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    O pior para a indústria já passou – mas a retomada depende do consumo

    A retração na produção industrial em abril ficou acima dos dois dígitos em 12 das 15 áreas pesquisadas. Os principais estados tiveram as maiores quedas

    Marcelo Sakate, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O fundo do poço para a indústria nacional ficou para trás em abril, mas o caminho para a recuperação das perdas vai além da reativação das linhas de produção, algo que começa a acontecer em diferentes setores e regiões. É o que afirmam analistas sobre os estados mais afetados pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus, conforme números divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (dia 9).

    A retração na produção industrial em abril ficou acima dos dois dígitos em 12 das 15 áreas pesquisadas. Os estados com maior peso na atividade do setor no país estiveram entre aqueles com a maior queda. São Paulo, que responde por cerca de um terço da indústria nacional, sofreu um recuo de 23,2% em abril na comparação com março. Foi o pior resultado desde o início da série histórica do IBGE, em 2002. 

    O Sensor da Fiesp, um indicador composto da entidade que agrega informações sobre mercado, vendas, emprego, investimentos e estoques, subiu de 34,6 pontos em abril para 40,7 pontos em maio. Antes da chegada da pandemia, ele oscilava em torno de 50 pontos, o que sinalizava equilíbrio nas expectativas. Resultados acima dos 50 pontos indicam expectativas positivas; abaixo desse patamar, negativas.

    “Ao que tudo indica, o pior momento passou para a indústria paulista. Mas a questão agora é saber qual será o nível de demanda na nova normalidade”, afirma o economista André Rebelo, assessor de Assuntos Estratégicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). 

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    “Muita gente perdeu o emprego e a renda. Como fica a demanda? Mas não é só uma questão salarial. Como ficam os pequenos negócios informais que compram do setor? E as indústrias que vendem equipamentos para lojas que fecharam?”, explica Rebelo ao se referir ao elevado grau de incertezas. 

    O tombo em São Paulo foi puxado por dois setores: o automotivo e o de máquinas e equipamentos. O primeiro começou a se recuperar em maio, conforme dados já divulgados pela Anfavea (a associação que reúne montadoras com fábricas no país), mas esbarra na crise ainda generalizada de aplicativos de transporte e de locadoras, que se tornaram uma importante fonte de demanda nos últimos anos. 

    “As medidas de isolamento social não afetam a produção apenas pelo lado da oferta mas também pela demanda”, resume Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria. Segundo ele, a retomada gradual da produção vai esbarrar no crescimento tímido da demanda no contexto atual de “baixo dinamismo do mercado de trabalho e de baixa confiança dos consumidores diante das incertezas”. 

    “O estado de São Paulo deve ser um dos mais afetados ao longo do ano, dada a elevada importância de setores pró-cíclicos, ou seja, que dependem diretamente da atividade econômica”, diz Assis.

    Rio de Janeiro destoa

    O Rio de Janeiro, terceiro estado com maior peso (de 10,5%) na indústria do país, registrou encolhimento de 13,9% na atividade. Dois setores puxaram o resultado negativo: a indústria extrativa (de petróleo e gás) e também a automotiva. A primeira foi impactada pela queda tanto na demanda externa como interna, na medida em que as restrições à circulação de pessoas derrubaram o consumo de combustíveis.

    No acumulado do ano, de janeiro a abril, no entanto, a produção industrial no Rio ainda é 6,1% maior na comparação com o mesmo período de 2019. Trata-se do estado com melhor resultado, segundo o IBGE. Mas o que poderia ser motivo de alívio deve ser encarado com cautela, afirma Jonathas Goulart, gerente de Estudos Econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).

    “A indústria no estado já enfrentava um momento difícil, ainda sob efeitos do baixo crescimento em anos anteriores e da crise em parceiros comerciais importantes, como a Argentina, um destino importante para as exportações de carros. A base de comparação era baixa”, afirma Goulart. Segundo ele, a projeção da Firjan é que o setor encerre este ano com uma queda de 6,3% na comparação com 2019.

    O economista da Firjan afirma esperar uma rápida recuperação da produção industrial no segundo semestre em decorrência do aumento da circulação de pessoas, mas diz que a intensidade da retomada vai depender do ambiente político na esfera estadual e nacional. Segundo ele, será necessário um “equilíbrio político” que permita a aprovação de reformas e a volta da confiança de empresários e consumidores.

    Problemas no Sul

    “É uma tempestade perfeita”, resume André Nunes de Nunes, economista-chefe da Fiergs (Federação dos Estados do Rio Grande do Sul), sobre a situação enfrentada pela economia gaúcha. “Além da pandemia do coronavírus, o estado teve uma estiagem muito forte. A produção agropecuária caiu bastante, deixando o produtor sem renda. E isso impactou a indústria de máquinas e implementos agrícolas”, diz.

    No estado, que tem o quinto maior peso na produção nacional (com 6,8% do total), a queda em abril chegou a 21%. Mais uma vez, o setor automotivo (incluindo caminhões, ônibus e carrocerias) foi um dos que puxaram a retração, junto com máquinas e equipamentos.  “Já as empresas de couro e calçados sofreram com as lojas fechadas e também com a queda das exportações”, afirma o economista da Fiergs.

    Diante de tamanha queda, as indústrias fazem as contas para atravessar a crise. Rebelo, da Fiesp, elogia as medidas do governo de flexibilização da legislação trabalhista e de adiamento do pagamento de tributos, mas ressalta que o acesso ao crédito ainda é a principal necessidade das indústrias.

    Um estudo da entidade estimou em R$ 850 milhões o montante que as empresas precisariam de capital de giro nos três primeiros meses da pandemia, mas, segundo Rebelo, apenas R$ 200 milhões teriam sido emprestados.

    Um dos reflexos é a queda do emprego formal no setor, conhecido por pagar salários médios mais altos do que no comércio e no segmento de serviços. Mais de 228 mil empregos com carteira assinada foram perdidos nos dois primeiros meses (março e abril) da crise na indústria, segundo dados do Caged (do governo). 

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