Risco do país ainda viver uma estagflação é real, diz economista
À CNN, André Braz afirma que não haverá reversão dos preços para como eram em 2019, apenas uma estabilização em um patamar muito alto
Os reajustes nos preços da gasolina e do gás de cozinha, anunciados pela Petrobras, estão valendo a partir deste sábado (9). Segundo a empresa, o aumento tem o objetivo de evitar o desabastecimento. Em entrevista à CNN, o economista André Braz analisou o desafio da alta inflação e a necessidade de tentar contê-la aumentando a taxa de juros, o que faz com que o Brasil enfrente dificuldades de crescimento da economia.
“As previsões de PIB [Produto Interno Bruto] para o ano que vem já estão muito menores do que estimávamos poucos meses atrás. Algumas casas já preveem [crescimento] em torno de 0,5% ou algo muito tímido. E o risco de a gente em algum momento viver a estagflação é real”, afirma.
Para o especialista, a expectativa de crescimento para país em 2022 está “ladeira abaixo” e a análise otimista de que o Brasil conseguiria crescer 2,5% no no que vem se torna mais inalcançável.
“A política de juros custa a fazer efeitos, ela é mais lenta num cenário em que a inflação é mais de custos, e os preços de vários produtos estratégicos — como energia e combustíveis — não vão parar de subir.”
Estes aumentos impactam diretamente os custos de bens e serviços e a probabilidade de um grande alívio nos preços é remota até o começo do ano que vem.
“Seguindo com um certo otimismo, lá para o final do primeiro trimestre do ano que vem, a gente já vai ter um cenário um pouco melhor. Quem sabe até lá o volume dos nossos reservatórios já melhorem um pouco a ponto de termos uma bandeira tarifária menos onerosa para o consumidor. Havendo uma queda no custo da energia, isso já ajuda muito, tanto as famílias, quanto a prestação de serviços, a grande indústria. Isso já vai dar um fôlego para a gente tentar, a partir do final do primeiro trimestre, chegar a uma inflação mais bem comportada e mais próxima da meta no final do ano.”
Porém, até lá, André Braz acredita que seja muito difícil uma reversão integral dos preços. “Os preços agora vão se estabilizar em um patamar muito mais alto. Isso vai continuar sendo um desafio para as famílias de baixa renda, em especial, porque a situação do mercado de trabalho ainda não é ideal.”
Examinando a situação específica do Brasil, o economista diz que não somente a alta da inflação no resto do mundo e o aumento das grandes commodities impactaram negativamente o país. Ele explica que boa parte decorre da desvalorização cambial do real frente ao dólar. “Essa desvalorização, combinada com preços mais altos, trouxe para a gente um desafio inflacionário muito maior.”
Braz também inclui no resultado do cenário econômico atual, o fato da economia brasileira já estar ruim no período pré-Covid-19, além da falta de credibilidade para atrair investimentos externos, que poderiam favorecer a situação do câmbio.
* (sob supervisão de Elis Franco)