Entenda por que os controversos cardápios em QR Code sobreviveram à pandemia
Apesar de desagradar alguns clientes, tecnologia traz praticidade e redução de custos aos estabelecimentos
De todas as novidades adotadas durante a pandemia, talvez nenhuma outra seja tão criticada quanto os cardápios em QR Code. Ainda assim, eles persistem.
No início da pandemia, os restaurantes abandonaram os menus físicos e decidiram reavivar uma tecnologia há tempos deixada de lado: o QR Code (ou Código de Resposta Rápida, na tradução literal).
Na época, parecia uma boa ideia. Com a flexibilização das medidas de restrição, especialistas em design de restaurantes aconselharam os estabelecimentos a retirar das mesas itens de alta intensidade de toque, como potes de sal, pimenta e ketchup. Até os cardápios físicos tiveram de sair, e por isso o QR Code – que, quando escaneado, abre um menu digital – entrou na moda.
No entanto, a partir do momento que ficou mais claro que a Covid-19 provavelmente não era transmitida por meio de superfícies, as pessoas revelaram seu verdadeiro sentimento pelos cardápios digitais: eles eram odiados.
Mas, para os restaurantes, os QR Codes são mais do que apenas uma forma de oferecer um cardápio sem contato. A tecnologia resolve problemas que os estabelecimentos tinham havia anos e que são especialmente sentidos agora, como custos de impressão e escassez de pessoal.
É “um dilema interessante”, disse Robert Byrne, diretor de insights do consumidor e da indústria na empresa de consultoria Technomic. Os restaurantes devem continuar a usar uma tecnologia que os clientes detestam ou voltar a adotar uma opção mais dispendiosa?
Alguns decidiram que os menus em QR Code têm de acabar, porque seus clientes não gostam e acabam pedindo menos em geral por causa desse tipo de cardápio.
Outros donos de restaurante optaram por manter a tecnologia, ou estão adotando pela primeira vez, porque a melhor opção seria transformá-la em algo que as pessoas realmente querem usar.
De fato, QR Codes melhorados podem ser o futuro. A Square, que vende serviços digitais e de ponto de venda para restaurantes, viu o uso de seus QR Codes com recursos para fazer pedidos aumentar em 143% entre seus clientes no ano passado, e mais ainda neste ano até agora.
‘Tragam os cardápios de volta’
Avaliações ruins de QR Codes estão por toda a internet. No ano passado, a revista “Slate” publicou um artigo com a manchete exigindo “Tragam os cardápios de volta!” O subtítulo: “Estamos cansados dos QR Codes.” No início deste ano, a “Vice” declarou “F****** os QR Codes”, e em seguida lamentou: “Só queremos segurar um cardápio de novo.”
Não estamos falando apenas de uma minoria de haters. Uma pesquisa recente da Technomic identificou que cerca de 88% dos entrevistados disseram preferir cardápios físicos a QR Codes. Cerca de 66% dos entrevistados responderam que concordam ou concordam fortemente que não gostam de QR Codes porque isso implica em pegar o telefone assim que você se senta à mesa.
Outros 57% concordaram que o uso de QR Codes parecia uma obrigação, e 55% afirmaram que os cardápios digitais eram difíceis de ler e de se navegar.
Alguns restaurantes, sabendo da rejeição por parte dos clientes, trouxeram os menus físicos de volta.
A Darden Restaurants (DRI), proprietária do Olive Garden, Longhorn Steakhouse e outras redes, usou os códigos no início da pandemia antes de fazer a transição para menus de uso único, e depois voltar para cardápios normais por causa da preferência dos clientes, segundo um porta-voz.
O grupo BJ’s Restaurants (BJRI) trouxe de volta seus cardápios em papel no fim do ano passado. “Uma das coisas que ouvimos de nossos clientes é que eles adoram um cardápio físico”, comentou o CEO Greg Levin durante uma chamada com analistas em outubro.
Jeremy Wladis, presidente do The Restaurant Group, que opera oito restaurantes nos estados da Carolina do Norte, Washington, D.C. e Nova York, também voltou aos menus impressos. No início da pandemia, Wladis implantou os QR Codes em seus restaurantes em Nova York. No fim, acabou abrindo mão deles.
Com um cardápio físico, “acho que as pessoas veem mais coisas, pedem mais pratos e têm uma experiência melhor”, explicou Wladis. Além disso, ele prefere um menu de verdade. “Eu gosto de ver um cardápio por inteiro”, acrescentou. “Sou das antigas.”
Isso não quer dizer que o QR Code não tenha vantagens. “É mais fácil, porque você faz alterações no menu e depois muda no computador, e pronto”, afirmou. Em outubro, Levin do BJ’s Restaurants comentou: “acho que todos nós do setor estávamos animados com os menus em HTML, porque todo mundo pensava que ia cortar os custos de impressão”.
Para além dos cardápios digitais
Os QR Codes podem ser um alívio para os donos de restaurantes navegando em um ambiente difícil, onde os insumos ficam mais caros ou inacessíveis de repente, e o mercado de trabalho está escasso.
“Quando você tem de atualizar o cardápio, mesmo com pouca frequência, isso pode ficar caro”, disse Byrne, da Technomic. Os custos aumentam quando um operador gerencia uma cadeia de restaurantes.
E, hoje em dia, manter um cardápio acrescenta outro nível de complexidade, observou Bryan Solar, gerente geral da Square for Restaurants.
Os QR Codes permitem que restaurantes atualizem os preços e a disponibilidade rapidamente e sem custos adicionais, explicou, mesmo se “durante o fim de semana o preço do abacate aumentar 50 centavos”. Além disso, com os QR Codes, hosts ou garçons não precisam perder tempo entregando cardápios aos clientes. Isso pode aliviar o peso sobre um restaurante que já está com falta de pessoal.
Ainda assim, Bryan Solar entende por que muitas pessoas não gostam de menus digitais.
“Quando as pessoas dizem que querem que o QR Code morra ou desapareça, eu concordo com esse sentimento sobre o QR Code 1.0”, ponderou, referindo-se a códigos que direcionam para arquivos PDF estáticos ou que são difíceis de usar.
Contudo, ele acrescentou, as pessoas podem gostar de cardápios digitais se eles forem mais responsivos e interativos e puderem ser usados para fazer pedidos, somar itens às suas contas ou pagar por refeições. “Essas são experiências muito mais agradáveis do que o zoom in, zoom out em um PDF”.
Esperar para pagar a conta é “um incômodo muito maior para os consumidores” do que ler um cardápio, afirmou Byrne, e é algo que pode ser resolvido usando uma tecnologia semelhante. “Quero poder pagar quando quiser ir embora. Aí todo mundo fica feliz”.