Piora da pandemia pode alterar ritmo de recuperação do Brasil, diz Bradesco
Cenário mais provável ainda é o de efetividade do processo de vacinação e reabertura da economia, mas pode ter que ser revisto
O agravamento da pandemia pode alterar o cenário de recuperação em alguns indicadores de atividade econômica do Brasil e as projeções vão depender da evolução da doença e do processo de vacinação, disse o Bradesco em nota com data desta sexta-feira.
“Por ora, o cenário mais provável segue sendo o de efetividade do processo de vacinação e reabertura da economia ao longo do ano, mas o timing dessa retomada ficou mais incerto”, disse o banco. “Logo, as projeções das demais variáveis do cenário também passaram a apresentar maior variância, em especial em função da possível resposta de política econômica a esse quadro”, completou.
Leia também:
Hapvida propõe fusão com a Intermédica, o que criaria uma empresa de R$ 100 bi
Saiba quais ações têm impulsionado alta da bolsa no ano e se isso deve se manter
O Bradesco destacou que o comportamento das contas públicas seguirá como ponto de atenção neste ano. O banco avaliou que, apesar de os piores cenários para a dívida pública não terem se materializado, o cumprimento do teto dos gastos continua desafiador e as despesas obrigatórias devem ser pressionadas pela inflação mais elevada ao final de 2020.
“Assim, reformas que foquem em gastos obrigatórios são ainda mais fundamentais para garantirem a sustentabilidade da dívida à frente, especialmente se houver necessidade de extensão de algum tipo de auxílio focalizado caso a pandemia se agrave”, afirmou a equipe de economistas do Bradesco, chefiada por Fernando Honorato.
Em suas contas, o Produto Interno Bruto (PIB) terá alta de 3,9% em 2021, depois de queda estimada de 4,5% no ano passado. Retomada do emprego, ciclo de recomposição de estoques, migração de consumo de bens para serviços e utilização da poupança circunstancial puxarão o crescimento, assim como o crédito.
Em relação à política monetária, o Bradesco disse ser “muito provável” que o Banco Central (BC) inicie um processo de “normalização” do patamar de juros no segundo semestre, com a Selic saindo dos atuais 2% (mínima histórica) para 4%. Isso ocorreria mesmo com a inflação medida pelo IPCA ficando em 3,30%, abaixo da meta perseguida pelo BC para este ano (3,75%).
“Em um cenário de recuperação da atividade, o elevado grau de afrouxamento da política monetária –o próprio Banco Central estima o juro real neutro em 3,0%– e o gradativo aumento de relevância das projeções de inflação de 2022 ao longo deste ano devem levar o Copom a elevar a Selic”, disse o Bradesco.
Do lado do câmbio, o banco acredita que o real seguirá a reduzir o gap com os pares e encerrar o ano em R$ 5,00, cenário que pressupõe manutenção do teto de gastos, continuidade de retomada da atividade e início da normalização monetária.
Mas o risco de frustração com o crescimento global e doméstico aumentou recentemente, diante da piora da pandemia, o que pode limitar uma apreciação do câmbio neste início de ano.
“O mesmo raciocínio é válido caso haja desvios da agenda de consolidação fiscal, resposta inadequada ao agravamento da pandemia ou atraso relevante no processo de vacinação. Nesses casos, as incertezas sobre o cenário tendem a prevalecer e levar o real a ter um desempenho novamente pior do que os pares”, concluiu o banco.