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    Novo Caged aponta criação de 1,4 milhão de vagas nos primeiros trimestres dos últimos três anos

    Especialistas consideram, contudo, que mudança de metodologia impede comparação com anos anteriores

    João Pedro Malardo CNN Brasil BusinessSalma Freuada CNN , em São Paulo

    Os dados do último Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados na quinta-feira (28) apontam para mais um primeiro trimestre de alta da criação de novas vagas formais de trabalho, o terceiro ano seguido em que o período registra alta.

    De acordo o Ministério da Economia, se somadas as novas vagas dos três primeiros meses dos anos de 2020, 2021 e 2022, foram 1.454.310 postos de trabalho criados. No entanto, uma imagem que circula nas redes sociais compara a apresentação com os primeiros trimestres de anos anteriores. Entre 2015 e 2017, por exemplo, o Caged aponta que o país retrocedeu na criação de vagas.

    Caged
    Imagem compartilhada nas redes sociais compara dados do Caged mesmo após mudança de metodologia / Twitter/Reprodução

    Segundo especialistas consultados pelo CNN Brasil Business, a comparação não é válida porque o governo federal alterou, a partir de 2020, a metodologia usada para calcular mensalmente o Caged, cujo saldo de admissões e desligamentos mostra se houve mais geração ou fechamento de vagas de emprego.

    O Ministério do Trabalho e Previdência confirmou à CNN que o gráfico foi retirado de uma apresentação da pasta, mas reiterou que os comentários atribuídos [nas redes] não são do ministério. A pasta ainda disse que destacou a diferença de metodologia entre as duas séries.

    “O slide apresenta clara separação entre Caged e Novo Caged. Nele constam a distinção com um traço pontilhado, cores diferentes e uma nota de rodapé como elementos de diferenciação entre a série do Caged e a série do Novo Caged. Traz ainda um link para uma nota técnica em que consta o detalhamento das alterações metodológicas entre as duas séries”, disse o ministério, em nota, à CNN.

    Segundo o ministério, há um conjunto de elementos para “garantir a transparência” das mudanças entre as séries. A imagem, no entanto, está sendo usada nas redes sociais para comparar os índices de emprego formal nos governos de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

    Dados mais completos

    Embora o gráfico seja do Ministério do Trabalho e Previdência, a pasta informou à CNN que há dados mais completos sobre o emprego formal no Brasil nos anos anteriores ao Novo Caged. As informações mais atualizados confirmam a tendência do gráfico em circulação, mas com números distintos.

    Os dados, contendo todo o conjunto de declarações fora do prazo, foram informados à CNN:

    Metodologia mudou no governo Bolsonaro

    Lucas Godoi, economista da GO Associados, afirma que as metodologias do antigo Caged e do novo “não são comparáveis”. A principal diferença, segundo ele, é que o novo Caged trabalha com um conjunto mais amplo de informações.

    “Ele puxa dados também do e-Social e do Empregador WEB, não só do Caged, e os contratos temporários têm que ser obrigatoriamente registrados no e-Social. No Caged era opcional, e isso deu uma diferença significativa”, diz.

    Godoi cita ainda que, durante a pandemia, muitas empresas fecharam ou demitiram funcionários, mas demoraram para atualizar o sistema com esses dados, o que gerou temporariamente uma “superestimativa” no saldo de vagas.

    Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, também avalia que a comparação entre os Cageds é inviável, apesar de a nova metodologia aparentar ser mais precisa que a anterior. Ele ainda afirma que existe outro elemento que impede a comparação: as revisões nos dados.

    No início de 2021, por exemplo, o governo federal chegou a divulgar que 2020 encerrou com um saldo positivo de vagas, mesmo com um recuou de 4% do Produto Interno Bruto (PIB). O dado, porém, seria revisto nos meses subsequentes conforme novas informações foram recebidas, e o retrasado possui agora uma perda de mais de 193 mil vagas.

    Godoi afirma também que os efeitos da pandemia sobre a economia foram sentidos depois do mês de março de 2020, incluindo para o emprego. Foi o desempenho ruim nos nove meses subsequentes do ano que explica o resultado positivo no ano seguinte, ou seja, a base de comparação era baixa, logo, com a recuperação no começo de 2021, o aumento fica mais sublinhado.

     

    “Houve uma recuperação em 2021, na antiga metodologia não chegaria a tanto, mas de fato foi um bom resultado. 2022 ainda vai ter as revisões que ocorrem nos meses subsequentes”, ressalta.

    Já em relação à crise entre 2015 e 2017, o economista diz que a recuperação entre 2020 e 2021 acabou sendo mais rápida devido à natureza da crise. Ligada à pandemia, o alívio gerado pela vacinação permitiu uma recuperação acelerada do emprego, com um saldo de geração alto.

    “A crise de 2015 gerou dois anos bem ruins, e a recuperação veio só a partir do segundo trimestre de 2017, foram crises diferentes. Em 2020 a depressão foi bem mais profunda, com perdas de emprego maiores, mas uma retomada bem mais rápida”.

    Barbosa Filho avalia também que “a crise de 2015 teve caráter mais estrutural, e a recuperação na pandemia foi em V porque não era econômica em si, a de 2015 e 2016 teve causa fiscal”. Ele destaca, porém, que mesmo a recuperação em 2021, ou em 2018 e 2019, ainda não foi suficiente para retornar aos patamares anteriores a 2015. “Voltamos para um número muito ruim. Voltamos para uma situação que não era boa, de 2018 e 2019, de crescer pouco. A crise fiscal não está resolvida, ainda tem uma incerteza grande”.

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