Onde foram parar as bicicletas da Yellow? Leilões vendem bikes por R$ 380
É possível encontrar a famosa bicicleta amarela em sites de leilão pela internet; Grin, dona da Yellow, deve voltar às operações somente com patinetes
Bastava caminhar um pouco pelos grandes centros, especialmente em São Paulo, para esbarrar com uma bicicleta amarela da Yellow. Ao custo de R$ 1, era possível andar por 15 minutos pela cidade, facilitando pequenos deslocamentos, como aqueles entre a residência até uma estação do metrô, por exemplo.
O cenário mudou completamente mesmo antes da pandemia. Em janeiro do ano passado, a empresa, por problemas financeiros, paralisou as suas operações e retirou as suas bicicletas das ruas. Mais tarde, viria o pedido de recuperação judicial da Grin, que foi a empresa resultante da fusão entre Yellow com a Grow, no começo de 2019. Detalhe: a startup chegou a receber mais de US$ 150 milhões em investimentos,
Porém, algumas delas estão reaparecendo – mesmo que aos poucos. Diversos sites de leilão começam a vender as bicicletas por valores até que considerados módicos perto de bicicletas convencionais. O site de leilões Freitas Leiloeiro, por exemplo, tem o lance mínimo de R$ 380 por unidade. O leilão acontece até o dia 25 de fevereiro.
Logo, diversas bicicletarias estão aproveitando a oportunidade. A Cia Bike, localizada no bairro da Santa Cecília, já comprou mais de 350 bicicletas da Yellow por R$ 350 cada uma em leilões. Victor Hugo Duran, dono da Cia Bike, conseguiu vender as mesmas bicicletas por R$ 550. E, agora, só possui mais 100 à disposição.
“É uma bicicleta forte e que funciona para passeios leves. É uma ótima pedida para levar para a praia, por exemplo”, diz ele.
Mas quem está vendendo essas bicicletas? Como a Yellow entrou em recuperação judicial, qualquer venda feita por ela deveria destinar o dinheiro para o pagamento das dívidas.
Segundo Paulo Campana, advogado do escritório Veirano, que está tocando a recuperação judicial da startup, as vendas não estão sendo feitas pela Grin. A Caloi, fabricante das bicicletas, que está tocando as vendas. Procurada, a Caloi não quis comentar.
Bicicleta e patinetes da Grin: Só um deles deve voltar às ruas / Foto: Divulgação/Grin
A Caloi, aliás, é a maior credora na recuperação judicial da Grow. Dos R$ 38 milhões devidos a diversos fornecedores e também trabalhadores, a Caloi tem a receber R$ 15 milhões da Grin.
No total, segundo o plano de recuperação judicial, a empresa tem R$ 3,7 milhões em ativos a ser vendidos – entre bicicletas e patinetes.
Durante o processo de retirada das bicicletas, diversas foram destruídas por causa do mau estado. E vídeos pipocaram nas redes sociais.
Futuro da Grin
De acordo com Campana, a empresa não vai parar as operações – para tranquilizar credores que ainda têm dinheiro a receber. A ideia é, após a pandemia passar, retornar apenas com os patinetes, que seriam mais rentáveis do que as bicicletas. Então, se quiser uma bicicleta da Yellow, é melhor aproveitar o leilão.
Porém, sob a ótica dos negócios, o patinete também precisa se provar como rentável. A Uber, por exemplo, desistiu da empreitada em julho de 2020, menos de cinco meses depois de entrar nesse mercado.
Explica-se: além do custo alto de adquirir tantos produtos, o preço de manutenção também é caro. Quem mora em grandes metrópoles deve lembrar de bicicletas e patinetes jogados na rua, muitos deles bem avariados por mau uso.
Para quem não lembra, a Yellow, que foi fundada por Eduardo Musa, Ariel Lambrecht e Renato Freitas, antigos fundadores do aplicativo 99 em agosto de 2018. Cinco meses depois, anunciaram a fusão com a mexicana Grin, que tinha a especialidade em patinetes.
A expectativa era que logo a empresa se tornasse um unicórnio (startup avaliada em US$ 1 bilhão). Mas uma série de problemas financeiros e de gestão, como brigas entre os acionistas, causou a derrocada da companhia.
Bicicleta dá lucro?
Um modelo que, até agora, tem se mostrado resiliente é o da startup Tembici. A companhia que surgiu como um projeto patrocinado pelo banco Itaú, ganhou pernas e pedalou sozinha (com o perdão do trocadilho). Hoje, atua em cinco cidades diferentes no Brasil, além de Buenos Aires, na Argentina, e Santiago, no Chile.
O modelo dela é diferente da Yellow. Em vez de deixar a bicicleta em qualquer canto, o usuário é obrigado a estacioná-la em uma estação após o uso. Menos conveniente para o cliente, mas mais rentável para a empresa: existem menos avarias, em média, em suas bicicletas. Outro detalhe importante é que a empresa sempre tem patrocinadores em suas estações e bicicletas, aumentando os ganhos.
Em junho desse ano, a empresa levantou R$ 270 milhões em uma rodada de investimentos. O dinheiro está sendo utilizado na expansão e na criação de novos negócios – como uma linha de bicicletas convencionais e elétricas para entregadores do aplicativo iFood, além da expansão das versões movidas à eletricidade para usuários convencionais.
Segundo Tomás Martins, CEO da Tembici, os negócios vão bem e, inclusive, novos aportes devem aparecer por aí.