Real é a moeda que mais perdeu valor no mundo com reação a caso Silveira, mostra levantamento
Sinalização de alta mais forte do juro nos EUA também influencia, mas moeda nacional sofre mais que estrangeiras
O real foi a moeda com o pior desempenho nesta sexta-feira (22) em todo o planeta. O dólar terminou o dia em alta de 4,07%, a R$ 4,8065, na maior alta percentual desde 16 de março de 2020 —no início da pandemia.
Com essa alta, o dólar terminou a semana no maior patamar desde 24 de março.
A desvalorização da divisa brasileira é praticamente o dobro do visto em mercados comparáveis, como os latino-americanos ou grandes exportadores de commodities.
Entre as mais de 40 moedas acompanhadas pela plataforma de cotações Refinitiv, o peso colombiano ficou em segundo lugar no ranking das divisas que mais perderam valor, mas com metade da perda registrada com o real.
Na Colômbia, o dólar ficou 2,18% mais caro. África do Sul, Chile e Peru tiveram perdas modestas, e a moeda norte-americana operou com alta inferior a 1,5%.
Analistas dizem que a grande diferença entre o real e as demais divisas é o noticiário político.
Pesou nos negócios, principalmente para os estrangeiros, o temor de uma nova crise institucional após o presidente Jair Bolsonaro (PL) contrariar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) com um indulto ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).
Um gestor especializado em mercados emergentes em Londres explica que o indulto reacendeu o temor de que o processo eleitoral no Brasil poderá ser confuso como a última eleição dos EUA.
A confusão política, explica, faz com que parte dos estrangeiros opte por sair ou reduzir os investimentos no mercado brasileiro.
Um chefe de mesa de câmbio em São Paulo concorda que o noticiário político fez a diferença para o tombo do real nesta sexta.
Estrangeiros, diz, entraram no Brasil em grande volume nos últimos meses de olho nos juros de dois dígitos pagos pela renda fixa atualmente. E, desde então, o episódio entre Bolsonaro e Supremo é considerado por ele o primeiro grande problema político doméstico.
Por isso, explica, alguns estrangeiros preferem sair. E, como a porta de saída é pequena para tantos estrangeiros, explica, o dólar dispara.
Para além do noticiário político brasileiro, o dólar sobe em boa parte dos mercados emergentes – mas em ritmo menos intenso que no Brasil – por causa da sinalização do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA.
Ontem, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que é cogitada uma alta mais forte do juro na reunião marcada para o início de maio. Juro mais alto por lá significa um dólar mais forte, já que mais investidores migrariam atrás da remuneração paga nos EUA.