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    ONU eleva para 0,9% previsão de crescimento do PIB do Brasil para 2023

    Se confirmado, o resultado representaria uma forte desaceleração da maior economia da América Latina, após o avanço de 2,9% em 2022

    Maria Lígia Barros, especial para a AE, do Estadão Conteúdo

    A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) elevou a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil este ano, de 0,6% a 0,9%.

    Se confirmado, o resultado representaria uma forte desaceleração da maior economia da América Latina, após o avanço de 2,9% em 2022, que superou as estimativas da Unctad por alta de 1,8%.

    Segundo a entidade, o desempenho no ano passado refletiu a expansão fiscal e a recuperação dos preços de commodities, dois fatores que não estarão mais em vigor.

    O crescimento mais devagar deve resultar também de uma política fiscal mais restritiva somada aos efeitos atrasados do aperto monetário conduzido pelo Banco Central (BC) em 2022, disse a Unctad em relatório.

    Crescimento econômico global

    A entidade também estima que o crescimento global deverá ser menor do que anteriormente projetado, sinalizando uma potencial virada econômica. A previsão de expansão global neste ano foi revisada de 2,2% para 2,1%.

    Os riscos estão “fortemente no lado negativo”, alerta. As condições macroeconômicas se encontram em um equilíbrio precário conforme as políticas monetárias e fiscais se ajustam à desaceleração do crescimento e o desdobramento de um ano de aumento nas taxas de juros.

    Argentina

    A economia da Argentina também deverá desacelerar neste ano. A Unctad espera uma contração de 0,5% (ante expectativa anterior de retração de 0,8%) devido à queda na produção agrícola por razões climáticas e ao aumento na incerteza monetária e cambial motivada pela inflação crescente e as eleições presidenciais no próximo outubro.

    No ano passado, a Argentina cresceu 5,4%, acima da projeção de 4,1%, em razão de “condições internacionais favoráveis”.

    Falha no combate às causas da inflação

    Segundo a agência, a escolha dos principais bancos centrais de aumentar taxas de juros rapidamente falhou em combater as maiores causas de inflação – preços internacionais de energia e de commodities alimentícias.

    Além disso, a decisão teria contribuído para reduzir ainda mais a flexibilidade fiscal dos governos em países em desenvolvimento, disse a instituição.

    A Unctad destacou que a adoção de um conjunto mais amplo de instrumentos de política para lidar com a inflação, para além das taxas de juros, “parece ser o movimento certo”.

    Isso ajudaria, além de tudo, a “aliviar a pressão financeira indevida enfrentada por muitos países em desenvolvimento à medida que as taxas de juros aumentam”, afirmou.

    “Uma reconsideração das ferramentas de política para a estabilidade de preços é necessária, mesmo que os preços das commodities comecem a cair. Na verdade, preços extremamente baixos podem ser igualmente prejudiciais e devem ser evitados”, destacou.

    A Unctad ainda disse que a continuação da política de aumento de taxas de juros pelos bancos centrais de países desenvolvidos poderá aumentar o fardo financeiro dos países em desenvolvimento que enfrentam a ameaça da fuga de capitais e de quedas cambiais.

    A instituição alertou ainda que dificuldades financeiras em países em desenvolvimento e em instituições financeiras privadas em países desenvolvidos, relacionadas ao aumento nos custos de empréstimo, poderão provocar uma crise capaz de se alastrar para a economia real.

    Unctad pede apoio à gestão de dívida de países em desenvolvimento para evitar década perdida

    Para a entidade, a comunidade internacional precisa mobilizar uma robusta resposta ao crescente endividamento de países em desenvolvimento, para evitar que essas economias enfrentem uma nova “década perdida”.

    Ela explica que a combinação de choques econômicos — da pandemia da Covid-19 à guerra na Ucrânia — restringiu a capacidade de governos de obter recursos. O fenômeno foi particularmente amplificado pela escalada dos juros, a instabilidade de taxas de câmbio e a volatilidade do fluxo de capital.

    “Essas dificuldades são ainda agravadas pelo fato de que, em muitos casos, os investidores estrangeiros estão retirando seu capital, as reservas estrangeiras diminuíram e, finalmente, os custos dos empréstimos aumentaram”, ressalta a instituição.

    A solução para esse problema envolve uma ampla reavaliação da arquitetura global de dívida, na visão da Unctad.

    Segundo o órgão, o apoio de liquidez a bancos implementado pelos Estados Unidos após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), no mês passado, supera os recursos oferecidos a países em desenvolvimento por meio dos Saques de Direitos Especiais (SDR, na sigla em inglês).

    Por isso, a Unctad defende aumento das emissões de SDRs, diante de projeções que apontam para uma perda combinada de US$ 800 bilhões em renda para as nações em desenvolvimento.

    A instituição argumenta que os mecanismos para lidar com crises de dívidas precisam ser justos tanto para credores quanto para os países. Também advoga pela criação de uma base global que reúna dados sobre os passivos dessas economias.

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