Petroleiras enfrentam “seca” de novas áreas comercialmente viáveis no pré-sal brasileiro
Apenas dois novos campos de petróleo foram declarados comerciais no Brasil em 2022, o menor número em duas décadas, segundo dados oficiais
Apenas dois novos campos de petróleo foram declarados comerciais no Brasil em 2022, o menor número em duas décadas, segundo dados oficiais. Ambos estão fora das bacias de Campos e de Santos, as mais produtivas do país, onde também não houve nenhuma notificação de descoberta offshore [em alto mar].
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a última declaração de comercialidade “relevante” ocorreu em 2019, no campo de Bacalhau — localizado a 185 km da costa de Ilhabela (SP). Ele é operado pela petroleira norueguesa Equinor e deverá produzir 220 mil barris por dia quando estiver em pleno funcionamento.
Em 2023, não houve novas declarações de comercialidade, que que marca o fim da fase de exploração e o início da etapa de desenvolvimento da produção de uma área. Na prática, é quando uma companhia manifesta oficialmente a intenção de desenvolver um campo de petróleo.
O sistema de acompanhamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indica, nos últimos anos, que as bacias de Sergipe e do Recôncavo concentraram as principais declarações de comercialidade. Elas têm, no entanto, um potencial de produção mais modesto.
Isso aponta, segundo funcionários do governo ouvidos reservadamente pela CNN, para um “esgotamento” exploratório no pré-sal. Muitos blocos leiloados pelo regime de partilha, nas cinco rodadas entre 2017 e 2019, não tiveram o resultado esperado.
As projeções do Ministério de Minas e Energia mostram que o óleo-lucro da União (a parcela detida pelo governo nos contratos de partilha do pré-sal) subirá gradativamente até 2031. Chegam a um pico de 920 mil barris por dia de petróleo. Daí em diante, no entanto, começam a cair.
Nos bastidores, uma autoridade do setor comenta que tem havido ainda muitas declarações de comercialidade postergadas por serem blocos em águas ultraprofundas, demandantes de infraestrutura de escoamento ainda inexistente, com tecnologias caras para o desenvolvimento da produção.
Para setores do governo, isso reforça a ideia de que é preciso acelerar a frente exploratória na Margem Equatorial (também chamada de foz do Amazonas), considerada o “novo pré-sal”. O maior potencial de produção a partir da próxima década estaria no litoral norte do país e ajudaria a financiar o processo de transição energética, afirmam essas alas.