em Sintra (Portugal) há alguns anos, de que os bancos centrais podem entrar e comprar crédito privado, como já entraram.

    “A gente aqui no Brasil resistiu a fazer isso, e foi bom. Mas vários outros bancos centrais fizeram isso”, lembrou.

    Campos Neto salientou que os governos também podem fazer gastos fiscais, mas o problema é que o mundo está muito endividado e, portanto, com menos espaço para fazer gasto fiscal. “Os bancos centrais perderam muito dinheiro com essa estratégia, então a barra é muito mais alta”, considerou.

    Ele deu como exemplo o Banco Central da Suíça, que perdeu 17% do PIB comprando crédito privado.

    “Imagina se o Banco Central (do Brasil) tivesse comprado crédito privado e tivesse perdido 17% do PIB. Eu acho que ia ter sido bastante difícil, para mim, explicar uma coisa como essa”, brincou.

    Os instrumentos do governo hoje, no entanto, já não estão com a mesma potência que tinham no passado, segundo Campos Neto, para quem o problema principal é o endividamento mundial. “A gente vem com a dívida mundial subindo há algum tempo, e não tem nenhuma previsão de convergência de dívida em grande parte dos países”, afirmou.

    Citando o período da pandemia, o presidente do BC destacou que o gasto foi muito regressivo, com o mundo rico despendendo 20% do PIB; o mundo emergente, em geral, gastou 10% e o mundo mais pobre apenas 4%.

    “Então, a gente tem uma situação agora, exatamente onde os países mais de baixa renda têm mais necessidade de dinheiro, só que o dinheiro está mais caro, porque o juro subiu no mundo inteiro”, comparou.

    Campos Neto comentou ainda que dois terços da dívida mundial são dos Estados Unidos, Europa e Japão, e que ela custava 1% ao ano para carregamento antes da pandemia. “Agora, custa entre 3,5% e 4%. É como você multiplicar por 3,5 o custo de dois terços da dívida mundial”, calculou, salientando que esse movimento acaba afetando a liquidez.

    “Os países mais pobres já estão enfrentando problemas, estão deixando a dívida ficar mais curta, porque está difícil rolar a dívida e o custo da dívida está subindo bastante”, disse, salientando que, em conversas com representantes de países africanos, que têm o rating mais baixo, há relatos de que está difícil emitir dívida porque, com a taxa de juros americana mais alta e com a taxa mundial mais alta, ninguém quer tomar o risco.

    Discurso de Powell em Jackson Hole

    O presidente do Banco Central destacou ainda que o discurso de sua contraparte norte-americana, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), na semana passada foi “bastante otimista”.

    Essa fala, de acordo com ele, é que fez com que o mercado acreditasse que a queda de juros em setembro pode ser até maior do que 25 pontos-base, dependendo dos dados. “A gente tem um dado de emprego importante entre hoje e o dia da reunião”.

    No evento organizado pela Associação Brasileira de Franchising, ele destacou que os Estados Unidos estão puxando um ciclo de queda, com uma percepção mais clara de que a economia do país está desacelerando e que a mão de obra está começando também a bater num ponto de inflexão e começando a ficar um pouco mais folgada.

    Campos Neto voltou a chamar atenção para a eleição norte-americana, tanto do lado democrata quanto no do republicano, que conta com três dimensões muito inflacionárias.

    O primeiro ponto citado é o de que não tem em vista nenhum sinal de que vai ter algum tipo de ajuste fiscal. Isso é uma coisa preocupante, segundo ele, porque a dívida americana está subindo muito rápido.

    Do outro lado, mencionou o presidente do BC, há um tema de protecionismo que também é presente nas duas campanhas, com um grau de diferença especialmente em relação à China.

    Já a terceira dimensão apresentada pelo banqueiro central é a parte de imigração, com uma política muito anti-imigração.

    “Foi feita uma simulação: se a gente deportasse 7 milhões e meio de pessoas, a inflação ia para 3%. Você tem um grande efeito inflacionário, lembrando que nesse período de mão de obra apertada, a imigração foi muito boa para conter esse aumento de custos”, considerou.

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