Refugiados venezuelanos ganham até quatro vezes menos que brasileiros
No entanto, plano que busca integrar população refugiada pelo país melhorou acesso dessas pessoas ao mercado de trabalho e ao idioma nativo
Os venezuelanos refugiados, que residem em abrigos em Roraima, têm um rendimento médio quatro vezes menor do que os brasileiros.
Em valores absolutos, os venezuelanos nesta condição recebem, em média R$ 594,70 mensais, enquanto a população brasileira tem rendimento médio de R$ 2,4 mil.
Estas são algumas das conclusões da pesquisa “Limites e desafios à integração local de refugiadas, refugiados e pessoas migrantes da Venezuela interiorizadas durante a pandemia de Covid-19″.
Os resultados do levantamento, elaborado pela ACNUR e ONU Mulheres, foram obtidos a partir do depoimento de mil venezuelanos que vieram para o Brasil, ouvidos entre março de 2020 e abril de 2021.
O idioma é uma das principais barreiras para esses refugiados, segundo o estudo. Atualmente, de acordo com os dados, 65% deles apresentam dificuldade de compreender a língua portuguesa.
“Esse problema é mundial. Precisamos pensar em soluções que não sejam provisórias. Por muitas vezes os refugiados são tratados como um problema localizado e temporário e não como cidadãos permanentes. O problema vivido pelos venezuelanos afeta a sociedade brasileira como um todo”, destacou o cientista político e doutor em direito, Geraldo Tadeu.
No entanto, o projeto do governo federal de interiorização dos venezuelanos, medida que busca redistribuir a população refugiada pelo Brasil, melhora gradativamente as condições da população venezuelana, segundo o levantamento da ONU. O rendimento médio entre a população interiorizada, por exemplo, foi um indicador que melhorou: o salário-médio desse grupo foi de R$ 1,3 mil mensais, ligeiramente superior ao salário-mínimo vigente no Brasil, e muito maior que os R$ 594,70 dos venezuelanos que seguem abrigados em Roraima. Até o momento, cerca de 60 mil pessoas foram transferidas do estado que faz fronteira com a Venezuela para outras unidades da federação brasileiras. O número representa aproximadamente 20% da população venezuelana que mora no Brasil.
A estratégia de interiorização de pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela no Brasil também melhora o acesso à educação dos beneficiários e beneficiárias, em comparação com a população que segue abrigada em Roraima. A pesquisa aponta que 67,6% das meninas e meninos dos grupos interiorizados encontram-se matriculadas em escolas e creches nas cidades de destino. Já na população refugiada, que segue no estado do norte do Brasil, essa taxa cai para 41,3%.
Por fim, a compreensão da língua portuguesa também é maior entre os interiorizados, quando comparado com os venezuelanos ainda refugiados. O levantamento mostra que a maioria das pessoas interiorizadas (68,3%) compreende bem ou perfeitamente o idioma. Quando realizado um comparativo por gênero, as mulheres indicaram dificuldade de compreensão em proporção superior à dos homens (35,3% contra 28,2%).
Segundo dados do site do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), até outubro deste ano, 62.680 venezuelanos foram interiorizados. O estado que mais recebeu essa população foi o Paraná (10.220), seguido de Santa Catarina (9.702), Rio Grande do Sul (9.101) e de São Paulo (9.040). Os venezuelanos representam 60% dos refugiados que o Brasil recebe.