Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    “Queremos cooperar e aprender com o Brasil”, diz ministro da Arábia Saudita

    Em Entrevista à CNN, Bandar Ibrahim Alkhoraye defende o fortalecimento das relações sauditas com setores estratégicos brasileiros, como o de mineração e farmacêutico

    Emilly BehnkeLeonardo Ribbeiroda CNN , Brasília

    Uma das maiores exportadoras de petróleo do mundo, a Arábia Saudita quer ampliar relações e se tornar um hub logístico e de investimentos no Oriente Médio. Para isso, tem fortalecido parcerias, especialmente no setor de mineração.

    Na visão do ministro da Indústria e Recursos Minerais, Bandar Ibrahim Alkhorayef, os esforços de transição energética passam pela ampliação do uso dos recursos minerais do país. E, segundo ele, o Brasil é um dos modelos para esse processo, assim como para outras áreas como a farmacêutica.

    “A maioria dos setores a gente acha que tem boas capacidades aqui no Brasil para trabalhar. Com a mineração a história é diferente. O Brasil é um país muito bem estabelecido quando se trata de mineração e aqui também queremos ver como podemos cooperar e aprender com a experiência do Brasil”, disse em entrevista à CNN.

    Segundo o ministro, a meta da Arábia Saudita é alcançar 50% de fontes renováveis em sua matriz energética até 2030. Hoje o petróleo representa cerca de 90% das exportações sauditas e 40% de seu Produto Interno Bruto (PIB) total.

    Principal parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio e no norte da África, o país é o maior fornecedor de petróleo para o mercado brasileiro, com 33% do total importado.

    Outro setor de interesse do governo saudita no Brasil é o agronegócio. O país vê uma oportunidade de fornecer fertilizantes, produto do qual o Brasil ainda é dependente de vendas do estrangeiro.

    Na passagem de cinco dias pelo Brasil, além de integrantes do setor privado e representantes do governo, o ministro realizou visitas ao Instituto Butantan e à Embraer. O governo saudita quer investir 100 bilhões de dólares nos próximos seis anos na área de aviação. O país também busca no modelo brasileiro o incentivo para o desenvolvimento de vacinas.

    No cargo desde 2019, é a primeira vez que Alkhorayef vem ao Brasil desde 2000. Antes, esteve no país como empresário.

    Leia a entrevista completa:

    Quais são os objetivos da Arábia Saudita em termos de parcerias internacionais e onde o Brasil está neste processo de expansão de relações geopolíticas?

    Temos um relacionamento muito maior do ponto de vista político, mas também desfrutamos de uma relação comercial de longo prazo que já existe há muito tempo. O Brasil tem contribuído muito para a nossa segurança alimentar na Arábia Saudita, fornecendo muitos produtos, principalmente na área de proteínas e aves.

    Hoje acredito que existe uma grande oportunidade para pensarmos no futuro, sobre como podemos desenvolver esta relação forte do passado. Quando vejo a nossa estratégia industrial e os diferentes setores ou subsetores que temos, eles estão alinhados com foco em 12 setores.

    A maioria desses setores a gente acha que tem boas capacidades aqui no Brasil para trabalhar. Com a mineração a história é diferente. O Brasil é um país muito bem estabelecido quando se trata de mineração e aqui também queremos ver como podemos cooperar e aprender com a experiência do Brasil.

    Quais são esses 12 setores principais?

    Gosto de agrupá-los em 3 grupos. O primeiro grupo está relacionado com a nossa segurança nacional, como segurança alimentar, produtos farmacêuticos, segurança hídrica, defesa, e assim por diante. São áreas onde vemos um grande potencial por causa da demanda local e da capacidade do país para acolher estes setores para nossa segurança nacional, mas também para ajudar os países vizinhos.

    O segundo grupo são produtos relacionados aos nossos recursos naturais ou à nossa vantagem competitiva. Portanto, temos excelentes recursos naturais em petróleo, gás e minerais. Temos uma excelente localização, uma vez que a Arábia Saudita está muito posicionada para alcançar diferentes mercados, por isso aqui estamos falando de coisas como produtos químicos. Como podemos transformar a Arábia Saudita num centro logístico, fazendo parte de soluções globais da cadeia de abastecimento e assim por diante.

    O terceiro grupo de projetos ou subsetores é realmente futuro. Como podemos posicionar a Arábia Saudita para estar preparada para as tendências futuras? Novas tendências. Coisas que conhecemos hoje, como o espaço, a indústria aeroespacial, uma forma de produção verde, renovável, e assim por diante, coisas que não sabemos que virão no futuro, e temos que estar preparados para isso.

    Como a Arábia Saudita tem se preparado para a transição energética?

    Acho que há dois ângulos para isso. Um deles é que temos um plano muito ambicioso de fontes renováveis, que nos permitirá atingir 50% até 2030 e estamos a avançar muito, muito bem neste domínio. A Arábia Saudita, sim, é um país muito forte em petróleo e gás, mas se olharmos para os nossos projetos agora em energias renováveis, os últimos projetos que realizamos em energias renováveis, tanto solares como eólicas, foram muito, muito encorajadores, muito competitivos, e continuaremos a fazê-lo.

    O outro lado do esforço que estamos fazendo está na mineração. Não podemos imaginar uma transição sem minerais, há muitas necessidades, e estamos a trabalhar ativamente como governo para explorar a Arábia Saudita, compreender a quantidade de minerais que temos, como podemos extraí-los, como podemos colaborar com outros países.

    Também globalmente, criamos o Future Mineral Forum , que é um centro para trazer pessoas em Riad, na Arábia Saudita, para discutir as diferentes oportunidades e desafios do setor. O Future Mineral Forum é uma plataforma que reúne governos, setor privado, empresas mineiras, instituições financeiras e universidades, tudo num só lugar para resolver a escassez de minerais e como podemos resolver os desafios e a necessidade de minerais para a transição.

    Como o Brasil pode ajudar nesses esforços?

    O Brasil é um bom parceiro sobre os diferentes setores. O Brasil na mineração especificamente tem uma longa história, um modelo de muito sucesso. Também identificamos o Brasil como parceiro nisso mesmo na nossa primeira iniciativa de investimento. Investimos com a Vale por meio de uma empresa chamada Manara, que é uma JV [joint venture] entre o PIF, Fundo de Investimento Público, e a Ma’aden, que é a maior mineradora [saudita].

    Por outro lado, acreditamos que nossos recursos minerários em fertilizantes em fosfato são um grande ativo onde o Brasil é um grande cliente porque você tem agricultura e isso é realmente um círculo. Vejo que quando olhamos para as sinergias e como os dois países podem complementar-se, é incrível.

    É realmente possível conciliar o desenvolvimento econômico com a sustentabilidade?

    Absolutamente. Nossa lei de investimento em mineração, que foi lançada em 2020, tem grande ênfase em ESG [ Environmental, Social and Governance , em inglês, e Ambiental, Social e Governança, em português], como podemos proteger nosso meio ambiente, como podemos garantir que as atividades de mineração tragam retorno à sociedade, tragam prosperidade econômica e crescimento, e é por isso que estamos muito ousados na adoção de novas tecnologias, como podemos garantir que as tecnologias hoje, que já estão disponíveis em diferentes setores, como podemos trazê-las para suas atividades de cuidado para ter minas mais seguras, mais produtivas, menos uso de energia.

    Sobre os investimentos da Arábia Saudita em aviação, como o Brasil está incluído nesse processo?

    Isso faz parte das atividades que estamos realizando no turismo, por exemplo, sobre como podemos conectar muito mais a Arábia Saudita para ajudar o turismo, para ter negócios. Portanto, vemos um grande potencial.

    Estivemos com a Embraer conhecendo suas instalações e diferentes capacidades, vendo como podemos ajudar uns aos outros, como podemos trabalhar, quais são os projetos que estão prontos para executar hoje, mas também quais são planos de longo prazo. Como podemos coordenar nossos esforços.

    Em relação ao setor alimentício brasileiro, há expectativa de ampliar os investimentos nessa área?

    Acho que o setor alimentício é um ótimo exemplo de como podemos integrar as diferentes capacidades dos dois países. Os fertilizantes são um componente chave da agricultura e somos um dos maiores exportadores de fertilizantes. Aqui no Brasil tem fazendas [produtoras] e a pecuária. Queremos que o processamento também aconteça na Arábia Saudita, então é um círculo completo de como podemos utilizar todas as capacidades.

    Quando o processamento for feito na Arábia Saudita também podemos alcançar maior e melhor segurança alimentar e ajudar as empresas a alcançarem diferentes mercados onde a Arábia Saudita pode ser mais facilmente utilizada para chegar a países da África, claro, Oriente Médio e assim por diante. Então, é isso que eu acho hoje: como integrar melhor?

    Nós, como governo, estamos ouvindo a Europa, as grandes empresas para compreender as suas necessidades também, porque quando se chega a uma determinada fase de dimensão, é necessário mais investimento em logística, por exemplo. Como podemos melhorar os nossos portos, o nosso sistema ferroviário, as nossas estradas, infraestrutura em geral. É aqui que vemos mais cooperação acontecendo com o Brasil e as empresas brasileiras.

    Sobre a busca por segurança farmacêutica e sanitária da Arábia Saudita, como o Brasil pode contribuir?

    Acho que a produção farmacêutica e de vacinas é muito interessante. Fui solicitado pelo governo para identificar locais que fabricam vacinas e produtos biofarmacêuticos.

    O exemplo brasileiro é um ótimo para olhar e considerar duplicar de alguma forma na Arábia Saudita e é por isso que na verdade minha primeira visita foi ao [Instituto] Butantan.

    Foi ótimo para ver realmente como está acontecendo toda a integração entre a ciência, a pesquisa e a fabricação, o que fez um país como o Brasil se tornasse autossuficiente em vacinas e alguns tipos de medicamentos.

    Como tem sido a agenda no Brasil?

    Em São Paulo tivemos uma mesa redonda com empresas brasileiras interessadas, nossa equipe explicou a eles a estratégia industrial, a estratégia de mineração.

    Depois, tivemos também uma reunião para responder algumas perguntas e nos reunimos com as organizações farmacêuticas e de dispositivos médicos, de aviação e assim por diante.

    O próximo destino é o Chile. Os investimentos e avanços no setor mineral também serão discutidos na visita?

    Definitivamente. E estamos promovendo cada vez mais a contribuição de ambos, Chile e Brasil, para o nosso Fórum Mineral do Futuro.

    Acreditamos que é uma ótima plataforma para trabalhar. Isso conectará todos, reunirá a comunidade da mineração em um só lugar, o que é ótimo. O Chile é outro exemplo de sucesso e contribuição da mineração para a economia da sociedade e também estou ansioso por essa visita.

    Tópicos