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    Previsão de deflação é fato, mas fruto de medida artificial, diz pesquisador da FGV Ibre

    Para Samuel Pessôa, pressão inflacionária continuará até o ano que vem

    Daniel ReisLayane Serranoda CNN

    Apesar da previsão de deflação no próximo mês, a alta de preços deve permanecer em 2023, de acordo com o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) Samuel Pessôa. Para o professor, a queda que será observada nas próximas semanas é fruto de uma medida “artificial”.

    “Essa previsão de deflação é um fato, mas um fato fruto de uma medida artificial. Não tem deflação real. A pressão inflacionária está conosco e continuará conosco até o ano que vem. O que acontece é que ele [o governo] fez algumas medidas, umas mais corretas outras nem tanto, que reduziram a alíquota de impostos”, diz Pessôa.

    Ele explica que, como o custo final de um produto tem a adição dos impostos, a redução de alguns tributos, naturalmente, faz o valor a ser pago pelo consumidor cair. No entanto, isso não significa que a alta de preços cessará no médio prazo. “É um efeito tópico, não é recorrente, é uma vez só, e não diminuirá a pressão inflacionária”, avalia.

    Para o pesquisador, a inflação permanecerá no país até meados ou até o final do ano de 2023, a depender de como as coisas transcorreram. Além disso, cita que a inflação real é ainda maior do que a divulgada pelo IBGE. “O índice do IBGE é sensibilizado por uma série de medidas tópicas, de redução de impostos que foram tomadas, mas que ocorrem uma vez só”, pontua Pessôa.

    Ele afirma que a economia brasileira vem sendo impactada por duas vertentes no atual momento. O primeiro, segundo o economista, é que o cenário de crescimento está melhor do que o esperado no ano passado. “Conjuntamente com o crescimento mais forte, o emprego tem vindo bem, tem surpreendido. A gente deve fechar o ano com uma taxa de desemprego talvez abaixo de 9,5%.”, afirma.

    No entanto, a inflação persistente, acentuada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que aumentou os preços dos combustíveis e do alimento no mundo inteiro, demonstra resiliência, diz o professor. E, segundo ele, no caso das pessoas com menor poder aquisitivo, a alta é ainda mais sentida.

    Governo precisará aprender com erros do passado

    Para Pessôa quem assumir a Presidência em 2023 terá que rever as contas públicas e limitar gastos classificados por ele como “eleitoreiros”.

    “Ano que vem será um ano difícil, porque tem ciclo político na despesa pública. O atual governo aprovou várias medidas que têm um impacto grande sobre o gasto público e elas terão que ser revertidas no ano que vem”, diz o professor.

    Segundo ele, o governante deverá pensar em construir condições para um ciclo econômico, mas também em como fazer esse ciclo durar. O economista cita que depois do “melhor período da economia brasileira” – entre 2002 e 2012, quando “crescemos com qualidade, a desigualdade caindo e o bem estar da população melhorando” – o país tem experimentado a “ maior crise da nossa história. “Crise essa que a gente ainda não se recuperou”.

    Para Pessôa, essa crise reflete erros domésticos cometidos pelos governantes. O primeiro, segundo ele, foi a intervenção do estado na economia, o qual classifica como “essencialmente errado”, com a política das empresas “Campeãs Nacionais” e de “muito BNDES”.

    O segundo, para o professor, foi o aumento real do salário mínimo, uma política, em tese, correta em sua avaliação. “Mas erramos na dose, foi rápida demais”. “O problema é que quando a gente faz essa política a uma velocidade rápida demais a gente acaba comprometendo as contas públicas. E quando a gente compromete as contas públicas, a gente acaba levando um tombo grande”, diz, afirmando que o salário mínimo indexa os principais programas sociais do país.

    Para 2023, quem assumir enfrentará, ainda, um cenário fiscal desafiador. “A gente ainda tem um buraco fiscal. Nós ainda não temos uma situação fiscal que garanta que a dívida pública não continue a crescer”, pontua Pessôa.

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