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    Queda menor do Agro no PIB do 2º tri surpreende e mostra setor forte, dizem economistas

    Setor registrou recuo de 0,9% no período após forte avanço no trimestre anterior; especialistas apontam "ajuste sazional"

    Diego MendesJoão Nakamurada CNN , São Paulo

    O setor agropecuário foi mais uma vez um ponto de destaque no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo semestre, divulgado nesta sexta-feira (1º), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mercado estava precificando uma queda mais acentuada, com expectativas de uma redução de cerca de 3,5%.

    No segundo trimestre de 2023, apesar do ligeiro declínio, o desempenho do setor agropecuário manteve-se sólido. Especialistas consultados pela CNN explica que essa queda está relacionada ao período de entressafra, quando a produção agrícola tende a desacelerar.

    No entanto, o recuo não indica necessariamente um problema estrutural, mas sim uma fase natural do ciclo agrícola.

    Veja também: Haddad: Projeção atual para o PIB é três vezes maior que estimativas do mercado no início do ano

    A agropecuária foi o único dos três grandes setores da economia a recuar no trimestre (-0,9%). A retração vem após o avanço de 21,0% no primeiro trimestre e se deve, principalmente, à base de comparação elevada.

    Na comparação anual, por sua vez, a agropecuária cresceu 17,0%, o melhor resultado entre os setores.

    Segundo Daniel Abrahão, economista e sócio na iHUB Investimentos, no primeiro trimestre, o agronegócio se destacou como o principal motor da economia, impulsionando fortemente o crescimento. No entanto, neste último relatório, observamos uma queda nesse setor.

    “A queda de 0,9% representa, em grande parte, uma acomodação após o impressionante crescimento de 21% registrado no trimestre anterior. Esse crescimento excepcional foi impulsionado por uma safra recorde, marcando a maior alta no setor desde 1996. No segundo trimestre de 2023, apesar do ligeiro declínio, o desempenho do setor agropecuário manteve-se sólido.”

    Cenário agropecuário

    O pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro) Felippe Serigatti explica que em 2023 o Brasil colheu uma “senhora super safra”, tanto no primeiro quanto no segundo semestre.

    De acordo com ele, no primeiro trimestre é normal que seja maior o volume de colheita. Este período é conhecido como safra de verão.

    No segundo trimestre, o setor teve uma safra especial e o destaque foi o milho. Como se conseguiu colher uma boa safra de verão até sem atraso, foi possível também plantar o grão dentro da janela adequada.

    “O agro conseguiu colher boa parte desse milho ainda no segundo trimestre, pois não pegou tanto o período de seca que normalmente acontece nesses meses. Portanto, comparando o segundo trimestre desse ano com o segundo do ano passado, se vê que a safra de 2023 foi muito superior. Pelos números do PIB, foi 17% maior que a de 2022”.

    Mas, se comparar a safra do segundo trimestre com a primeira, foi ligeiramente menor. Porém, segundo o pesquisador, está se comparando cenários distintos.

    “Mesmo que você tente passar um filtro para fazer o ajuste sazonal, esse ajuste não fica perfeito. A gente está trabalhando simplesmente com a maior safra da nossa história. Então, o filtro sazonal não vai conseguir capturar adequadamente este resultado. Foi um bom número e, mesmo que tenha tido essa contração, vinha na variação trimestral. E isso é muito mais uma deficiência do ajuste sazonal comparando a segunda safra com safra de verão”, explica.

    Sergatti destaca também que, além do milho, outras culturas ajudaram para os bons números do setor: café, algodão e um resíduo de soja.

    “O grosso foi o milho, mas podemos também considerar o plantio de café, que é uma cultura de bianualidade — uma característica própria da planta. Ou seja, como o ano passado foi fraco, este ano a safra foi mais forte para o café.”

    Pelo lado do algodão, o pesquisador pontua que é uma commodity de cultura temporária. Em 2023, mesmo o preço não estando em um bom patamar, a produção se destacou e refletiu diretamente no resultado do PIB deste trimestre.

    “O Brasil é o principal exportador para o mercado internacional de soja, milho e café e um importante fornecedor de algodão para o resto do mundo. O que acontece aqui no país, naturalmente reflete nos preços. Ou seja, o principal produtor exportador, colhendo uma super safra, aumenta a quantidade de oferta desses produtos. Naturalmente, o preço cai e a procura e compra por outros países aumenta”. 

    Felippe Sergatti

    Para o final do ano, o especialista afirma que as expectativas já estão precificadas. “O termômetro do PIB para o agro são os dois primeiros trimestres e este ano já se consolidou como positivo. Os próximos trimestres, naturalmente, viram mais baixo porque não indicarão produção, uma vez que o setor entra num período de plantio. Esse é o ciclo”, conclui Sergatti.

     

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