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    Rotatividade de presidentes não é boa para Petrobras ou para o país, diz Adriano Pires

    Para o especialista em energia, solução que governo procura para preços dos combustíveis depende de políticas públicas

    Elis Francoda CNNJoão Pedro Malardo CNN Brasil Business em São Paulo

    Com troca anunciada na segunda-feira (23), a Petrobras deve ter em breve o seu quarto presidente em dois anos, o que representa uma rotatividade que não é boa nem para a empresa e nem para o país, segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie).

    Pires, que chegou a ser indicado pelo governo para o cargo mas desistiu da nomeação, disse em entrevista à CNN nesta terça-feira (24), que a troca “é uma coisa que deveria ser evitada, porque desvaloriza o próprio patrimônio da empresa”.

    Ele avalia que as ações da empresa na bolsa de valores brasileira e os recibos de ações na bolsa de Nova York (ADRs) devem ser prejudicadas pela troca, reduzindo o valor de mercado da companhia.

    “A notícia não é boa porque vem em um momento de grande anormalidade no mercado, com preço do barril de petróleo acima dos US$ 100 e ano eleitoral. Se não tivesse um barril tão caro e um ano eleitoral, a troca agora seria diferente, provavelmente o Roberto Castelo Branco nem teria saído”, afirma, se referindo ao primeiro presidente da estatal demitido.

    O especialista considera que, em outro contexto, a substituição poderia ser normal devido ao novo ministro de Minas e Energia, já que “é importante que tenha na Petrobras um presidente que ele confie, tenha certa intimidade”.

    Já em um contexto conturbado como o atual, o cenário é diferente. “Todo mundo sempre vai e fala que o presidente Bolsonaro está procurando alguém para controlar o preço, mas nenhum dos presidentes até agora controlou os preços, então o discurso do presidente está muito verbal, mas na prática não há controle”.

    A avaliação do economista é que o novo indicado, Caio Mário Paes de Andrade, ainda terá uma “trajetória longa” até assumir o cargo, com o processo demorando de 15 dias a um mês.

    “Em um primeiro momento, a indicação de uma pessoa sem conhecimento do mercado de óleo e gás traz uma certa desconfiança do mercado, mas vamos ver como vai ser a gestão. Me parece uma pessoa experiência em termos de setor público, mercado privado, mas não é fácil dar a solução que o governo está procurando”, avalia.

    Ele afirma que o descontentamento do governo com a estatal é piorado em um contexto eleitoral. “O preço do combustível traz efeitos negativos, descontentamento para a população e inflação, e o processo inflacionário no Brasil está crescendo muito”.

    Entretanto, as trocas não levam a um controle de preços porque o próprio estatuto da companhia dificulta a prática, determinando que a Petrobras seja ressarcida caso o governo a obrigue a segurar preços e ela tenha prejuízo.

    Além disso, Pires diz que “e ficar muitos dias sem aumentar o combustível e se houver um crescimento muito grande no barril, desvalorização do câmbio, pode ter defasagem enorme e ninguém importa combustível, e o Brasil depende dessa importação, então pode causar desabastecimento”.

    Para ele, “a saída não é controle de preços, seria criar um fundo, mas parece que o Ministério da Economia não gosta dessa ideia do fundo, acha que vai ferir teto de gastos. Enfim, a solução não é fácil, mas não está na Petrobras, está no governo, em política pública. A Petrobras tem que continuar fazendo o que fez até agora, seguir o mercado internacional e dar os lucros que está dando”.

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