Guedes ataca governadores e diz que pandemia não pode virar “farra eleitoral”
Ministro segue descontente com projeto de socorro aos estados e municípios aprovados pela Câmara dos Deputados. Mesmo assim, Guedes acredita em retomada rápida
O ministro da Economia, Paulo Guedes, externou mais uma vez o seu descontentamento com o projeto de auxílio a estados e municípios. Ao participar de uma videoconferência com o ex-ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, do banco BTG Pactual, Guedes afirmou que a pandemia não pode servir de desculpa para uma “farra eleitoral.”
“Oferecemos pacote de R$ 88 bilhões e os governadores saíram felizes. Aí voltam duas semanas depois pedindo algo que o Mansueto (Almeida, secretário do Tesouro Nacional) calculou em R$ 220 bilhões. É Inaceitável”, disse Guedes. “Não pode se transformar uma crise de saúde numa farra eleitoral. Nós não vamos comprometer o futuro do Brasil transformando uma crise de saúde gravíssima numa crise fiscal sem precedentes numa explosão dos orçamentos da República.”
E mesmo com essa questão, o ministro afirmou que a crise ainda não impede uma rápida recuperação econômica do Brasil. “Ainda não sentimos que (a crise) desorganizou a economia”, disse.
Guedes acredita que o Brasil vai surpreender na retomada econômica após a pandemia da COVID-19 e que a economia virá com “mais força”. Na avaliação do ministro, somente o investimento privado irá colocar o brasil em uma trajetória de crescimento sustentável e por isso ressalta a importância da retomada da agenda de reformas. “Temos que usar a inteligência do setor privado”, afirmou.
Para ele, embora a preservação dos “sinais vitais” da economia doméstica não implique no fim imediato do isolamento, é possível ter um distanciamento social sem ter o isolamento propriamente.
“Podemos estar isolados, mas é preciso o máximo de teletrabalho possível, pois é preciso manter os sinais vitais. Isso (economia) precisa girar”, disse o ministro. “Preservar sinais vitais da economia não significa sair do isolamento agora, mas fazer no seu devido tempo. É preciso saber que esse é o futuro.”
Guedes reforçou que a atual crise possui duas dimensões: saúde e economia. Segundo ele, esse é o motivo da insistência do presidente da República, Jair Bolsonaro, na importância de não deixar a economia “parar”.
“Essa é a advertência do presidente. Isso não quer dizer descaso com a saúde dos brasileiros. Seguimos as recomendações do ministro da Saúde, mas se houver divergências, não é o ministro que escolhe o presidente e sim o presidente que escolhe o ministro. Não quer dizer desapreço com a saúde”, disse se referindo a recente substituição do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta por Nelson Teich.
O ministro ainda destacou que a gestão Bolsonaro teve um bom primeiro ano de governo, “ao contrário das expectativas”.
“Nós surpreendemos na aprovação da reforma da Previdência e vamos surpreender de novo”, afirmou. Na avaliação dele, o ano de 2020 começou otimista, politicamente em linha com o Congresso para a realização das reformas estruturais. “Seria um ano com pouco barulho político, apesar das eleições próximas. Havia um alinhamento entre os presidentes da Câmara, do Senado e o presidente da República”, observou.
Ainda no sentido das duas ondas, Guedes afirmou que, com as medidas corretas, a economia vai sair da crise de forma fortalecida. Para isso, Guedes escolheu utilizar uma metáfora da hibernação dos ursos.
“Quando o urso sai da caverna, ele sai forte, vai caçar e vai celebrar a vida. Porque ele não perdeu os sinais vitais, ele apenas economizou energia.”
Servidores
Ao longo de sua fala, o ministro voltou a defender o corte no custo com a folha salarial de servidores públicos. Segundo ele, como a remuneração no serviço público cresceu 50% acima da inflação por mais de um ano seguido, um congelamento do salário por dois anos seria razoável.
“Em meio à pandemia, milhões de pessoas perdendo o emprego… será que o funcionalismo não poderia dar uma contribuição? Será que poderiam ficar esse ano e o ano que vem sem aumento de salários? Será que isso poderia contribuir com o Brasil?”, questionou.
Para ele, a medida seria uma compensação dos gastos extras necessários para o combate à pandemia da COVID-19. Segundo Guedes, muitos servidores chegaram a pedir redução de jornada de trabalho e salário, mas na sua visão o congelamento dos reajustes seria mais efetivo. “Em uma deflação, é mais importante não tirar o poder de compra”, disse.